O país saiu à rua, e o 2 de Março junta-se a outras datas da nossa História recente!
Não faço ideia das consequências imediatas, se o governo chegará ao fim do mandato ou não, nem sequer se quem cá manda o irá continuar a fazer exactamente na mesma. Ou se outras se seguirão. Ou se, repetindo-se, mantêm o registo cívico, cordato … português.
Mas parece-me que o primeiro-ministro deveria ser levado a uma profunda reflexão sobre esta jornada de protesto!
A entourage de Pedro Passos Coelho e a vasta legião de comentadores e fazedores de opinião arregimentados tipo corte, em vez de terem andado por aí que nem baratas tontas a discutir áreas e número de pessoas por metro quadrado, a tirar e publicar fotografias, umas mais manipuladas que outras, deveriam perceber, e fazê-lo perceber, duas coisas: que não importa se estiveram na rua milhão e meio de pessoas ou outro número qualquer, porque esteve muita, muita gente; e que grande parte dela é gente que votou nele há menos de dois anos!
Gente que votou nele e não no inimputável Vítor Gaspar. Gente que acreditou e se revia no seu discurso, que resgatava “o país a pão e água”, que defendia a responsabilização civil e criminal de quem deixasse resvalar a despesa. Que garantia sanear o país sem mais impostos, nem reduzir salários, que recusava a chantagem emocional, que garantia que a austeridade não poderia traduzir-se em aumentos de impostos e cortes de rendimento. Que as gorduras do Estado… Que os institutos e as fundações… Que os amigos não esperassem… Que a ética... Ou que o país não poderia aceitar um primeiro-ministro que mente…
Fazê-lo perceber isto é entregar-lhe a chave do problema. Insistir em ignorar a realidade, escondê-la, é cavar uma trincheira e metê-lo lá dentro à espera de algum milagre.
Parece-me claramente que a saída para este beco onde o governo se meteu, e para o buraco em que deixou cair o país, está em Pedro Passos Coelho. Do Presidente da República – em hibernação permanente, donde só sai, depois de muito picado, para dizer que é e deve ser esse o seu papel, sempre sem que nada tenha a ver com isto – já ninguém, na posse da suas faculdades mais básicas, espera o que quer que seja. Limitar-se-á a assistir à degradação da situação política do país, até à rápida exaustão final. E depois virão eleições, antecipadas ou não.
Donde, a sair alguma solução governativa, será um governo chefiado por Seguro. Que não é apenas mais do mesmo. É mais do mesmo, mas quando do mesmo já não pode haver mais!
Está nas mãos de Passos Coelho evitar esta tragédia!
Muito mais importante que perder tempo a fazer contas e a procurar graçolas sobre as manifestações seria pensar nisto. Mas, como se soube por estes dias, quando dez jornalistas transitam, por requisição, da Redacção do Diário de Notícias para o governo, todos distribuídos pelos gabinetes de Passos Coelho e de Miguel Relvas - um dos quais se prestou àquela tresloucada brincadeira, que passou impune, da carta da Srª Christine Lagarde de resposta a Seguro - as expectativas têm que ser baixas.
É que, os que lá estão, por lá querem continuar. E os que lá não estão, acham que é assim que lá chegam. É também disto que se fazem as misérias deste país!
As grandes manifestações do passado sábado, que acrescentarão o 2 de Março às datas que fazem a História deste nosso país, juntaram portugueses de todas as classes, de todos os quadrantes e de todas as idades. Mas têm sido particularmente referenciados os reformados e pensionistas.
A referência a tão grande participação de reformados não surpreende. Se é certo que os idosos e pensionistas constituíam uma das bases de apoio do poder em Portugal, mesmo uma das bases de sustentação do bloco central, não o é menos que, abrangendo hoje uma significativa fatia da sociedade, é também um dos grupos sociais mais atingidos pela austeridade que tomou conta do país.
É verdade que, numa população tão fortemente penalizada pelo desemprego, pela precariedade e pelos salários baixos, não faz muito sentido procurar os mais sacrificados. Mas, à luz de direitos perdidos, de quem tem agora muito menos do que já teve, os reformados têm razões suficientes para engrossar o número de descontentes. Fizeram-no sentir nas manifestações de sábado e fazem-no sentir em associações que temos vindo a conhecer.
Que todos estão indignados já sabemos. Que quase todos têm razão para isso, também. O que surpreende é que à cabeça deste novo movimento surja um banqueiro, agora inibido, que acabou de ser condenado a pagar multas de 800 mil euros por violações graves no exercício da sua actividade na administração do BCP, a que presidiu em substituição de pensionista mais indecoroso do país – Jardim Gonçalves, seu compagnon de route na construção do maior caso de sucesso da banca portuguesa. O que surpreende é que Filipe Pinhal, com uma pensão (vá lá, está bem aquém de metade da de Jardim Gonçalves) de 70 mil euros mensais, se sinta indignado.
O que surpreende e nos deixa indignados é que se meta tudo no mesmo saco!
Ninguém nos diz nada do que a Troika por aí anda a fazer. E a curiosidade é muita, até porque desta vez não vem para assinar o cheque.
O governo não diz coisa nenhuma. Anda calado. O primeiro-ministro vai aqui e ali, todos os dias sai e todos dias é vaiado, entre pela porta da frente ou pela dos fundos. Mas não diz mais nada que generalidades. “Que compreende os protestos, mas que não resolvem problema nenhum” – e não sai daqui!
Percebe-se que está simplesmente à espera que o 2 de Março passe. Até sábado nada se saberá: não se saberá o que anda a Troika a fazer, não se saberá nada das conclusões há muito cozinhadas e, acima de tudo, não se saberá nada do tal programa de cortes, que tinha de estar concluído em Fevereiro. Que já está em posse da Troika, destes que aqui andam ou doutros quaisquer. Se, como bem sabemos - e toda a gente quis que soubéssemos – foram até eles que o fizeram…
Hoje, que a Troika tirou o dia para os parceiros sociais, pensamos que, de patrões a sindicatos, alguém nos daria notícias. E deram. Só que foi como se não dessem…
A UGT diz que a Troika vai flexibilizar. A CGTP diz que se mantém inflexível.
A CIP diz que a Troika vai aliviar a austeridade e que se mostrou aberta ao investimento e ao desagravamento da carga fiscal. A CCP confirma-lhe a inflexibilidade, e diz-se mesmo convencida que, pelo contrário, a Troika se prepara para agravar a austeridade.
Sem ponta por onde se lhe pegue...
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