Puxar pelo pior de cada um
Por Eduardo Louro
O avanço desregulado do capitalismo selvagem, resultante do alastramento incontrolado da insaciável voragem do ultra liberalismo, que já tinha passado todas as marcas do aceitável, atingiu, a crer no que acabei de ouvir a propósito da tragédia do A320 da Germanwings, os limites do impensável.
Um responsável do “Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves” dizia que hoje os jovens pilotos se endividam ao nível das centenas de milhares de euros para fazerem a formação que lhes poderá dar acesso à profissão. Que são as próprias companhias de aviação que exploram as escolas que dão essa formação, incluindo as horas de voo. Que os jovens aspirantes a pilotos pagam para voar. E que, depois de concluída a formação e altamente endividados, à maioria desses jovens nada mais está reservado que um profundo desespero. O desespero de quem vê a companhia que lhe levou o dinheiro, fechar-lhe a porta ao contrato com que pensara poder pagá-lo.
Não se sabe se foi este o caso do jovem alemão de 28 anos. Mas sabe-se que, com estas práticas, as companhias de transportes aéreos estão a contribuir para actos de terrorismo como este. Por desespero ou por outros distúrbios emocionais. Por revolta ou por vingança. Ou simplesmente por ser capaz de arrancar às mais profundas entranhas de cada um o que de pior cada um lá tem.
Mas é disto que afinal se fala quando de capitalismo selvagem se trata. De trazer ao de cima o pior que há em cada um!