Reparo às reparações
O Presidente Marcelo, no já famoso jantar de quatro horas com a imprensa estrangeira - pareceu que muito brasileira -, entre muitas coisas estranhas, falou da "reparação colonial", que deixou o país em alvoroço. Ninguém lhe perdoou, mesmo que tenha sido só a "direita mais direita" a "malhar-lhe" impiedosamente logo no dia seguinte, na sessão pública da comemoração do 25 de Abril, na Assembleia da República.
O tema está há muito na "ordem do dia" internacional. Mas, sabe-se, em Portugal é diferente. O colonialismo português foi diferente, e mesmo tendo sido o último "a fechar", e com uma guerra prolongada pelo meio, continua a ser diferente.
É curioso que as reacções de reclamação dos "ex-colonizados" tenham vindo, não dos países africanos, colonizados até "à última gota", mas do Brasil, a primeira ex-colónia "a saltar fora", há mais de dois séculos.
Foi-se o Brasil, mas ficou sempre o sonho brasileiro.
Grandes empresas e instituições portuguesas acabaram vítimas desse sonho nos últimos anos. A PT pagou com a vida esse sonho. Tal como a CIMPOR, se bem que aí mais vítima do sonho (do) brasileiro. O da TAP pagamo-lo nós. E nem a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa resistiu a espatifar-se toda nos encantos brasileiros. E nós a pagarmos. A Ana Jorge, que nisso até nem tivera responsabilidade nenhuma, não está a pagar nada disso. Está apenas a pagar com o emprego a, também muito portuguesa, actividade de distribuição de tachos.
Bem sei que, tudo isto somado - e para falar só do Brasil, porque em Angola também ficou a grande fatia do BES, que pagamos com língua de palmo -, não dá para pagar o ouro que de lá trouxemos há uns séculos. Mas é capaz de já não faltar assim tanto ... É capaz de bastar um "acerto de contas". E nisso normalmente somos bons!