Populismo em férias*
Convidada: Clarisse Louro
Há muito que Passos Coelho, entre as muitas outras surpresas que me reservou, me surpreendeu com traços do mais primário populismo, manipulando cada vez com maior mestria dois dos seus mais eficazes factores de sustentação: a demagogia e o providencialismo.
Ainda no passado sábado, no seu discurso do Pontal – mesmo que longe do velho Pontal, de Faro, continua a servir à designação da rentrée política do PSD – isso foi mais, que evidente, chocante!
Poderia retirar justamente daí uma série quase infindável de passagens que atestam a forma como Passos Coelho mistura a demagogia mais básica e rasca com a missão providencial que, de tanto querer convencer os outros, já ele próprio está convencido que lhe foi destinada.
Por limitações de espaço – a que hoje tenho de obedecer – não seguirei esse filão e vou tentar transmitir a mesma ideia através de outro episódio mais simples, e por isso mais rápido de tratar. Refiro-me às suas famosas férias de Manta Rota!
Pedro Passos Coelho tem todo o direito de passar as férias onde quiser. Até em Manta Rota, onde, mas não como, ao que se sabe sempre fez. Ora aí está: tem todo o direito de fazer férias onde fazia, mas então teria de as fazer como as fazia.
Quer transmitir a ideia que mantém o regime de férias anterior ao exercício das suas funções de primeiro-ministro. Que não vai para resorts de mais ou menos luxo, longe da vista do povo. Que não vai de férias incógnito e para local desconhecido, em circunstâncias mais ou menos adequadas de privacidade e reserva que as suas funções impõem, mas à vista de toda a gente, na mesma praia e nas mesmas condições do cidadão comum e mesmo dos menos abonados, correndo até o risco, agora que abriu a perseguição fiscal a esse tipo de oferta turística, de lhe pedirem o recibo da renda da casa. Mas não dispensa um aparato de segurança invulgar, nem se incomoda com os incómodos que isso causa a todos os outros. Nem com o fecho de todas as ruas das imediações, tornando num inferno a vida dos que, ali, são seus pares. Nem sequer se sente incomodado com as câmaras de televisão que invariavelmente tem a cada chegada, a mostrar o caricato que é o primeiro-ministro, que em funções não dispensa o seu Mercedes classe S, chegar no seu Renaultzito…mas rodeado de carros com seguranças. E também não se preocupa que as suas férias, com o policiamento público e a segurança privada que exige, saiam muito mais caras ao erário público que uma estadia num resort de luxo!
Isto é populismo. Do mais rasca!
* Publicado hoje no Jornal de Leiria