Os miúdos têm mais encanto na hora da despedida
Foi um bom jogo, agradável de seguir, este de Paços de Ferreira, com que o Benfica se despediu deste campeonato, desta época de má sina e pior memória, e de Nelson Veríssimo. E uma agradável surpresa.
A surpresa começou na constituição do onze que subiu ao relvado. Nelson Veríssimo tinha anunciado que iria dar oportunidade a alguns jovens da formação. Não se esperava é que na equipa inicial, de uma assentada, entrassem logo cinco - Tomás Araújo e Sandro Cruz, na defesa, Paulo Bernardo no meio campo, Tiago Gouveia na ala esquerda e Henrique Araújo como ponta de lança. Seis, se contarmos com Morato - mais de meia equipa. E não se esperava de todo que, nos restantes cinco, nenhum fosse um habitual titular. Na realidade nem se pode dizer que Gilberto seja o habitual lateral direito. No fim, sabe-se que é o melhor que há no plantel para a função, mas nem isso fez dele um titular absoluto.
Introduzir três miúdos da formação numa equipa de titulares, experientes e rotinados, é uma coisa. Juntar cinco miúdos entrados de novo, a cinco ou seis jogadores que passaram ao lado da época, guarda-redes incluído, é coisa nunca vista. Nem para o último jogo.
A verdade é que funcionou, e resultou numa exibição colectiva agradável e num jogo bem conseguido. E num bom punhado de boas exibições individuais. Mas não tenhamos ilusões, resultou neste jogo. Muito provavelmente não resultaria em nenhum outro, noutro contexto. Num jogo em que o Paços, ou fosse quem fosse, estivesse à procura do pontinho, fechado lá atrás e a disputar cada bola como se fosse a última, seria diferente.
A equipa do César Peixoto quis disputar o jogo pelo jogo. Sabe tratar e trocar a bola, como bem demonstrou em alguns períodos da primeira parte, e até terá acreditado que poderia ganhar a esta espécie de equipa B do Benfica. (Que, e já que vem a propósito, desfalcou, e muito, a equipa do Benfica B que à tarde ganhara no Olival, ao Porto B, no fecho da Segunda Liga. Vi esse jogo no Porto Canal, narrado e comentado por um Miguel não sei quantos e por um tal Bernardino Barros. O Benfica B ganhou por 3 uis a 2 gooooooooolos. Isso mesmo, os dois golos dos portistas B foram berrados à boa maneira da velha rádio - goooooolo até o fôlego aguentar. Para os do Benfica B apenas "ui". Nunca foi golo, foi "ui"). E por isso houve um jogo aberto, sem truques e com espaço para os melhores jogadores jogarem à bola. E os do Benfica, mesmo estes, são bem melhores que os do Paços, por muito bem trabalhados que estejam.
E foi um regalo ver finalmente Paulo Bernardo a jogar à bola. Encheu o campo, a mostrar ao Taarabt como se faz. Ver o Henrique Araújo a mostrar ao Yaremchuck como se joga a ponta de lança, e se marcam golos. Ver como todos espevitaram os restantes, para que o João Mário voltasse a mostrar classe, Gil Dias e Meité a parecerem jogadores e até o Helton Leite a parecer que é guarda-redes para o Benfica.
Os golos, ambos do Henrique Araújo, surgiram no início e no fim da primeira parte, inteiramente do Benfica na primeira metade, mas bem dividida na última. Mas, mesmo sem golos, a segunda parte foi ainda melhor. Pelo menos até á altura das substituições, que deram para as estreias de Martim Neto e Diego Moreira, e para Taarabt e Yaremchuck mostrarem que não aproveitaram muito do que Paulo Bernardo e Henrique Araújo lhes tinham dada a ver.
Como Coimbra, na canção, os miúdos têm mais encanto na hora da despedida!
E para que acabasse bem uma época tão má, e bonito o que foi horroroso, deu ainda para os benfiquistas presentes no "Capital do Móvel" prestarem um belo tributo ao sempre nosso Nico Gaitan.
Para o ano, há mais. Esperemos que não seja do mesmo. Não vai ser, queremos acreditar!