O novelo da novela
O caso do tratamento das gémeas brasileiras condensa num único volume tudo o que é o funcionamento da sociedade portuguesa.
Na verdade em Portugal a "cunha" é uma instituição, a subserviência é uma forma de vida, o poder não precisa de ser exercido, basta ser exibido, e a política é um "salve-se quem puder" à custa dos jogos de palavras e de descaramento.
Ontem, o Presidente Marcelo - a última das personagens da cena política nacional que se imaginaria apanhado nestes enredos - deixando-nos a ideia, de que já desconfiávamos, que em televisão o humor é mais temível que o jornalismo de investigação (Marcelo "falou" logo no dia a seguir a Ricardo Araújo Pereira ter "pegado no assunto" para dizer o que sempre recusou à TVI/CNN), confirmou-nos tudo isso.
Incluindo o desfaçatez de que ninguém o julgava capaz. De princípio a fim. Abriu a querer convencer-nos que o filho dele - ou de alguém - começa a falar com pai, seja do que for, por "mail". Como se, mesmo que por absurdo, isso tivesse acontecido, não conhecêssemos todos o Marcelo para saber que seria ele próprio a pegar de imediato no telefone a perguntar-lhe o que era aquilo. E fechou a querer convencer-nos que, ao remeter aquele processo - já depois de ter circulado por todas as entidades competentes, e ter sido dado por encerrado em resposta do Hospital de Santa Maria - para o Gabinete de o Primeiro Ministro, simplesmente fez o que faz com todos os milhares de pedidos que diariamente lhe chegam de todo o país.
Pelo que já se conhece, incluindo o que mesmo ainda se não conhecendo já é por demais conhecido, não fossem esses exageros de desfaçatez, e seria fácil concluir que Marcelo fora apenas vítima da utilização do seu nome. Assim, com tantos exageros, fica apenas mais fácil concluir que Marcelo mexeu em tudo com o cuidado de não deixar impressões digitais. Mas deixando-se enrolar num grande novelo.