Sem honra nem glória
Soube-se no sábado que o primeiro-ministro, António Costa, e Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, integravam a comissão de honra da candidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica. E ficou notícia, como não poderia deixar de ser.
É mais, bem mais, que apenas mais um caso de promiscuidade entre política e futebol. Percebe-se que os dois juntos fazem um pacote, mas são obviamente diferentes as responsabilidades de cada um. Desde logo porque são diferentes as responsabilidades políticas de cada um. Mas também porque, se é frequente ver os autarcas envolvidos com os clubes dos respectivos municípios, e encontrar até aí o paradigma daquela promiscuidade, como acontece no Porto com Rui Moreira, é raríssimo um envolvimento como este de um chefe de governo. Não me ocorre sequer qualquer um.
Evidentemente que a esfarrapada desculpa de que estes são actos da esfera pessoal de cada um, que nada têm a ver com o exercício dos respectivos cargos públicos, não colhe. Desde logo porque é o exercício desses cargos que lhes dá a notoriedade que lhes confere peso e a notabilidade que lhes dá a honra para uma comissão de honra.
Acresce a tudo isto Luís Filipe Vieira e as suas circunstâncias, suficientemente conhecidas para me dispensar de as enumerar. Enquanto não for condenado por coisa alguma, Vieira é inocente de tudo o que é suspeito e/ou acusado. Mas as suas circunstâncias vão hoje muito para além do quadro criminal, como também se sabe. E aí não há julgamentos, há factos. Que não abonam a honorabilidade de ninguém e objectos de forte condenação moral.
Só uma total falta de apurado sentido político justificaria esta decisão de António Costa se empenhar desta forma na candidatura de Luís Filipe Vieira. Não é por falta de faro político que António Costa é conhecido. É reconhecidamente o mais astuto dos políticos na praça, e não é fácil cair em lapsos comprometedores.
Resta então outra hipótese: sensação de impunidade. António Costa terá entendido que a forma como joga o jogo político lhe deu um estatuto que o coloca acima de tudo e de todos. E não é a primeira vez que se lhe nota essa soberba. Começa até a ser recorrente...
Diz-se que que o Presidente Marcelo quer que o primeiro-ministro lhe explique. Poderia começar assim: "Ó António explique-me lá, como se eu fosse muito burro, como é que se meteu nesta alhada"!