Perplexidades*
Uma investigação do jornal “Público” revelou, no início desta semana, mais uma perplexidade do negócio da venda – melhor será chamar-lhe entrega - do Novo Banco a um fundo americano, a Lonestar.
Revelava-nos essa investigação jornalística que o Novo Banco tinha vendido uma carteira imobiliária por 364 milhões de euros, praticamente metade do valor com que figurava no seu Balanço, com os consequentes prejuízos de umas centenas de milhões de euros, sobre os quais vem, depois, exigir o reembolso com que o Estado se comprometeu no contrato de venda que continua escondido, num total de 3,9 mil milhões de euros.
E revelava que essa venda tinha sido efectuada a umas sociedades, todas com a mesma sede, no Campo Pequeno, em Lisboa, detidas por uma sociedade luxemburguesa, por sua vez detida por um fundo escondido numa offshore nas Ilhas Caimão. A quem o Novo Banco emprestou o dinheiro para a compra.
A perplexidade não pode ser maior: o Novo Banco perde dinheiro, muito dinheiro, numa altura de pico imobiliário, em que toda a gente ganhava muito. A operação envolve uma teia de compradores, acabando numa inevitável offshore associada, mas evidentemente sem possibilidade de prova, à própria Lonestar. Que, por último, pede emprestado ao banco o dinheiro com que lhe vai pagar.
Como sempre, nada de ilegal. Tudo está de acordo com a lei. E mais, como veio o Novo Banco explicar em comunicado, de acordo com “as boas práticas do mercado”.
E aqui nasce a perplexidade final: esta gente do Novo Banco, com o seu presidente à cabeça, continua a achar-se coberta pela impunidade. Ainda não percebeu que o banco nasceu do BES, e do maior escândalo financeiro da História de Portugal. E que todas estas habilidades “legais” e correntes no mercado já não são politica e socialmente toleráveis.
A classe política, e em particular o primeiro-ministro, já percebeu isso muito bem. É por isso, e só por isso, que a coisa foi parar ao Ministério Público…
* A minha crónica de hoje na Cister FM