O tempo contado nas contas da política
No primeiro dia do debate na especialidade do Orçamento, uma maioria parlamentar que fez o pleno contra o PS, aprovou as propostas do CDS e do PSD que obrigam o governo a fazer "marcha atrás" na sua posição sobre o tempo de serviço dos professores.
É velha a questão da legitimidade dos professores, tão velha como a questão de quem paga a crise, que já aqui trouxe por diversas ocasiões. Deixemos-las por isso de lado porque, agora, em causa está importância eleitoral dos professores, e as voltas que isso provoca nos partidos políticos.
As posições do Bloco e do PC, suportes do governo, eram e são conhecidas. Não quer dizer que passem à margem do peso eleitoral desta categoria profissional - não passam, evidentemente -, mas estão sempre do mesmo lado e, bem ou mal, não interessa para o caso, estão e têm estado sempre do lado dos professores.
Coisa completamente diferente acontece com o PSD e o CDS. O que está em causa é até repor o que eles próprios tiraram quando governaram. O que estão a dizer é que estão a exigir que outros paguem uma dívida que eles fizeram. Eles, que sempre se opuseram à política de reposições e reversões deste governo, fazendo até delas motivo de regresso do diabo.
Isto é despudoradamente hipócrita, mas é assim que se faz política. E mais assim, ainda, em Portugal. Não sei se os professores ganharam alguma coisa com esta decisão no Parlamento, que não lhes traz nada de concreto, mas não tenho dúvidas que o governo, sem ter que dar nada, perdeu muito. Não lhe podia sair pior que ter de lidar com este tema durante todo um ano, com duas eleições pelo meio!