O negócio dos negócios*
Esta foi a semana da Web Summit, que ontem chegou ao fim. Assim é há quatro anos, e assim será por mais nove. Pelo menos!
Não tenho dúvidas sobre a importância deste mega-acontecimento para o país. Acredito que o seu impacto económico directo cubra o investimento público que representa, sem sequer haver necessidade de fazer contas aos ganhos indirectos de imagem e de reputação para o país.
Nada do que diga a seguir colocará em causa o que acabei de dizer.
Dito isto, parece-me inegável que o maior certame mundial de tecnologia e empreendedorismo é, antes de mais, um negócio fabuloso do Sr Paddy Cosgrave e a redenção máxima do empreendedorismo moderno, na sua receita de visão de negócio e inovação, temperadas a preceito – qb - com um fiozinho de pantominice, preparada à parte.
O Estado português entrega-lhe as melhores instalações. Paga-lhe 11 milhões de euros por espectáculo, e oferece-lhe ainda milhares de voluntários, tantos quantos os necessários, ou mais ainda para, de borla, o servir uma plateia de 70 mil almas de todo o mundo, que pagaram pelo bilhete entre 8.500 e 25 mil euros. Acrescente-se-lhe o merchandising, com uma simples camisola fabricada na Irlanda a ser vendida por 850 euros. E uma promoção assegurada pelas caras que contam de todos os cantos do mundo e garantida, de borla, pela cobertura ao minuto de toda a comunicação social, ávida também ela de ser parte daquele todo que a deslumbra.
E tudo isto garantido por 10 anos!
Alguém consegue imaginar melhor negócio?
E o produto? O espectáculo, é de qualidade?
É verdade que tem aqui e ali alguma qualidade, como a abordagem à inteligência artificial e à humanização dos robots, ou aos riscos do desigual poder dos gigantes digitais. Mas na sua maioria é vulgar como a banha da cobra, com pouco mais que tentativas dar rótulo e embalagem de negócio às mais comuns das mais comuns ideias, em encenações a meio caminho entre um festival de Verão, com muita ganza, e uma assembleia evangélica em êxtase.
É assim, o negócio dos negócios… Parabéns Mr Cosgrave!
* A minha crónica de hoje na Cister FM