Previsível mesmo no mais imprevisível
Após praticamente 7 meses de guerra, e numa altura em que acumula reveses, Putin surgiu hoje num discurso previsível. Depois de anunciado para ontem, e depois adiado - sem outra razão aparente que não o dar espaço aos líderes fantoches das ditas Repúblicas da região do Donbass de anunciarem previamente os referendos, já para o final da semana, para acelerar a integração de facto -, o discurso de Putin acentua a escalada da guerra, expressão que utiliza pela primeira vez, e a que dificilmente poderia fugir, depois de anunciar a mobilização parcial que, pela legislação que fizera publicar na véspera, é o eufemismo de mobilização geral.
Não é surpresa. Com derrotas sucessivas no terreno, em debandada de boa parte do território antes ocupado, e com as perdas sofridas, em homens e equipamentos, mais um passo na mobilização forçada, que evidentemente alargará aos novos territórios imediatamente a seguir aos referendos, era esperada.
Não seria de todo inesperado que, neste contexto de insucesso militar, lançasse, agora ele próprio, a ameaça de uso do armamento nuclear. Fê-lo de forma expressa: "Temos meios mais poderosos que a NATO. Se necessário utilizaremos tudo o que temos à disposição". E isso é bem mais preocupante que os anteriores recados anteriormente enviados por Medveded.
Pode haver quem veja nesta ameaça a fanfarronice do "agarrem-me se não vou-me a eles". Não partilho dessa visão, e receio que a ameaça nuclear, tida desde a primeira hora por distante, esteja mais próxima e seja agora real. Putin já perdeu o suficiente para entrar em pânico. Se um louco é perigoso, um louco em pânico é capaz de tudo!
Mas, no fim, nem isto é surpreendente ...