O vírus tramou o nosso campeão
Depois de em 2020 se ter revelado ao mundo do ciclismo, trazendo a maglia rosa no corpo durante duas das três semanas do Giro, e consluindo no quarto lugar da geral, e de no ano passado, mercê de uma série de equívocos da sua equipa de então, ter acabado na sexta posição, a poucos milésimos de segundo do quinto, João Almeida entrou neste Giro deste ano com aspirações a vencê-lo ou, no mínimo, ficar no pódio.
Não tinha equipa para isso - a Emirates é uma das melhores equipas do World Tour, mas os ciclistas escolhidos para participar no Giro estavam longe de formar uma equipa à medida dessas ambições, e muito longe do poderio das equipas dos seus principais adversários - mas, até à etapa de ontem, andou sempre entre o segundo e o terceiro lugar da geral. E o desenho da competição, com apenas dois contra-relógios, e curtos - menos de 30 quilómetros no total dos dois - e muitas etapas de alta montanha (opção da organização para aliciar os principais trepadores do mundo para a prova), também lhe não era favorável.
Mesmo assim lutou que nem um herói nas etapas de alta montanha. Os adversários, o colombiano Carapaz, da Ineos, o australiano Jai Hindley, da Bora, e o espanhol Mikel Landa, da Bahrain, todos com equipas muito mais fortes, elegeram-no como alvo a abater. Mas resistiu sempre. Ficou sempre sozinho, sem a ajuda de qualquer colega de equipa, contra todos eles, e lutou como um herói para defender a sua posição, com o objectivo de se aguentar até ao contra-relógio, no fecho, no próximo domingo, onde acreditava que, mesmo com os escassos 17 quilómetros, lhes poderia ganhar pelo menos 1 minuto. Ou até mais que isso a Landa, o menos dotado de todos para a especialidade.
Ontem, na mais dura etapa de montanha, mais uma vez sem ajuda da equipa, mais uma vez sozinho contra todos, as coisas não lhe correram pelo melhor. E perdeu a 3ª posição para Landa, de que ficou a 49 segundos. Que certamente recuperaria. Depois já só ficaria a faltar a última etapa de montanha, no sábado, para garantir um lugar no pódio. A camisola branca, da liderança da juventude, essa já ninguém lhe tiraria.
Hoje corre-se a única etapa em linha desta semana, tranquila. Para roladores e sprinters. Mas João Almeida já não partiu. Resistiu às altas montanhas italianas, e aos melhores trepadores, mas não resitiu ao Covid. Testou positivo, e teve de desistir. Logo a seguir ao único dia em que realmente perdera. Já com o vírus dentro dele, mas não derrotado.
O vírus não derrota os campeões. Só os trama de vez em quando. E o João estará de volta em pouco tempo, para espalhar classe por essas estradas fora e nos dar mais alegrias.