Mas percebe-se. Foi por ele ter dito o que disse que não tinha dito que, também indeculpável, António Costa veio em sua defesa, e dizer que não tinha nada que pedir desculpa, que os portugueses é que lhe deviam pedir desculpa.
Há quem ache que o primeiro-ministro quis "dar graxa" ao presidente. Não partilho dessa ideia, António Costa já não é aluno de Marcelo. Disputa-lhe o título de catedrático do jogo político. Na realidade quis manietá-lo. E, não querendo deixar-se manietar, Marcelo reagiu rapidamente a pedir desculpa.
Não é um sincero pedido de desculpas. É apenas a inevitável jogada de contra-ataque de quem se não deixou encostar às cordas pelo adversário.
Afinal, para ambos, é apenas o jogo que conta. E isso é também indesculpável!
Marcelo perdeu definitivamente a impunidade. Podia dizer tudo o que lhe apetecesse, dos maiores disparates à maiores provocações, que ninguém levava a mal. Deixou de ser assim. Não se sabe se ele percebeu que deixou de ser assim, e sabe-se até que ele não deixará de ser assim, um irresponsável incontinente verbal que se acha acima da crítica.
Todos o ouvimos dizer que os 400 casos de abusos de menores na Igreja não era um número elevado. Foi claro e directo, e sem deixar espaço a qualquer interpretação, nem a qualquer equívoco. Tratou, sem margem para qualquer dúvida ou interpretação diferente, de desvalorizar o grau de aberração e a gravidade dos crimes continuados da Igreja Católica, na linha, aliás, de intervenções anteriores - públicas, ou privadas, como os conhecidos telefonemas a avisar figuras da hierarquia da Igreja que estariam a ser investigadas.
Se isso é repugnante, a emenda que tentou fazer sobe o nível do nojo. Vir depois dizer que fora mal interpretado, e que quisera apenas dizer que achava que seriam muitos mais. ainda assim continuando a meter os pés pelas mãos, é apenas cavar mais fundo no descrédito para enterrar definitivamente o último assomo de dignidade exigido a um Presidente da República.
São muitas e diversas as circunstâncias em que, por razões de segurança, temos de nos sujeitar a procedimentos de revista policial, em que temos de nos deixar apalpar. Nessas circunstâncias o que acontece é homens (polícias) apalparem homens, e mulheres (polícias) apalparem mulheres. É - ou pelo menos era - sempre assim, fosse à entrada para um estádio de futebol, fosse para muitos outros eventos. Até nos aeroportos, quando não há greve...
De resto, apalpar, nessas circunstâncias, é até um excesso de linguagem.
Mas isso era dantes. A pandemia mudou tudo, e hoje estes procedimentos de segurança têm que ser muito mais assertivos. Isto já lá não vai com apalpões. Pelo menos para alguns - algumas - a avaliar por uma queixa que faz a espuma destes dias.
Queixa-se um grupo de mulheres que, no seguimento de uma manifestação pelo clima que paralisou o trânsito na Rotunda do Relógio, em Lisboa, foram levadas para a esquadra onde, para as revistarem, os polícias as fizeram despir. Todinhas, cuecas e sutiãs fora, também. E que - queixam-se ainda - não tivessem qualquer coisa escondida no mais interior da sua intimidade, foram obrigadas a posições que melhor permitissem o cabal desempenho da revista.
Diz-se que os manifestantes eram cerca de 200. E que desses 26 foram identificados e conduzidos à esquadra dos Olivais. Homens e mulheres. Diz-se ainda que eles foram sujeitos a uma simples revista superficial. Elas, mulheres entre os 25 e os 31 anos, eram, pelos vistos, muito mais perigosas.
A acção de protesto chamava-se "em chamas". E o movimento que a organizou, e a que pertencem as mulheres obrigadas a despirem-se e os homens levemente revistados, "Climáximo". Podiam ter outros nomes, mas têm estes.
A PSP nega tudo, e garante que se limitou aos "procedimentos de segurança legalmente admissíveis". Mas não se livra da queixa-crime. Nem de ser acusada de "de conivência para com as estratégias do Governo, que procura a todo o custo contornar, desvalorizar e até mesmo negar a emergência climática”.
Claro que há aqui coisas muito sérias. Mas também há para aqui muita da brincadeira que faz a espuma dos dias.
Inicia-se hoje no Vaticano, às ordens do Papa Francisco, uma cimeira que colocará a Igreja a olhar para si própria à luz dos abusos sexuais, e em especial daqueles em que se tem visto envolvida.
Hoje, com os olhos no Vaticano, o mundo espreita para dentro da Igreja, à espera de lá ver mais alguma coisa mais que as muitas coisas feias que lá tem visto.
A Oxfam, a ONG britância que aqui tem sido tantas vezes referida, sempre por boas razões, e uma das maiores e mais influentes organizações mundiais ao serviço da Humanidade, está em risco de sobrevivência depois de ter sido tornado público o desvario sexual em que alguns dos seus funcionários superiores tornaram a sua intervenção no Haiti, depois do violento sismo de 2011, que matou perto de 300 mil pessoas.
A tragédia dos abusos sexuais, a que nem as diferentes missões da ONU escapam, põe seriamente em causa as missões de ajuda humanitária. Não há nem ajuda nem humanitarismo quando se tira com uma mão o que se dá com a outra. E quando o que se tira é a fatia maior, como se percebe nas palavras desta jovem da República Centro Africana: "Às vezes, quando estou sozinha com o meu bebé, penso em matá-lo. Ele lembra-me o homem que me violou".
Ontem a notícia era que a equipa médica do Hospital de Santa Maria tinha tomado a decisão sobre a gravidez da criança de 12 anos abusada pela besta do padrasto. E que dela não daria notícia pública...
Aplaudimos. Toda a gente que é gente acha que ninguém tem nada a ver com o sentido da decisão. Notícia tem que ter interesse público, e não se percebe onde possa estar o interesse público no conhecimento da decisão.
Já basta a dor da pobre criança. Já basta de dor para a criança... Agora só resta punir exemplarmente a besta e os seus cúmplices, se os houver, e tratar da menina. Tratar-lhe do corpo e da alma... Na medida do possível devolver-lhe a infância roubada e dar-lhe sentido ao futuro!
Afinal, não. Não basta nada disso... A cuscovilhice que reina no império sobrepõe-se a qualquer ideia de respeito. Ninguém resiste a espreitar pelo buraco da fechadura ... E a fazer disso modo de vida, fazendo crer que é de interesse público o que é o interesse de algum público. De gente que não é gente!
Dominique Strauss Kahn (DSK) teve azar: numa altura em que a sua primeira preocupação devia ainda ser Portugal tinha logo de viajar para os Estados Unidos! Tivesse ele vindo para Portugal e poderia perfeitamente dar larga às suas – pelos vistos famosas e conhecidas - taras sexuais sem que nada se passasse.
Não seria, evidentemente, detido. A senhora não teria apresentado queixa. Nem isso lhe passaria pela cabeça, mas, se passasse, toda a gente facilmente a convenceria a mudar de ideias: contavam-lhe, por exemplo, este caso, ou ainda este, e rapidamente a senhora percebia que não ganhava nada com o assunto. Que seria ela a sair mal! Ninguém iria acreditar que não fora ela a leviana que, com um sexagenário rico (numa suite de dois mil euros por noite, só podia!) e poderoso (só podia, com o que temos ouvido do FMI e sendo o homem que tinha salvo Portugal - coisa que, como bem se percebe, só está ao alcance de gente com muito poder) ali à mão, se mandara ao homem, coitado!
Não só nunca teria visto o seu futuro político ir por água abaixo, como veria mesmo a sua candidatura presidencial do próximo ano sair daqui reforçada … Com os portugueses em geral a renderem-lhe homenagem (este é que é dos nossos, macho latino danado!) e os políticos, em coro, a dizer que aquilo são coisas do foro privado! E ainda valeria uns bons milhares de votos portugueses em França. Que sempre dão jeito!
Bom, mas como DSK não soube escolher, fica pelo menos uma lição para todos os tarados sexuais com aspirações políticas: se sabem que não conseguem resistir a uma empregada de quarto de hotel, a um inesperado cruzamento com um rabo de saia num corredor, ou a um encontro com uma fêmea desprevenida no elevador não se deixem enganar – escolham Portugal!
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