Os (i)limites de Marcelo
Que o Presidente Marcelo comenta tudo, sobre tudo e sobre nada, já não é novidade. Há muito que se sabe disso. Que nem sempre o faz cumprindo com os mínimos da sensatez e da elegância, também é sabido.
Que chegasse à deselegância de chamar gorda a uma mulher, ridicularizando em público a senhora a sentar-se numa cadeira, ("olhe que a cadeira pode não a aguentar") parecia o limite do intolerável que a Marcelo se tolera. Mas não, não era ali o limite. Ontem, na visita oficial ao Canadá, no meio de emigrantes que ali estavam, no país que os recebeu, os integrou e lhes deu a dignidade que nunca encontrariam no seu, em manifestação de apreço pelo presidente do país que tudo lhes negou, provavelmente à espera da selfie que é a imagem de marca do populismo que o alimenta, a fasquia subiu para níveis já intransponíveis.
De dedo em riste a apontar para o decote de uma jovem, advertindo-a que se poderia constipar, Marcelo não foi só infeliz. Nem ridículo. Foi deselegante, machista e bota de elástico salazarento. Tudo impróprio para um Presidente, mas de todo intolerável sabendo que, atrás do seu dedo estendido, seguiam as câmaras das televisões que iriam expor ao mundo não só o decote, mas a cara e o corpo de uma jovem que, provavelmente, apenas estaria ali porque a mãe, ou o pai, a teriam convencido a vir conhecer o mais alto responsável do país longínquo que, apesar de tudo lhes ter negado, continuam a amar.
PS: Claro que a fotografia que encabeça este texto nunca poderia ser a do decote da jovem.