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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

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Pedras no sapato

Jornada Mundial da Juventude | Jornada Mundial da Juventude | Notícias |  RTP Notícias

Os que por aqui me acompanham mais de perto conhecem a "série" "gostava de ter escrito isto". Nos últimos tempos não tem sido muito frequente, provavelmente porque infelizmente não tenho lido assim tanta coisa que "gostasse de ter escrito".

"Gostava de ter escrito isto", mas nunca o conseguiria escrever com a subtileza, o humor e o talento do Manuel Cardoso. Mas a verdade é que gostava também de escrever qualquer coisa sobre isto. 

Sabemos todos que esta JMJ de Lisboa 2023 começou por dividir a sociedade portuguesa. É certo que uma certa divisão seria praticamente inevitável logo à partida. Pelo que a Igreja Católica divide, mas mais ainda pelo dividiu com os crimes dos abusos sexuais na ordem do dia. O envolvimento "político", os dinheiros públicos, o secretismo e a falta de transparência, o improviso, as obras de última hora fizeram o resto, polarizando a polémica que culminou na célebre questão do altar.

Tudo isto arrastou o poder político para um processo justificativo profano, sobrando-lhe em contradição o que lhe faltava em dignidade. Tudo justificavam com razões economicistas sustentadas em estudos e certezas que eram, esses sim, questões de fé. À revelia da fé!  

Para Moedas era fazer de Lisboa o “centro do mundo”. Para António Costa era a “projecção internacional do país”, essa obsessão nacional. O retorno económico em turismo seria uma coisa nunca vista. Era um investimento de futuro. E a requalificação daquela zona de Lisboa teria um impacto só comparável com a Expo-98.

Não faziam a coisa por menos. E, se já havia motivos de divisão, somavam-lhe mais outro. Agora dividiam os portugueses entre os que lhes validavam as pantominices e os que sabiam que não passavam disso. E dividiam mesmo muitos que a JMJ não tinha antes dividido.

O que podemos dizer hoje, no fim de tudo e de uma semana memorável para o país, é que, como dizia o Diácono Remédios, não havia nexexidade!

A Jornada tinha méritos suficientes para convencer os portugueses. E como podem eles ter uma visão para a cidade, e para o país, se nem sequer tiveram visão para o perceber?

O país encheu-se de rapazes e raparigas. Alegres, educados, e felizes que deixaram um rasto de festa, alegria e simpatia por onde passaram. Ficaram, como se sabia, em escolas, em famílias de acolhimento, ou quartos baratos. Não em hotéis. Não encheram restaurantes, consumiram fast-food. 

Então porquê, e para quê, vender pantominices quando era tão simples - e genuíno, verdadeiro e apropriado - vender o banho de festa e de alegria que eles traziam nas mochilas? 

O país correu a receber um Papa que é um exemplo de humildade, simplicidade e saber. Um Papa mensageiro de inclusão, de justiça, de inconformismo e de amor à vida:  

- "Não sejam administradores de medos, mas empreendedores de sonhos."

 - “Sujem as mãos no combate à pobreza dos outros, da qual não devemos ter nojo”.

  Um Papa que não é preciso ser-se católico, nem sequer crente, para admirar. Um Papa de todos, mas que, nas suas próprias palavras, é "pedra no sapato" de alguns. 

Foi este Papa, estas largas centenas de milhares de jovens dos quatro cantos do mundo, e uma multidão enorme de pessoas de boa vontade - entre as quais a Albina, a mais entusiástica e entusiasmante das que conheci, a quem o destino, numa crueldade sem limites, se encarregou de lhe alterar a viagem de ontem, trocando-lhe o Parque Tejo pela sua última morada - que transformaram esta JMJ num acontecimento não absolutamente - nada nunca o é - mas largamente consensual. 

Agora acabou. Quem cá veio desfrutou, viveu e vai embora. O país voltará a olhar-se a si próprio, a encontrar-se com os mesmos problemas, bem longe da propaganda de António Costa. A cidade acordará como antes, e não como a que Carlos Moedas quis vender. Até esta Igreja, que aqui se tentou mostrar pátria da fé católica, seguirá igual. Como se percebeu ainda na presença do próprio Papa.  

À espera que o ar fresco que sopra do Papa Francisco, e o brilho que dele brilha, se vão com ele, quando ele se for... E a pedra lhes sair do sapato!

 

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