O modelo
Até há bem pouco tempo, há apenas alguns anos, uma revelação como a que fez o New Yok Times - Trump não pagou impostos em dez dos últimos quinze anos antes de chegar à Casa Branca, e no ano em que foi eleito, bem como no do primeiro ano ano de mandato, pagou 750 dólares - em tempo de contenda eleitoral na América, era fatal.
Nenhum candidato resistiria a uma revelação destas. Em sociedades desenvolvidas não é muito apreciado que um homem de negócios de sucesso não pague impostos. Na América é ainda menos apreciado que um tipo que se anuncia homem de negócios de sucesso seja um charlatão. Não o rei Midas que se anunciava, mas simplesmente um empresário de projectos falidos, com centenas de milhões de dólares de prejuízos acumulados financiados por dívidas impagáveis.
Já não é assim. Quatro anos da realidade virtual de Trump alteraram isso. O presidente americano não se preocupou rigorosamente nada com a divulgação. E despachou o assunto com resposta chave: fake news!
Aí está. Com fake news constrói a sua realidade virtual, mentira em cima de mentira. Com fake news, com "é mentira", institucionaliza a mentira. Porque, como dizia Dan Coates, um dos vários responsáveis pelos serviços de informação da Casa Branca que Trump despachou ao longo do mandato, “para ele, uma mentira não é uma mentira. É simplesmente o que ele pensa. Não consegue distinguir entre a verdade e a mentira”.
Trump tem estado a tentar construir uma América à sua imagem, que não consiga ela própria distinguir a verdade da mentira. As eleições que aí estão a um mês de distância ditarão a medida do sucesso desse seu modelo.
Para já parece bem maior que nos negócios.