Outra música
Chegou ao fim a primeira volta do campeonato, encomendado e inexoravelmente reservado para o Porto. Como esta última jornada tratou de confirmar, ontem, no Estoril.
Ao Benfica resta-lhe, agora, fazer a sua parte. Hoje, na Luz, com a equipa novamente atingida pelo covid, fê-la. A equipa parece outra, sem nada a ver com a apatia e a resignação da equipa de Jorge Jesus. O futebol de passe para trás e para o lado, em que a linha de fundo era uma miragem, e a grande área adversária território inóspito, deu lugar ao futebol dinâmico, com os jogadores sempre em movimento, e com a bola, sempre a circular ao primeiro e ao segundo toque, pronta a chegar á á área e à adversárias.
A primeira parte foi sempre jogada a grande nível. E mesmo com a equipa do Paços a defender bem, e com especial agressividade, o Benfica finalizou todas as jogadas de ataque com claras oportunidades de golo. Foram oito, para um só golo. O de João Mário, em cima do apito para o intervalo, logo a seguir à expulsão de um jogador do Paços, depois de ter atingido com violência Grimaldo, e do VAR ter chamado o árbitro Vítor Ferreira - com uma arbitragem ridícula, mais ainda que miserável - a consultar as imagens e a reverter o amarelo que tinha começado por exibir.
O pecado capital, no jogo em que o Benfica bateu o recorde de remates - foram 23, mais dois que naquele jogo, de má memória, com o Portimonense, que se tinha ficado pelos 21 - foi mesmo o desperdício de tantas oportunidades de golo. Umas vezes por infelicidade, como foi o caso das duas bolas na barra (Gonçalo Ramos, na primeira parte, e Darwuin, que entrou a substituí-lo, já na parte final): outras por inépcia, como foi especialmente o caso de Seferovic; e outras, ainda, sem que se perceba porquê, como aconteceu de novo com Darwin em duas ou três ocasiões, a última a picar bem a bola sobre o guarda-redes, mas a falhar por centímetros a baliza.
A segunda parte começou com o ritmo que trazia da primeira. Com o Paços com menos um jogador, e com o mesmo ritmo, se os jogadores do Benfica melhorassem um bocadinho a pontaria, era de esperar mais uma goleada, ao nível das que a equipa já atingiu neste campeonato. Não se confirmariam essas expectativas. Porque a pontaria não melhorou mas, acima de tudo, porque o ritmo da equipa oscilou. Pareceu que uns jogadores desligaram do jogo, e outros perderam fulgor. Se este aspecto terá que se aceitar, o primeiro é de todo inaceitável, e deverá merecer a atenção de Nelson Veríssimo.
Depois dos 10 minutos iniciais da segunda parte, em que criou mais três oportunidades claras de golo, a equipa desligou. E durante outros tantos permitiu ao Paços, com menos um jogador, discutir o jogo, rematar - fez quatro remates nesse período, quando só trazia dois da primeira parte - e criar até uma oportunidade para marcar, a única, em todo o jogo. Com 1-0 no marcador, não eram evidentemente boas notícias. E sentiu-se isso nas bancadas da Luz!
Os jogadores devem ter percebido isso. Nelson Veríssimo também, e começou a mexer na equipa. No passado recente era fácil fazer substituições: eram tantos os que não estavam a jogar nada que, à partida, Jorge Jesus acertava sempre. Pelo menos nos que escolhia para sair. Hoje não era assim tão fácil. Todos tinham estado bem. Primeiro tirou o Gonçalo Ramos, para entrar Darwin, e não pareceu boa ideia. O miúdo tinha estado muito bem, apenas infeliz na finalização. Depois entraram Paulo Bernardo e Lázaro, para substituir Everton - o renascido Everton, mas já a acusar cansaço, físico e mental - e Gilberto, e o Benfica acabou de vez com reacção pacense, e com os focos de impaciência que começavam a surgir, para regressar à criação massiva de oportunidades para marcar.
Até porque, dois minutos depois, Grimaldo fez de uma obra de arte o segundo, e afinal último, golo. O golo 6000 do Benfica na História dos campeonatos nacionais só podia ser uma obra de arte!
E o Benfica partiu para um quarto de hora final em que podia ter marcado mais três ou quatro golos, no mínimo. Finalmente entraram Diogo Gonçalves e Taarabt, para substituir Seferobvic e João Mário, a grande nível, agora a jogar para a frente, em vez de para trás e para o lado. O sufoco voltou, como voltaram as oportunidades. Mas não com o mesmo critério do primeiro tempo, quando todas as jogadas acabavam em situações de golo. Este sufoco final não teve a qualidade de então, e foram muitas as jogadas que se perderam antes de decididas.
No fim fica um resultado muito curto para a exibição. Lembramo-nos que há cerca de um mês, o jogo para a Taça, ficou em 4-1. Mas convém lembrar como aconteceu esse resultado, e como essa exibição não teve nada a ver com a de hoje. É indiscutível que é outro o futebol da equipa. Esta é outra música. É outro o desempenho dos jogadores, E são outras as conferências de imprensa do treinador do Benfica. Que tudo isto venha para ficar!