Que filme!
Falava-se de um jogo difícil para o Benfica, nesta curta deslocação ao Estoril. Ia defrontar o quarto classificado do campeonato, que é dado como uma boa equipa, com um futebol positivo e bem jogado. Não foi no entanto um jogo difícil de ganhar, o que vimos. Não vimos um adversário a justificar os créditos que lhe eram atribuídos, não vimos uma equipa do Estoril de grande competência, nem nunca vimos um jogo que levantasse grandes dificuldades ao Benfica.
O que vimos é aquilo que temos visto - uma equipa do Benfica incompetente, a criar a si própria as dificuldades que o adversário não lhe coloca. Se é um adversário que se fecha lá atrás, o problema é que só defende e o Benfica não consegue criar espaços para o desequilibrar. Se, pelo contrário, como fez o Estoril, o adversário joga no campo todo, o Benfica não consegue atacar os espaços que ficam livres. Este Benfica é preso por ter cão, e preso por não ter cão. É sempre preso!
Na verdade nunca, em nenhum momento do jogo, vmos que fosse um jogo difícil. Para que fosse ainda mais fácil, o Benfica marcou logo a abrir o jogo. De canto, por Lucas Veríssimo, ainda não estava esgotado o segundo minuto de jogo. Tudo fácil!
As dificuldades começaram a ser criadas pela própria equipa, logo de imediato. Com aquele futebol do costume, de passo para trás e para o lado, de jogo morno e adormecido, a deixar passar o tempo. A atacar o relógio, em vez de atacar o jogo.
Com um adversário inofensivo, espalhado pelo campo mas sem chegar à baliza de Vlachodimos, o Benfica ia trocando a bola sem sair do mesmo sítio, com os jogadores parados à espera que a bola lhe chegasse aos pés. Sem um rasgo, sem uma desmarcação, sem nunca atacar o espaço. Sem dinâmica colectiva, como onze jogadores que se encontram por acaso para um jogo de futebol. Como se durante a semana não tivessem horas de treino diário pela mão do mais caro treinador de sempre em Portugal. E um dos mais caros do mundo. Este é o take 1 do filme.
No take 2, os avançados pressionavam a saída de bola do Estoril, mas os médios ficavam vinte ou trinta metros mais atrás. Eram presa fácil para os defesas do Estoril, que depois batiam a bola na frente, sobrevoando o meio campo, onde encontravam os seus avançados em igualdade numérica com a defesa encarnada. Que normalmente ganhava a primeira bola, sobrando depois a segunda para o meio campo estorilista. Que depois a perdia por não saber muito bem o que fazer com ela.
Nos intervalos era Rafa, como sempre tem sido, o úníco a procurar desequilibrar, romper com a bola e dar uma sapatada naquela dormência. Mas Rafa não dá para tudo, mesmo que às vezes até pareça que dá. Não pode atacar uns espaços, descobrir outros, criar e finalizar. Nem ele nem ninguém.
Depois vem o take 3, dedicado às substituições. Aí, o realizador tem a tarefa simplificada. Mas só em metade. Há cinco substituições para fazer, e escolher os cinco que saem é muito fácil. Se há oito ou nove que não estão lá a fazer nada, é muito fácil acertar em cinco. Aí Jorge Jesus acerta sempre. Já só tem para errar nas escolhas para entrar, mesmo que aí também se perceba, por tudo o que tem feito até aqui, que não tem muito por onde acertar. Estão todos fora de forma, e em miserável condição mental.
Pizzi e Rafa não podem jogar juntos, garante o mestre. Não defendem. Mas, Rafa com Everton, já pode ser. Então entra o Everton. E quando chegar a vez de Pizzi entrar tem de sair o Rafa. Mesmo que continue a ser o único que justifica estar em campo. Mesmo que tenha acabado de criar mais uma das poucas situações de possível golo.
É este o filme que vi. Um filme que se repete a cada jogo, sem uma surpresa, nem um momento de suspense. É sempre o mesmo, só muda o nome. Este poderia chamar-se "quem com ferros mata, com ferros morre". Ao segundo minuto do início marcou, de canto, por um central. Ao segundo minuto do fim, sofreu o golo do empate, por um central. Pelo meio, simplesmente medonho. No fim, só o estrondo da queda de primeiro para terceiro. Quedas com estrondo é tudo o que pode ser anunciado nos próximos números desta saga de terror que Jesus criou especialmente para o Benfica!