Rigor científico
Dois investigadores da minha escola, Tiago Cardão-Pito e Diogo Baptista, analisaram o desempenho do sector bancário português desde a adesão ao Euro e chegaram àquelas conclusões que nos parece que os estudos académicos sempre chegam: ao óbvio. Àquilo que todos tínhamos percepcionado, assumido e integrado no nosso paper de ideias feitas.
É sempre assim, os estudos servem muito mais vezes para sustentar aquilo que empiricamente estava instalado no senso comum do que para fazer grandes revelações. Por isso se discute tanto a sua importância, se bem que, também por isso, sejam pouco discutíveis.
A revelação que porventura mais salientada será no Estudo é ela própria a que melhor ilustra o que acabo de escrever: a da "proximidade" entre o sector e os políticos que o tutelam. E que deveriam supervisionar. O corropio de vai e vem entre a banca e os governos, entre reguladores e regulados, fazem da independência e da efectiva supervisão uma simples figura de retórica.
Estamos, todos, tão conscientes dessa "proximidade" que até lhe chamamos promiscuidade. Nem o exemplo que o estudo toma por mais flagrante dessa entropia deixa de ser o que mais escandalizou o país. E pelos vistos também os próprios funcionários da Comissão Europeia: Durão Barroso, evidentemente.
Nada de novo, na realidade. Mas é sempre bom saber que tudo isto tem já sustentação científica. Nada como chamar os bois pelos nomes com rigor científico.