Foi mau de mais este ano que nos roubou os abraços e os beijinhos. Até os apertos de mão. As mãos desapareceram serviram apenas para ser lavadas, muito e muitas vezes ao dia, Para o ritual de desinfecção à entrada e à saída de um lugar qualquer. E para teclar, enfiando-nos num mundo digital onde todos julgam acima de tudo e de todos, fazendo de mentiras verdades universais, de ligeiras impressões convicções inabaláveis, construído de certezas absolutas em cima da mais insolente ignorância.
Guardaremos dele más memórias. É inevitável. Mas também é justo que o lembremos por ter sido o ano em que, em poucos meses, o mundo deu ao mundo uma vacina que tínhamos por tarefa de muitos anos. E o ano em que Trump foi corrido da Casa Branca, mesmo que permaneça ainda dentro muitas outras casas de muitas cores. Todas desbotadas!
E se um dia a História nos vier dizer que a humanidade aprendeu alguma coisa com este ano, poderemos então lembrá-lo como o início de uma nova era na nossa relação com o nosso habitat natural É esse um dos poucos sinais da esperança que poderemos levar deste ano noite de 2020.
Há poucos dias, antes da entrada no ano novo e quando toda a gente era auscultada sobre a adivinhação do que aí viria, dizia-se que 2020 seria o ano da Justiça. Não que se quisesse dizer que este fosse o ano em que, por obra e graça do que quer que fosse, tudo passaria a funcionar bem. Apenas porque este tem de ser o ano do "sim ou sopas" para processos judiciais de grande exposição mediática, dos que se arrastam há demasiados anos, como o Monte Branco, a Operação Marquês ou BES, aos mais recentes, como Tancos, Alcochete ou Rui Pinto.
Ao 14º dia do ano, à entrada para a sua segunda semana, os jornais de hoje parecem querer confirmar essa ideia, que este ano é que é. Com mais ou menos parangonas todos aparecem hoje nos jornais. Todos hoje são notícia. Até a Operação Marquês, há muito com paradeiro desconhecido, mesmo que a notícia seja apenas que Joaquim Barroca, o ex-presidente do ex-Grupo Lena, vai ser ouvido daqui a um mês e tal... Pode estar em profunda agonia, mas ainda está vivo... Refiro-me ao processo, naturalmente.
2020 ameaça tornar-se mais perigoso do que poderia parecer, por mais previsível que fosse que, em ano de eleições, Trump desatasse aos disparates.
Sabia-se que Trump não precisaria de grandes pretextos para começar a brincar com o fogo, convencido do ganho eleitoral que, em pleno processo de impeachement, daí retira. Nem de muito espaço, nem de muito tempo: bastou-lhe o Iraque, e três ou quatro dias. A 29 de Dezembro, um ataque aéreo matou 25 combatentes do Hezbollah Kata'ib, uma milícia pró-iraniana. Em resposta, no último dia do ano, quando regressavam dos funerais, manifestantes cercaram a embaixada, atacaram com pedras, grafitaram paredes ... e lá estava o pretexto por que Trump ansiava - um ataque à América.
Esta noite, o major-general Qasem Soleimani, tido por número dois da hierarquia militar do regime iraniano, e mais quatro altos quadros militares foram mortos num ataque com drones, à saída do Aeroporto Internacional de Bagdad, já confirmado pelo Departamento de Defesa Americano.
Ali Khameinei promete vingança. Para dançar o tango são sempre precisos dois ... Olha que dois!
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