O vírus*
Pôde ler-se ontem no Diário de Notícias que, com a pandemia, e os exames à distância, um número crescente de estudantes universitários está a abordar centros de explicações para contratar professores que os substituam nesse acto de avaliação. Surgem com ofertas irrecusáveis com um simples propósito: que um professor lhe faça o exame.
A reportagem não arrisca números. Mas os diversos entrevistados que dão testemunho do modus operandi dizem invariavelmente que, se tomarem por amostra estatística representativa o que é do seu conhecimento pessoal, este é um fenómeno de grande escala. E quer dizer aquilo que todos nós há muito conhecemos da sociedade portuguesa: uma sociedade que convive bem com a fraude, a corrupção, e o chico-espertismo. Onde viver do expediente fácil é sempre mais compensador que viver do trabalho.
Num país onde os dirigentes políticos falsificam habilitações e currículos, fazem exames ao domingo, pagam a quem lhe escreva livros, que depois compram até esgotar edições, não é de estranhar que a elite de amanhã procure comprar resultados de exames, para que mais facilmente lhes sejam franqueadas as portas para o lado de lá da impunidade.
É este o grande vírus há muito instalado em Portugal e para o qual não parece haver antídoto, nem vacina, nem cura. Uma sociedade tão aberta à viciação só pode ser uma sociedade infectada, sem presente e sem futuro, e cada vez mais fechada ao desenvolvimento e à decência.
* A minha crónica de hoje na Cister FM