O retrato da União Europeia na pandemia
A pandemia tem-nos mostrado várias caras da União Europeia, e nem todas bonitas. Começou por mostrar uma União Europeia ágil a responder-lhe, para logo depois mostrar que a agilidade tinha pouco de ágil. Agilizar a resposta ágil começou, e está ainda, a ser um problema.
Depois veio a vacina, e nova cara bonita da União, a centralizar, como se fosse um grande país do mundo desenvolvido, a negociação da compra das vacinas. Pouco depois veio a cara feia, e viu-se como fora ultrapassada nessa negociação por todo o mundo desenvolvido, dos grandes, como os Estados Unidos da América ou a Inglaterra, aos pequenos, como Israel.
Uma cara ainda mais feia acaba de se nos mostrar com a suspensão da vacina da Astrazeneca. A instituição da União Europeia que superintende na matéria - a EMA - garante, como de resto a Organização Mundial de Saúde, que não há qualquer problema com essa vacina. Que os casos de coágulos sanguíneos detectados, e que lançaram o alarme geral, não têm ligação com a vacinação, que são casos correntes, perfeitamente dentro das estatísticas do fenómeno.
Que "os eventos envolvendo coágulos de sangue, alguns com características invulgares como o baixo número de plaquetas, ocorreram num número muito reduzido de pessoas que receberam a vacina" e que "o número de eventos tromboembólicos em geral nas pessoas vacinadas não parece ser superior ao verificado na população em geral", sendo que "muitos milhares de pessoas desenvolvem anualmente coágulos de sangue na UE, por diferentes razões".
E no entanto praticamente todos os países, cada um de per si, e com efeito dominó, decidiram interromper a aplicação da vacina, generalizando o pânico entre quem a tinha tomado, e atrasando gravemente o processo de vacinação, que já por si não estava a correr nada bem. Exactamente por escassez de vacinas por, afinal, a negociação centralizada não ter corrido nada bem.
No final da semana passada tinham sido a Áustria, a Noruega, a Dinamarca, o Luxemburgo, a Estónia, a Letónia e a Lituânia a suspendê-la. Durante o dia de ontem seguiram-se os pesos pesados Alemanha, França, Itália e Espanha. E, ao fim do dia, Portugal. Como não podia deixar de ser.
A União Europeia é isto. E por mais que nos custe a todos os que somos europeístas, e que fomos acreditando na construção da nação europeia, nunca deixará de o ser.