Prometedor
Sabe-se que, chegados aqui, nesta ponta final do campeonato todos os jogos são difíceis. O desta noite, em Barcelos, era, já por isso, difícil. Acrescia que o Minho, esta época, se tinha transformado em maldição. A qualidade do Gil Vicente e, hoje mais ainda, a motivação dos seus jogadores para este jogo.
Aqui chegados, sem margem de erro, o Benfica tem de entrar nestes jogos para os resolver o mais cedo possível, de forma a evitar que a ansiedade tome conta dos jogadores (e dos adeptos), e alimente ainda mais a motivação dos adversários. E começou logo por dar sinais dessa vontade, impondo o seu habitual plano de futebol. O tal para que Roger Schemidt não tem alternativa. O tal plano B que não tem.
As coisas saíam bem, a bola circulava certinha, e ia ficando a ideia que tendo, a bola, e tratando-a tão bem, tudo se encaminhava para que o jogo se começasse a resolver cedo, como era imperativo. Percebeu-se que não era bem isso que estava a acontecer quando, aos 10 minutos, o Gil Vicente fez o primeiro remate do jogo. E depois fez o segundo, e o terceiro...
Chegou a primeira parte a meio, e o Benfica sem conseguir rematar à baliza. Havia sempre mais uma perna à frente da bola, sempre mais um corte no limite, na hora de rematar. E assim não se resolvem jogos.
A partir daí, do meio da primeira parte, começou então a surgir um ou outro remate. E a bola até começou a entrar na baliza do Andrew, o tal guarda-redes que o Porto pretende a todo custo contratar. Ou pretendia, até hoje...
Só que sem contar, em ambas as vezes por fora de jogo, bem assinalados. De resto essa foi uma das habilidades de Fábio Veríssimo, e da sua equipa. Se o fora de jogo não lhes deixava dúvidas, deixavam concluir a jogada, e assinalavam-no depois, cumprindo a lei. Se lhes deixava dúvidas - já para não dizer que tinham a certeza que não existia - assinalavam de imediato. Incumprindo a lei, e matando a jogada à nascença, não fosse ela acabar em golo, que o VAR teria de validar.
E começaram finalmente a surgir oportunidades de golo. Umas falhadas - Neres, João Mário e Grimaldo, finalmente alguém a perceber que também se pode rematar fora da área -, outras anuladas por defesas do guarda-redes gilista, capazes de deixar o Diogo Costa com insónias. Só no mesmo minuto (44) tirou o golo a Florentino e a Neres, com duas grandes defesas.
A velocidade do jogo do Benfica não era a maior, nem a última decisão a melhor, mas o Benfica dominava claramente o jogo. Mas não tinha o adversário dominado, que alternava a defesa porfiada com toda a gente lá atrás, com uma pressão alta eficaz e perturbadora, cada vez mais confiante, e capaz de espalhar o sofrimento pelos adeptos do Benfica, que voltaram a dizer presente, esgotando o Cidade de Barcelos.
Esperavam-se alterações para a segunda parte, mas Roger Schemidt voltou a não ter pressa, e deixou a equipa na mesma. O primeiro quarto de hora foi uma cópia da primeira parte, com as mesmas virtudes e defeitos. E terminou com mais um remate de meia distância de Tiba, para uma boa defesa de Odysseas e, finalmente, o cartão amarelo para Carraça que, invariavelmente - até porque não tinha grande apoio na sua faixa -, recorria à falta para travar Grimaldo e quem mais lhe aparecesse pela frente.
À entrada para a última meia hora do jogo Schemidt mexeu finalmente na equipa, com a entrada de Gilberto e Gonçalo Guedes, para as saídas de Neres e João Mário. Neres tinha perdido algum fulgor, e João Mário, decididamente longe da forma com que nos surpreendeu na maior parte da época, nunca o tinha chegado a ter. Gonçalo Guedes tinha de entrar, e substituía bem qualquer dos dois. Gilberto ... é que não lembrava ao diabo.
Dá o que pode. Mas pode pouco. A verdade é que Aursenes, mesmo sendo pau para toda a obra, não é grande coisa como lateral direito. E não o estava a ser. Passou para o lugar de Neres, na direita, e nem foi preciso exigir mais a Gilberto do que o que ele pode, para resultar.
Dez minutos depois, nova dupla mexida: saíram Gonçalo Ramos (o mais penalizado pela quebra da pressão alta que a equipa antes fazia, e já não faz) e Florentino. Entraram o inevitável Musa e ... Chiquinho. Voltava a não lembrar ao diabo... Só que resultou, e de imediato!
A primeira vez que tocou na bola foi para responder, com um grande remate de cabeça, na zona da marca de penálti, ao cruzamento de Aursenes, da direita. E assim marcar o golo que fez explodir de alegria o Cidade de Barcelos, repleto de benfiquistas. Outros, mais energúmenos que benfiquistas, fizeram explodir outras coisas, que certamente vão custar caro.
A 20 minutos do fim a bola entrara, finalmente. O mais difícil estava feito. O Benfica acentuou ainda mais o seu domínio, e aproximou-se do nível exibicional capaz de devolver aos jogadores a confiança de que precisam para as últimas batalhas.
Nunca faltou tranquilidade à equipa, e o segundo golo, a cinco minutos dos 90, acabou com as dúvidas. E voltou a obrigar-nos a olhar para Fábio Veríssimo, que assinalou o penálti que Grimaldo converteu no 2-0 final. Há dois penáltis consecutivos, mas o árbitro não viu nenhum. Foi chamado pelo VAR, e acabou por marcar o segundo, por mão de um defesa do Gil, na disputa da bola com Musa. Quando, antes, o Carraça puxara o braço a Otamendi, impedindo-o de rematar para golo. E teria de ter sido esse a ser assinalado, com a consequente expulsão do jogador do Porto emprestado ao Gil Vicente.
Poderia e deveria ter sido outro o resultado, tantas as oportunidades de golo criadas e desperdiçadas. Na última, tudo foi feito como devia ter sido, mas o toque de classe de Musa acabou com a bola na barra. E na recarga Rafa - está a regressar, lenta mas seguramente - voltou a falhar. Da exibição, mais do que aquilo que na realidade foi, fica o que de prometedora teve.