O preço da frustração
O primeiro jogo da chamada "final four" da Taça da Liga, a última deste "pacote" disputada em Braga, esteve muito longe da festa anunciada, a começar pela adesão do público - apenas 10 mil espectadores no Estádio - e a acabar num final à sul-americana.
Depois do golo da vitória do Braga (2-1), ao minuto 90, Mathieu, o defesa francês do Sporting que apontara o golo da sua equipa, e que acabara de ser batido nas alturas pelo Paulinho naquele golo, de cabeça perdida, parte em direcção ao Ricardo Esgaio, já sem bola, e pontapeia-o. De imediato toda a gente saltou do banco bracarense, revoltada com a atitude do francês e, em resposta, o mesmo sucedeu no banco sportinguista. No fim de cinco minutos à sul-americana, tudo acabou com não sei quantos amarelos e mais dois vermelhos, curiosamente para os dois Eduardo, que estavam nos dois bancos.
Se há jogadores que fervem em pouca água, que, mais maldosos ou menos maldosos, estão sempre prontos para a confusão, Mathieu não é um desses. Pelo contrário, é um jogador maduro (também já tem idade para isso), tranquílo, de quem nunca se esperaria uma reacção daquelas. Como de resto demonstrou, numa atitude de rara nobreza, ao deslocar-se ao balneário do adversário e pedir desculpa pelo seu acto irreflectido.
Mathieu é um dos três melhores jogadores do actual Sporting, e um dos poucos com competência e classe para sustentar as ambições do clube e dos seus adeptos. E o último a ceder à frustração!
A frustração pela sua competência não ser suficiente para compensar a incapacidade alheia. E a frustração pelo caos que o rodeia tornar irrelevante o seu valor e o seu esforço. Não, Silas, o Mathieu não "se sentiu injustiçado". Simplesmente não resistiu mais à sua frustração!
A mesma frustração que faz com que Acuña (mesmo que este seja dos tais "mauzinhos", que fervem em pouca água) passe quase tantos jogos fora como a jogar, e que só não suceda o mesmo com Bruno Fernandes por mera complacência dos árbitros que, rendidos ao seu estatuto de estrela da equipa, tudo lhe permitem.
Ontem foi a vez de, com a nobreza que os outros não têm, Mathieu pagar o preço da frustração.