Palhaços (pobres)*
Faz hoje uma semana, dava aqui conta da preocupação que atravessava o país com o roubo das armas em Tancos. Com o roubo em si mesmo, e com tudo o que o envolvia – "uma questão de soberania". E de dignidade, concluía então.
Volto aí: ao roubo de Tancos e à dignidade. Porque, regressado de férias, o primeiro-ministro juntou as máximas chefias militares e pô-las a dizer que, afinal, não se passara nada. O material roubado tinha o inexpressivo valor de 34 mil euros e estava inoperacional. Não prestava, era sucata.
Concluía por isso o primeiro-ministro que o roubo de Tancos não punha minimamente em causa a segurança nacional.
Era isto que realmente lhe interessava fazer passar.
Não é por acaso que a parte “suja” ficou a cargo das chefias militares, desvalorizando ridiculamente aquilo que antes tinham – e bem – valorizado. O que tinha sido o vexame, a desonra e a vergonha, não passava agora de uma coisa sem importância nenhuma. Um simples "murro no estômago", só para não dar a ideia que nem sequer doera nada. O ridículo, praticamente a sugerir que a coisa tinha acabado até por ser um bom negócio, que se se tivesse de pagar a desmontagem e remoção daquela sucata os custos teriam sido bem maiores, rebentou nas mãos do Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas. O “sentido de Estado” ficou para o primeiro-ministro, ancorado na “sagrada” palavra do comando das forças armadas.
Não se percebe como pode ficar sagrada uma palavra que acabou de ser ridicularizada, mas essa é a arte da política, de que António Costa é o mais exímio dos praticantes.
A dignidade e a vergonha serão sempre os palhaços pobres no circo da política.
*Da minha crónica de hoje na Cister FM