O paradoxo
A selecção nacional de futebol ganhou na Suécia, e lidera o grupo à frente da França, mesmo que ambas com o pleno da pontuação no fim da segunda jornada. Com os mesmos adversários, e nas mesmas circunstâncias, a selecção nacional sofreu menos um golo no jogo em casa, com a Croácia (4-1, contra 4-2, ontem, dos franceses) e tem mais um golo marcado no jogo fora, com a Suécia (2-0, contra 1-0 dos gauleses no passado sábado).
Ganhar fora numa competição tão apertada como esta, é sempre um bom resultado. Ganhar na Suécia por 2-0 é por isso um bom resultado. Ganhar claramente, sem deixar espaço para dúvidas na justeza do resultado, é mesmo muito bom. No entanto a qualidade da exibição da selecção nacional não teve nada a ver com o que tinha acontecido no sábado passado, frente à Croácia.
A selecção jogou bem menos. E bem menos bem, expondo o paradoxo da presença de Cristiano Ronaldo na equipa. Fernando Santos manteve 10 jogadores que tinham iniciado o jogo com a Croácia. Não mudou mais nada, acrescentou-lhes apenas "o melhor do mundo".
Cristiano Ronaldo respondeu, e fez o que se lhe pedia: golos. E dos bons. Dois golaços, o primeiro num espectacular livre directo, e o segundo, mais espectacular ainda, numa execução soberba a finalizar uma das poucas bem sucedidas jogadas de futebol corrido da equipa. Teve mais uma noite de glória, chegou aos 100 golos pela selecção. E passou aos 101, a oito de um tal iraquiano de que ninguém sabe o nome (não vale ir cabular ao Google) que, com 109, é quem mais golos marcou por uma selecção. E no entanto a equipa não jogou bem...
A pergunta já é se será possível encaixar uma grande exibição de Cristiano Ronaldo numa grande exibição da selecção nacional. Estranhamente a resposta parece que é - não! E é por isso que Fernando Santos repete até à exaustão que "com o melhor do mundo qualquer equipa é mais forte".
As equipas que jogam melhor nem sempre são as mais fortes, é verdade. Mas as que jogam melhor estão sempre mais perto de ser as mais fortes.
Nada disto pretende pôr em causa a presença de Cristiano Ronaldo na selecção. Nem quer dizer que a selecção nacional deveria descartá-lo, impedindo-o de bater o último recorde que tem pela frente. Mas apenas que a incompatibilidade entre a qualidade de Cristiano Ronaldo e a do colectivo da selecção é o grande paradoxo desta selecção.
Não sei como se resolve. Mas não tenho dúvidas que não se resolve com a espécie de "regime de vassalagem ao melhor do mundo" que Fernando Santos lançou.