O que nasce torto...
Diz o povo que "o que nasce torto, tarde, ou nunca, se endireita". Não se sabe ainda se chegará a nascer - parece que sim, que acabará por nascer - mas este acordo de sustentação política da maioria de esquerda no Parlamento está com um parto tão difícil que é grande a probabilidade de nascer torto.
O momento histórico da declaração de intenções tarda em confirmar-se na substância do acordo. Ou dos acordos, e aqui a primeira dificuldade: uma maioria não é apenas a soma maior das partes. Construir uma maioria através de acordos separados com o Bloco e com o PCP, mais que enviezado, é torto. Negociar separadamente, sem que todos se envolvam e empenhem nas soluções comuns, é fazer com que o quer que nasça, nasça torto.
A segunda grande dificuldade está no timing do parto. Sabe-se que todo o parto tem o momento certo: antes, dá prematuro; depois, pode provocar traumas irreparáveis. Se poderá de alguma forma compreender-se que fosse difícil apresentar o acordo - enfim, os acordos - ao Presidente da República antes da indigitação de Passos Coelho, já não é aceitável que se esteja ainda a negociar como se o timing certo seja o da apresentação do programa do governo.
Neste momento o(s) acordo(s) teria(m) de estar concluído(s) - dando de barato que pudesse(m) não ser público(s) - e os seus subscritores tranquilamente à espera do momento de apresentar a sua moção de rejeição ao programa do governo. Mas não, não é nada disso que estamos a ver. Estamos a ver que o bluff continua no ar, como no ar está ainda a caricata decisão de cada um apresentar a sua própria moção.
Nos últimos dias, apenas uma boa notícia: a Catarina Martins calou-se. De resto, tudo más notícias: o PCP está em claro recuo, e António Costa, com a iniciativa de Assis, cada vez com menos espaço.
Termino como comecei: tem tudo para correr mal, um verdadeiro desafio á lei de Murphy. Se calhar, por isso, Passos também já revogou a sua decisão de não chefiar qualquer governo de gestão!