Pneumonia em França?
(Photo by Nicolas TUCAT / AFP)
Aproxima-se o dia das decisões em França. É já no próximo domingo que os franceses vão decidir entre Macron e Marine Le Pen, pela segunda vez consecutiva.
Macron parte com ligeira vantagem nas sondagens. Os quatro pontos percentuais de vantagem cabem dentro da margem de erro das sondagens, pelo que não está garantido que a França resista - continue a resistir - à tentação extremista, nacionalista e populista. Esta situação já se repetiu em eleições anteriores, com o pai, Jean Marie, e Jacques Chirac, em 2002, e com estes mesmos protagonistas, há cinco anos.
Nunca foi difícil congregar os votos no protagonista do regime para impedir o acesso da extrema direita francesa à presidência. Da última, há cinco anos, Macron acabou por ganhar com larga margem, 2/3 da votação do eleitorado. Desta vez é diferente, e pode mesmo dizer-se que a única vantagem de que Macron desfruta é a das sondagens.
Macron não destruiu apenas o xadrez partidário de França, tornando irrelevantes todos os partidos clássicos do sistema, e reduzindo à insignificância a direita democrática e o gaulismo, em particular, que dominou a cena política francesa do pós-guerra, e o centro esquerda socialista, com quem passou a dividir o poder a partir da eleição de Miterrand, em 1981. Depois de dinamitar o sistema partidário francês, Macron dinamitou os pontos de equilíbrio da sociedade francesa, e radicalizou-a.
O inorgânico movimento dos coletes amarelos, o maior conflito na sociedade francesa desde o Maio de 68, foi a expressão dessa rotura. Macron criou "duas Franças" e foi presidente de apenas uma delas. Não soube ser o presidentes de todos os franceses, afastou-se das classes populares e tornou-se no mais impopular dos Chefes de Estado das últimas largas décadas. Quando assim acontece o crescimento dos extremos torna-se inevitável.
Cresceu a extrema-direita, não que Marine Le Pen tivesse crescido tanto assim, mas porque cresceu em representação, com três candidaturas, onde se incluiu Eric Zemmour, com a quarta maior votação da primeira volta.Cresceu a esquerda mais à esquerda, com Jean-Luc Melenchon a melhorar o resultado de há cinco anos, e a ficar muito perto de passar à segunda volta. E, acima de tudo, cresceu a resistência ao "voto útil" em Macron na segunda volta.
O próprio Melenchon apelou aos seus eleitores (21.2%) para não entregarem um único voto a Marine Le Pen, não apelou a que votassem em Macron.
No meio da catástrofe que se está a viver na Europa, só faltava mesmo acrescentar Le Pen, a Órban. Há cinco anos, vimos na vitória de Macron uma lufada de ar fresco. Às vezes as lufadas de ar fresco são perigosas.Também dão em pneumonia.