Paradoxos e milagres
(EPA/RODRIGO ANTUNES)
Que sofrimento!
Foi com muito sofrimento, e alguma sorte, que o Benfica alcançou a primeira vitória nesta edição da Champions, e uma das raríssimas dos últimos anos nesta fantástica competição.
No meio da alegria desta vitória, a profunda tristeza da certeza certa do desaparecimento definitivo do Benfica alegre, confiante e competitivo de Bruno Lage. Nada esconde esta triste realidade!
Este jogo de hoje com o Lyon, provavelmente a equipa do grupo melhor apetrechada a nível de individualidades, foi um jogo de paradoxos. O primeiro é mesmo aquela alegria naquela tristeza. O segundo, mas mais notório ainda, foi que o Benfica acabou por ganhar, com sorte, um jogo cheio de azares.
À sorte de marcar na primeira oportunidade, logo aos 4 minutos, por Rafa (Who else?) seguiu-se logo o azar da sua lesão, privando a equipa do seu mais desiquilibrador e talentoso jogador. E não se ficaram por aqui os azares do jogo porque, vítima de uma das muitas entradas violentas e cheias de maldade dos jogadores do Lyon, Seferovic cedo ficou inferiorizado e praticamente fora do jogo. E, sem que se percebesse bem por quê, Bruno Lage deixou-o em campo até à hora de jogo.
Ao azar do remate de Pizzi ao poste, quando o Benfica esboçou a reacção possível ao golo do empate do Lyon sucedeu, dois minutos depois, aos 86, a sorte do golo da vitória... Não. Essa é que não. Não foi sorte o golaço de Pizzi, foi um grande golo, de grande execução. A reposição da bola do Anthony Lopes foi um incidente de jogo, um erro como tantos outros. O que se seguiu foi um momento de grande concentração competitiva, de enorme visão de jogo e de finalização de excelência. Aqui, a sorte foi ter Pizzi naquele momento, como já tinha sido dois minutos antes. E o azar foi nunca ter tido Pizzi desde os vinte minutos de jogo quando, mais de cinco minutos depois da lesão, entrara a substituir o azarado Rafa, acabadinho de regressar.
Do resto, para além destes paradoxos de sorte e azar, fica mais um jogo muito fraquinho do Benfica, de novo com demasiados passes errados, a quebrarem todas as hipóteses de qualquer dinâmica de jogo.
Apesar de tudo a primeira parte nem foi verdadeiramente má. De mau apenas que o Benfica não tenha tido capacidade para tirar mais de um jogo que lhe estava de feição, ainda mais depois daquele golo madrugador. Haverá sempre a desculpa da lesão de Rafa que, evidentemente, cortou com tudo o que tivesse sido a planificação do jogo. A segunda parte foi pouco menos que péssima, e o Benfica só ganhou o jogo, pesem todas as incidências, porque o Lyon, como afinal todos quantos assistiam àquela pálida exibição, pensou que tinha tudo para o ganhar.
Não foi um milagre, esta primeira vitória. Mas não ficou muito longe disso. E se não há milagres todos os dias, também os sucedâneos são esporádicos. Por grande que seja a fé!