Segurar um jogo não seguro
Está afastado o fantasma das interrupções do campeonato, para jogos das selecções nacionais. Mas, bem vistas as coisas, só está afastado porque acabaram. Agora, daqui até ao fim, lá para a parte final do próximo mês, é sempre a andar. Sem parar.
Este jogo de Vila do Conde era tido por um dos mais complicados que faltavam cumprir. Pelo adversário - o Rio Ave, especialmente nos Arcos, é sempre um adversário difícil para o Benfica - e, lá está, porque a experiência das paragens para as selecções não era a melhor. Cinco dos sete pontos perdidos até aqui, foram-no nestas circunstâncias de regresso à competição - dois em Guimarães, e três em Braga. Que foram também os piores jogos do Benfica na época.
Depois houve outro que também caiu num nível exibicional bastante abaixo da média, mas sem consequências no resultado. Foi em Vizela.
Pois. Este jogo de hoje tem muitas linhas paralelas com as desse jogo. E talvez isso leve a afastar o tal fantasma, mesmo que retirado.
Roger Schemidt resolveu poupar Florentino, com quatro amarelos. E o próximo jogo é o clássico que, não sendo decisivo, poderá acabar com todas as dúvidas sobre o título. Se o Benfica o ganhar, ou mesmo se simplesmente não o perder. Entregou o meio campo ao regressado (depois do castigo pelo quinto amarelo) Aursenes e a Chiquinho - hoje o melhor em campo -, e manteve Neres na posição - que não nas funções - em que o norueguês é primeira opção, na ala esquerda.
De resto, tudo como de costume. E também o futebol de qualidade do costume, mas menos oleado. A estratégia, e a competência, do adversário também contou, mas era evidente que as coisas não saíam como de costume. A equipa saía bem, na primeira fase de construção não havia problemas. Mas, lá mais à frente, onde o Rio Ave defendia com duas linhas de cinco, o último passe, e as decisões dos jogadores, não eram as melhores. Na última decisão, no último passe, ou no último toque, havia sempre qualquer coisa que não corria bem, e a confiança dos jogadores ia sendo minada.
Os jogadores da equipa vila-condense chegavam sempre a tempo do último corte, ou de tapar o último espaço. Corriam e lutavam muito, ganhavam a maioria dos duelos, e quase sempre as segundas bolas. Neres, Rafa e Grimaldo não conseguiam criar desequilíbrios, e a bola raramente chegava a Gonçalo Ramos.
Foi assim a primeira parte, com pouca baliza e com escassas oportunidades de golo. A maior acabou até por pertencer ao Rio Ave, numa bola que bateu num poste e acabou, na recarga - já em fora de jogo - depois dentro da baliza de Vlachodimos. Onde, estranhamente, as estatísticas até davam mais posse de bola á equipa do Rio Ave. O futebol do Benfica era, no papel, o do costume. O desenho era o mesmo, mas o traço não tinha a firmeza habitual.
Roger Schmidt não mexeu na equipa à entrada para a segunda parte. Também não é frequente fazê-lo, deve dizer-se. E o golo chegou logo no primeiro minuto, sem dar para perceber se alguma coisa era para mudar. E surgiu porque, com um túnel a Patrick William - que na primeira parte tinha cortado tudo o que lhe tinha aparecido à frente, muitas vezes em circunstâncias de último recurso, e quando parecia que já lá não chegaria -, João Mário provocou os desequilíbrios que até aí ninguém tinha conseguido. E a bola chegou a Gonçalo Ramos para, à segunda, a enviar para dentro da baliza. E voltar a igualar o colega no topo da lista dos marcadores, com 17 golos.
Pensou-se, na altura, que o mais difícil estava feito. E estava, mas por outras razões. Nos minutos que se seguiram o Benfica continuou a assumir o domínio e o controlou o jogo mas rapidamente o Rio Ave começou a crescer. O jogo pedia Rafa, mas o Rafa que era necessário "não estava lá". E o Neres, também não.
Foi o primeiro a sair, juntamente com Gonçalo Ramos (trocado por Musa), para a entrada do Florentino. Que era para ser poupado, mas não dava para isso. E que até nem entrou muito bem, logo com um passe falhado, a comprometer.
Parecia que o Benfica já só queria segurar o jogo. Só isso, que é bem diferente de controlá-lo. É certo que ainda teve momentos em que o controlou e até o dominou. Mas não foi isso que consistentemente fez durante toda a segunda parte.
Segurou-o, e segurou o resultado. Mas não se livrou de passar por dificuldades. Nem de nos trazer à memória o jogo de Vizela. Mesmo que, neste, a justiça no resultado não tenha ficado em causa. O que não impede que se diga que, também hoje, na décima vitória consecutiva, o resultado tenha sido melhor que a exibição.
Agora é esperar que a equipa volte rapidamente às exibições a que nos habituou. Que seja já na próxima sexta-feira. Que até é Santa!