Oportunidade perdida*
A celebração do 1º de Maio constituiu motivo para uma onda de indignação muito parecida com a que fora motivada pela sessão evocativa do 25 de Abril na Assembleia da República, uma semana antes.
Muito do que se disse e escreveu fará certamente sentido. Nem tudo, mas também não seria preciso. O que não faz sentido, e deita por terra até as críticas mais acertadas, é tudo ser resumido a chicane política.
As comemorações do 1º de Maio foram expressamente, letra por letra, subscritas pelo Presidente da República e aprovadas na Assembleia da República com os votos a favor do PS, PSD, BE, PAN e CDS. Nada que impedisse a agitação nem que, por um momento que fosse, fizesse desviar a discussão de um foco político previamente escolhido, muito na linha do que se passara na semana anterior.
O Presidente da República, sempre com um pé dentro e outro fora, sempre à procura do pleno, da quadratura do círculo, de agradar a gregos e a troianos acabaria na primeira fila dessa manifestação. Sempre a sacudir a água do capote, para que nenhum espaço lhe fuja, e para que espaço nenhum sobre para mais ninguém.
Com níveis de popularidade estratosféricos, sempre próximos dos 90%, e com o partido no governo a seus pés, prestes a declarar-lhe o apoio para a recandidatura, esperar-se-ia um presidente mais afirmativo e menos permeável às escapatórias do regime.
Com estes níveis de popularidade a exigência sobe. Não é aceitável que um mandato presidencial neste nível de aceitação se reduza à simples e clássica passadeira de acesso á reeleição. Exige-se que combata a baixa política, a politiquice, o taticismo e o oportunismo populista, para puxar pelo lado nobre da política. Por aquilo que a dignifica, e engrandece os que a exercem.
Talvez devesse ser esta a reflexão a fazer a partir dos acontecimentos deste 1º de Maio. Não o é, evidentemente. É, antes e apenas, mais uma oportunidade perdida…
* Da minha crónica de hoje na Cister FM