Soube bem, mas a pouco!
Luz cheia - mais de 62 mil - como é já habitual. A transbordar. De festa, fervor e paixão!
Sem medos, nem tremideiras. Roger Schemidt deu o mote, como que a anunciar que isso é passado. "Neres e Di Maria são compatíveis" - tinha anunciado. Se são compatíveis, é para já. Sem medo!
A Luz gostou. Gostou dos dois desequilibradores nas duas alas, e gostou da mensagem de coragem que se lia na constituição da equipa. Com Neres e Di Maria no onze, Schemidt dizia que não tinha medo. E a mensagem parecia passar para o relvado, transportada pelos jogadores.
Mas esgotou-se rapidamente. Em poucos minutos. Foi "sol de pouca dura". Nem cinco minutos durou. Devia ser muito pesada, os jogadores não a conseguiram carregar mais tempo. E o Porto começou a parecer que queria mandar naquilo tudo. E como quando uns mandam os outros baixam as orelhas, os jogadores do Benfica começaram a baixá-las. Não deu bem para perceber se chegaram a ficar assustados, mas lá que deu para perceber que "baixaram as orelhas", deu.
Aproximava-se a primeira parte do meio quando o Fábio Cardoso, aspirante a Pepe, mas ainda sem a sua impunidade, foi (bem, indiscutivelmente!) expulso por, sem pernas para Neres, a caminho da baliza do Diogo Costa, o mandar abaixo, sem dó nem piedade.
Só por isso, por passarem a jogar contra 10, se não chegou a perceber se os jogadores do Benfica estavam mesmo a ficar assustados. Mas percebeu-se que não estavam inspirados. A equipa poderia não ter medo, o problema é que não tinha mais nada. Não tinha velocidade. Não tinha intensidade. Não tinha coragem. E parecia até não ter lá grande vontade. A expulsão galvanizou mais (ainda mais!) as bancadas que os jogadores. A inspiração, essa, sobrou apenas para Trubin.
E que bem-vinda que é!
Não é que o guarda-redes do Benfica - a quem impuseram a necessidade de ter de provar tudo - estivesse a ser sujeito a muito trabalho. Mas fez - e bem - o que teve para fazer. Com duas intervenções - uma arrojada e corajosa saída aos pés do Taremi; e uma grande defesa a desviar o remate de Pepê, já perto do intervalo, quando o Porto já deveria estar reduzido a nove jogadores - impediu que corresse mal o que realmente poderia ter corrido mal.
Do lado do Benfica apenas uma oportunidade e meia de golo. A meia de Di Maria, quando o chapéu ao guarda-redes do Porto saiu ligeiramente por cima, logo no primeiro minuto, quando os jogadores ainda carregavam a coragem que Roger Shemidt lhe tinha posto às costas; e aquele lance pouco depois da meia hora, quando Neres fugiu pela esquerda, e o Diogo Costa defendeu o remate prensado, na mancha, para se levantar e afastar, com uma vistosa palmada, a bola que, no ressalto, ia a pingar para dentro da baliza. E, logo a seguir, uma escapada de Rafa pela direita, depois de ganhar em velocidade a David Carmo, acabando travado em falta quando se isolava. Num lance muito idêntico ao que acabara na expulsão do Fábio Cardoso. Tanto que o Soares Dias, desta vez no VAR, não teve dúvidas em dizê-lo ao árbitro João Pinheiro, que apenas sancionara com livre e amarelo. Que confirmaria, contrariando a opinião do insuspeito Soares Dias, depois de consultar as imagens.
O Porto poderia, e deveria - pareceu-me - ficar reduzido a nove jogadores a um pouco mais de 10 minutos do intervalo. Aí, ao intervalo, só havia uma certeza - não era esperança, era mesmo certeza: a segunda parte tinha de ser completamente diferente!
E foi. Roger Schemidt não mexeu no onze, mas foi outra equipa que regressou dos balneários. Foi o Benfica, a jogar à Benfica, sem permitir ao Porto disfarçar que estava a jogar com menos um. Foi para cima deles e não os largou. Empurrou o Porto lá para trás, e sufocou.
As oportunidades de golo iam-se sucedendo. Claras, umas atrás das outras. O Porto não conseguia sair daqueles 20 metros à frente da baliza do Diogo Costa, que ia adiando o golo. Só nos primeiros 12 minutos da segunda parte, Musa falhou um golo feito, Kokçu atirou ao poste, Diogo Costa "roubou" o golo a Neres, isolado depois de passar pelo João Mário (o defesa portista) e de deixar o Zé Pedro (o central que entrou com a expulsão, substituindo o Romário Baró (a surpresa do Sérgio Conceição) sentado na relva, e o remate de Otamendi à malha lateral.
Em pouco mais de 10 minutos, três grandes oportunidades de golo. O golo tardaria ainda mais 10 minutos. Obra de Neres e Di Maria, os dois. Juntos. E compatíveis. Já com Cabral em campo, acabadinho de entrar para substituir Musa.
A Luz explodiu em festa. E o Benfica não levantou o pé. Logo a seguir o (excelente) remate de Otamendi, com o guarda-redes batido, saiu a rasar o poste.
O Porto, que na segunda parte fez um único remate, fraco e ao lado, tentou sair do sufoco e o Sérgio Conceição decidiu apostar nos últimos 10 minutos, lançando Ivan Jaime, o filho, Francisco e o Gonçalo Borges. Mas a circulação de bola do Benfica não lhes permitiu outra coisa que não fosse aumentar-lhes a frustração.
E sabe-se como aquela gente lida mal com a frustração ...
É uma vitória importante. É sempre importante ganhar. Mais ainda ganhar ao Porto. Mas é uma vitória que sabe a pouco. Um só golo, em seis ou sete oportunidades, é pouco!