De repente, no fim-de-semana, deparamo-nos com um gigantesco movimento social em França que trouxe para a rua centenas de milhares de franceses, dispostos a bloquear o país. Envergam coletes amarelos, o "gilet jaune", como que a assinalar o tom de emergência do protesto. Ou a sua espontaneidade: não precisa de qualquer forma de organização, e o simples colete de segurança que são obrigados a trazer no carro serve-lhes perfeitamente de traje de propósito.
É um movimento popular, espontâneo e inorgânico, como é próprio dos tempos que correm. Sem cadeia de comando, sem receber ordens de ninguém, e sem parceiro de diálogo. Apenas a polícia, para negociar um corredor aqui, ou outro ali.
Não me parece que seja surpreendente. Pelo contrário, é uma daquelas coisas que muita gente estava à espera que acontecesse. É daquelas coisas cujos contornos vislumbramos com grande frequência nas redes sociais, em esboços que percebemos que podem engrossar e ganhar forma.
Em causa estão os aumentos nos preços dos combustíveis, mas poderia estar outra coisa qualquer. Motivos não faltam. Os agentes do poder político tudo têm feito para que não faltem motivos de revolta às suas gentes. E têm-no até feito com arrogância, com muita arrogância para que a revolta seja ainda maior!
Numa reportagem que passou numa televisão, um sujeito já bem entrado na idade, com ar de quem estava ali a assistir aos acontecimentos na primeira fila, dizia com uma admirável tranquilidade: "sabe, quando eles não fazem as reformas que têm para fazer, terá que ser a revolução a fazer o que não foi feito".
Imaginei-o 50 anos mais novo. Imaginei-o naquele Maio de 68, a exigir razoavelmente o impossível e a proibir que fosse proibido. E imaginei-me a dizer-lhe que as revoluções já não são o que eram. Que já não se fazem revoluções como antigamente ...