Regresso às aulas*
Talvez nenhum sentimento se cole tanto ao regresso às aulas como a ansiedade. É certo que também lá cabem alegria, expectativa, sonhos e ilusões. Mas nada bate a ansiedade dos que entram pela primeira vez no mundo desconhecido da escola. E a dos pais que os deixam pela primeira vez à porta desse mundo novo.
É sempre assim a cada ano que passa. Primeiro é a excitação das compras do material para a escola, do que é imprescindível e do que pouca ou nenhuma falta virá a fazer, porque há muito que o mercado potencia sem limites a oportunidade que aqui descobriu. Mas depois vem a angústia do fim das férias, a adaptação a novos ritmos, o adeus a zonas de conforto. E vêm as expectativas, as dúvidas e as inseguranças. De pais e de filhos…
Este regresso às aulas, que teve no dia de ontem o seu ponto alto, e a data limite para que as escolas abrissem as portas aos seus alunos, tem tudo isso. Mas tem muito mais, com muita mais ansiedade.
As escolas abrem na fase da maior actividade da pandemia, aos níveis de Abril, mas num período de maior complexidade e de mais incerteza, com a (grande) probabilidade de terem de voltar a fechar transformada numa espada sobre a cabeça de todos nós. Mesmo dos que, não tendo filhos em idade escolar, acham que não têm a nada a ver com o assunto.
Têm. Temos todos. Os pais, que tiveram que lidar todos estes meses com os filhos em casa, com a vida virada do avesso, não vão conseguir passar por outra igual. E isso toca-nos a todos. As escolas fechadas aprofundam desigualdades e, a cada vez que a desigualdade cria mais desigualdade, nasce uma espiral de crescimento exponencial do número dos que ficam definitivamente para trás.
E isso toca-nos ainda mais a todos…
* A minha crónica de hoje na Cister FM