Patentes das vacinas, sim ... diz-nos respeito ...
Na ordem do dia pelo mundo fora, o levantamento das patentes das vacinas contra a covid-19 está praticamente ausente do espaço de discussão pública em Portugal. Não ouvimos falar disso por cá.
Não consta da agenda mediática, talvez por quem a constrói achar que não nos diz respeito, que não temos que nos meter nisso. Mas diz-nos todo o respeito, e temos mesmo que nos meter nisso.
Levantar as patentes das vacinas é hoje o passo decisivo no combate à pandemia, sabendo-se, como se sabe, que ninguém estará livre da doença enquanto ela subsistir em qualquer parte do mundo. Que enquanto isso suceder há sempre uma variante nova pronta a atingir-nos. Temos a tendência para esquecer isto, concentrando-nos no nosso umbigo. Se nós - países ricos (sim, sei que soa estranho chamarmos-nos assim, mas apenas somos dos mais pobres dos ricos) - estamos a caminho da imunidade de grupo, estamos safos. Os outros que se lixem ... Está errado quem assim pense.
Quebrar as patentes das vacinas, e liberalizar a produção, é a única forma de rapidamente responder às necessidades dos países sub-desenvolvidos. É a única forma de desligar a bomba-relógio da Índia, cujo tic-tac se ouve por todo o mundo. Insistir em não o fazer é, objectvamente, trocar milhões de vidas por lucros imorais das grandes companhias farmacêuticas.
Sim. Imorais. Porque, como noutras ocasiões já aqui referi, a maioria do investimento no desenvolvimento das vacinas, na Europa como na América, foi público, como dificilmente poderia ter deixado de ser. E o que suportaram está mais que coberto pelos exorbitantes lucros já realizados no abastecimento aos países do primeiro mundo.
Talvez não seja assim tão estranho que o tema esteja tão distante da opinião pública portuguesa, mais interessada nas guerras das marcas, e em levar as pessoas a escolher umas porque sim, e outras simplesmente porque não.