Paradoxos*
Laurent Simons é um menino-prodígio, filho de pai belga e mãe holandesa, que entrou na escola primária aos quatro e, cinco anos depois, estava na faculdade. Com apenas nove anos estava a estudar engenharia electrónica na Universidade de Tecnologia de Eindhoven.
O pai da criança fez questão que o filho concluísse a licenciatura ainda neste mês de Dezembro, para que se formasse aos nove anos de idade, já que o seu décimo aniversário ocorrerá no próximo dia 26.
O que não significaria apenas que, aos nove anos, o Laurent concluiria em dez meses um curso de três anos. Implicaria toda uma bateria de exames que simplesmente não seria possível realizar a tempo, e foi esse o óbice apresentado pela Universidade. O problema não era a criança fazer os exames, era o tempo para os fazer, pelo que propôs um calendário se estenderia pelo primeiro semestre de 2020.
O pai não gostou, não aceitou o programa e resolveu suspender os estudos do filho.
Não sei o que mais choca nesta história. Mas sei que não lhe faltam motivos de choque.
Choca a obsessão do pai por um desempenho do filho, eventualmente recordista. Os prodígios escasseiam, mas pais a hiperbolizar as capacidades dos filhos, não. São a banalidade dos nossos dias sempre, evidentemente, à espera de eles próprios lucrarem muito com isso
Choca que crianças sobredotadas não possam ser crianças. E choca ainda mais que, não podendo ser crianças, não possam elas próprias dispor para si mesmas das suas superiores capacidades. Choca uma ideia larvar de escravatura, que torna estas crianças em escravas dos seus superpoderes.
Na verdade, em nenhuma parte desta história entra a vontade da criança. Não entra porque não conta para nada E não é possível que uma criança de 9 anos não tenha vontade…
* A minha crónica de hoje na Cister FM