Que grande momento!
Na passada quarta-feira, com o Ajax, o Benfica tinha deixado, mais uma vez, uma perspectiva de mudança de rumo. A regra tem sido não confirmar essas expectativas, e por isso este jogo de hoje com o Vitória, de Guimarães, só não era de tudo ou nada, porque o tudo já não existe.
Mas não podia ser de nada.
E não foi. Não que o Benfica tenha feito uma grande exibição, que não fez. Fez o qb para ganhar, e ganhar é mesmo o mais importante nesta altura. Mas deve dizer-se também que fez o quanta bastasse para ganhar porque o jogo acabou por correr bem, ao contrário do que tantas vezes tem acontecido. Bastou que o Vitória, ao contrário do que tantas vezes tem acontecido, não tivesse feito golo na primeira vez que chegou à baliza de Vlachodimos. Nem à segunda, nem à terceira... Nem em nenhum dos 17 remates (!) que efectuou, quase o dobro dos do Benfica. Bastou que Vlachodimos tenha podido evitar o golo nas duas primeiras oportunidades do jogo, e bastou concretizar, com grande eficácia as duas primeiras oportunidades criadas.
Quer isto dizer que a clara vitória desta noite é meramente circunstancial? Não. Aquelas circunstâncias foram decisivas, mas depois delas houve o jogo. E neste jogo já se viram ideias. Sim, num jogo de futebol as ideias vêm-se.
O Benfica não entrou com a mesma equipa que jogara com o Ajax - Otamendi e Weigl estavam disciplinarmente impedidos, e foram bem substituídos por Morato e Meité, este finalmente a mostrar-se e a fazer um bom jogo - mas entrou com o mesmo dispositivo táctico, o 4x4x2, com Darwin e Gonçalo Ramos na frente de ataque. E com ideias.
Entre elas, e provavelmente a mais decisiva, uma ideia de espaço. E depois a ideia de o atacar, mais vincada que a do defender. E dentro dessa ideia de atacar o espaço, a de que a mudança rápida de flanco é a melhor forma de a concretizar. Não é por acaso que os dois primeiros golos, ambos de excelente execução, nasceram assim - mudanças rápidas da bola para a direita, e cruzamentos de grande qualidade de Gilberto. A qualidade que a liberdade de espaço, que noutras condições não tem, lhe permitiu mostrar. Depois bastou a qualidade de Gonçalo Ramos, no primeiro, num fantástico remate de pé direito, de primeira. E de Darwin, num grande remate de cabeça.
E por isso não foi nada circunstancial a circunstância do Benfica ter resolvido o jogo nas duas primeiras oportunidades de golo que criou. Foi qualidade e... ideias. De tal forma que, ao intervalo, já era indiscutível a vantagem do Benfica, e já ninguém se lembrava do primeiro quarto de hora do jogo.
Do que provavelmente muita gente se lembraria era do último jogo, no Bessa. Ao intervalo também era aquele o resultado, e também era aquela a imagem de superioridade.
Com o arranque da segunda parte também isso foi esquecido. Até porque o terceiro golo, o tal que tem sido excepção, surgiu logo aos 5 minutos, num penálti - é verdade! - cometido dobre Gonçalo Ramos, e convertido por Darwin, mais uma vez com classe. E porque o Vitória foi sempre disputando bem o jogo mas sem lhe acrescentar a intensidade e a agressividade que tornassem o jogo desconfortável para o adversário.
O jogo apontava para o quarto golo do Benfica. Que acabou até por surgir logo a seguir ao terceiro, no que seria também o bis de Gonçalo Ramos, depois anulado por fora de jogo assinalado a Taarabt, que fizera a assistência. E pouco depois desperdiçado por Rafa, numa das duas ocasiões por concretizar. Até se chegar ao momento do jogo.
O minuto 62. O primeiro momento das substituições. E não foi pela habitual inépcia de Nelson Veríssimo, mesmo que tenham produzido o habitual efeito. Foi o momento da entrada em campo de Yaremchuk, com Vertonghen a entregar-lhe a braçadeira de capitão e com a Luz a explodir numa emocionante onda de apoio à sua Ucrânia. Simplesmente fantástico, com o jogador ucraniano reconhecido, sensibilizado e fortemente emocionado. Valeu mais, muito mais, que qualquer golo. E valeu pelo jogo!
Os colegas ainda tentaram oferecer o golo ao ucraniano, que seria certamente o segundo grande momento do jogo. Mas já não dava para mais, e na parte final foi até, de novo, o Vitória a estar mais perto do golo que o Benfica, e Yaremchuk. Voltou a valer Vlachodimos para, pela primeira vez na era Veríssimo, chegar ao fim com a folha em branco.
No fim fica um jogo que valeu pelo resultado, pelo que pode contribuir para a estabilidade da equipa, e por aquele momento de manifestação contra a guerra, à volta de Yaremchuk. E a confirmação que as substituições são uma dor de cabeça para Nelson Veríssimo. Que Gonçalo Ramos é definitivamente jogador, bastava-lhe a aposta mais continuada. Que João Mário perdeu, provavelmente em termos definitivos, o seu espaço na equipa. E que também Diogo Gonçalves não tem muito para dar. Ao contrário de Meité, de quem já não se esperava nada!