O que eles dizem que o eleitorado faz
Por Eduardo Louro
Outro dos disparates desta gente que se acha de mente brilhante, espalhada pelas televisões a fazer política disfarçada de comentário - e estou a dar sequência directa ao texto anterior - é que António Costa perdeu as eleições por ter virado à esquerda. Que - na mesma linha - as eleições se ganham ao centro.
Dizem isto há tanto tempo, e tanta vez, que já nem se pode dizer que é errado. Tem que se dizer que a realidade teima em não aderir à sua - deles - verdade.
Vamos lá a ver: não há mais eleitores, e ao contrário do que as televisões quiseram fazer crer - numa noite cheia de embustes televisivos, o folclore á volta da maior queda da abstenção de sempre foi apenas a maior das aldrabices, de que ninguém, depois, pede desculpa - a abstenção subiu, e foi a maior de sempre.
A coligação - mais o PSD nas duas regiões autónomas - ganhou as eleições com 2.060.186 votos, perdendo 740 mil eleitores (de notar que o PSD sozinho, em 2011, obteve mais 86 mil votos que agora, sozinho e com a coligação). O PS, com António Costa virado á esquerda a perder o eleitorado do centro, como pretendem, obteve ontem 1.740.300 votos, mais 182.050 que há quatro anos. O Bloco duplicou a votação, com mais 261 mil votos, e mesmo a CDU acrescentou 3.400 votos - que lhe renderam mais um deputado - ao resultado das anteriores legislativas. Nesta soma de ganhos e perdas perderam-se 300 mil votos para a abstenção, número que não é certamente alheio ao meio milhão de portugueses que tiveram de sair do país nestes quatro anos.
Como é que, olhando para estes resultados, alguém poderá dizer que o PS perdeu as eleições porque Costa virou á esquerda. Ou, pior ainda, como dizem estes especialistas, que perante o perigo de um governo de António António Costa com Catarina Martins e Jerónimo de Sousa como vice-primeiro ministros - onde chega o delírio!!!- o eleitorado correu a votar na coligação.
Aritmeticamente, o PS perdeu as eleições à esquerda. Como é demasidado evidente para se poder dizer o contrário, que as perdeu ao centro. Politicamente é outra história... Mas, essa, não me tenho cansado de aqui trazer.