Quando a estrela se apaga
Todos temos a nossa estrela, cada um à sua dimensão. Todas empalidecem, mesmo as (dos) maiores, mais cedo ou mais tarde, mesmo que todos achem cedo de mais. Vão perdendo brilho, o brilho que nos emprestam, mas que julgamos nosso, e deixam-nos desamparados num caminho antes largo e aberto, despido de obstáculos, e agora turvo e de destino incerto.
Quanto mais alto se sobe, maior é o trambolhão. Quanto maior e mais brilhante for a estrela, quanto mais alto nos tiver levado, mais perdidos ficamos à sua partida.
Poderia estar a pensar em Mourinho. Mas estou mesmo a pensar no Papa Francisco.
A estrela de Jorge Bergoglio começou a empalidecer, porventura quando menos se esperaria, ao contrário da de Mourinho. Também ao contrário do que se poderia esperar, são a pedofilia e os escândalos sexuais na Igreja que lançam o primeiro e decisivo ataque à estrelinha papal.
Parecia um tema fácil de abordar. Pensar-se-ia até que seria matéria de reforço da sua imagem e das suas posições. Parece que não é, parece que se trata de terreno altamente escorregadio, onde Francisco revela dificuldade em manter o equilíbrio.
Em dois dias, tantos quanto durou a sua visita à Irlanda, no fim de semana, tudo isso veio ao de cima. Quando o Papa pediu perdão pelos inqualificáveis e vergonhosos abusos sexuais dos membros da sua Igreja neste país, levantou um pedregulho que escondia muito mais do que se esperava.
É que, ao contrário do que esperaria, e perante as monstruosidades conhecidas, ao Papa não basta pedir perdão. Isso não faz a diferença, nem faz diferença nenhuma. Fica curto, tão mais curto quanto, ao mesmo tempo, era acusado (pelo arcebispo Carlo Maria Viganò, antigo núncio apostólico nos Estados Unidos) por encobrir graves suspeitas que lhe teriam sido denunciadas e agora já confirmadas por conhecidas acusações públicas.
Já no avião de regresso, aquele conselho para que os pais levem os filhos ao psiquiatra logo que lhes percebam tendências homosexuais, apenas confirma a dificuldade de Francisco em manter o equilíbrio!