Poder de Musk ou impunidade de Trump?
Na sua primeira campanha eleitoral, que o haveria de levar à Casa Branca, Trump afirmou que "poderia parar na Quinta Avenida, disparar contra as pessoas e não perderia eleitores".
Com essa afirmação Trump queria dizer que, dissessem dele o que dissessem, acusassem-no do que quer que fosse, a sua base eleitoral era-lhe tão fiel que nada a demoveria. Entendemo-la no domínio do fanatismo: os seus apoiantes são tão fanáticos, tão desligados da realidade e da verdade, que não há racionalidade que resista.
Oito anos depois, com quatro de presidência, e quatro de oposição, pelo meio com a negação da derrota eleitoral que lhe impediu a reeleição, e a (consequente) insurreição com invasão do Capitólio, é inegável que não há racionalidade que resista nas eleições americanas. Acusem-no do que o acusarem, os seus apoiantes continuarão fanáticos a seu lado. Acresce-lhe, agora, o aparelho da Justiça, que montou enquanto no poder, a protegê-lo do que quer que seja acusado.
Diz a História que os maiores empresário americanos financiam as campanhas mas não se expõem nelas. A prudência, e mesmo os mínimos da racionalidade, e da decência aconselham uma certa reserva e descrição nos pleitos eleitorais.
O facto de o maior empresário americano, e o mais rico do mundo, irromper nesta disputa eleitoral a oferecer cheques milionários em favor do voto em Trump é o cúmulo da irracionalidade, mas também da indecência. Quando surge a sortear cheques de um milhão de dólares - à razão de um por semana, em cada um dos sete estados em que o voto oscila entre republicanos e democratas (os chamados "swings states") - Elon Musk está a dizer que pode fazer o que quiser, que está acima de tudo e de todos.
Que se permite estar acima da lei (o Código Eleitoral dos EUA refere que qualquer pessoa que "pague ou se ofereça para pagar ou aceite um pagamento para se registar para votar ou para votar pode ser punida com uma multa de 10.000 dólares, ou com uma pena de prisão de cinco anos"), mas também do mercado e dos valores da sociedade, em particular do da reputação.
A dúvida é se esta condição lhe advém do seu próprio poder se da impunidade de Trump.