Desafiava mixed feelings este jogo de Coimbra. Por um lado a Académica, pelo baixo rendimento competitivo que vinha apresentando, nunca poderia ser um adversário a impôr muitos receios. Mas, por outro, com uma das sobrevivências mais ameaçadas, e sabendo-se como este tipo de ameaças são capazes de fazer de fraquezas forças, não poderia deixar de ser um jogo complicado. Pelo lado do Benfica, sabia-se que vinha de duas boas exibições: uma caseira, verdadeiramente empolgante, e outra, em Munique, francamente animadora, apesar do resultado. Mas sabe-se também como são difíceis estes jogos que se seguem a cada jornada europeia. É dos livros...
Logo que a bola começou a rolar percebeu-se ao que a Académica vinha. Começou a defender com onze atrás da linha de meio campo para, logo a partir dos primeiros dois minutos, passar a defender com os mesmo onze mas já em cima da sua grande área. Percebia-se que, a jogar assim, podia retardar o golo do Benfica. Mas não conseguira adiá-lo por todos os 90 minutos, seria praticamente impossível.
As coisas mudaram de figura quando, aos 17 minutos, na primeira vez que conseguiram descer à área benfiquista, o Eliseu assistiu autenticamente um jogador adversário para o golo da Académica. Não que o jogo tivesse mudado alguma coisa, que não mudou. Mas porque quando se está a perder o retardar do golo tem consequências mais complicadas.
Os jogadores da Académica continuavam lá bem atrás, donde nunca saíam, com marcações muito em cima, roubando tempo e espaço aos do Benfica. Sem espaço e sem tempo para dominar a bola, a vida não estava fácil. O antídoto é qualidade no passe, para facilitar a recepção, e velocidade de execução, coisas que o Benfica parecia não ter levado para Coimbra.
A tudo isso juntaram ainda os jogadores da Académica, durante todo o tempo, um assinalável conjunto de práticas de anti-jogo, de faltas sucessivas a simulações de lesões, umas atrás das outras, tudo com a complacência do árbitro mais pressionado desta semana. Na próxima irá ser outro, naturalmente...
O jogo teve realmente tudo para poder correr mal. Acabou por não correr mal de todo, salvando-se o resultado. De indiscutível justiça!
Pouco importa que o Benfica continue a jogar como tem feito: sem galvanizar, sem intensidade, sem velocidade, sem ritmo. Pouco importa que tudo isso seja aqui ou ali iludido com registos de inegável classe com que Gaitan ou Jonas conseguem encantar a plateia. Pouco importa que o árbitro tenha assinalado dois penaltis a favor do Benfica - tantos quantos tinham sido assinalados nos 11 jogos anteriores - a lembrar a passada segunda-feira passada: um igualzinho àquele que em Braga o árbitro não quis assinalar, e outro que irão querer fazer passar por igulazinho a outro que outro árbitro assinalou em Alvalade ao minuto 94. Mas com o qual pouco tem na realidade a ver...
Nada mais importa quando o miúdo que está a encantar a Luz faz um golão daqueles. O seu primeiro, na sua primeira vez como titular na Catedral. Soberbo: faz esquecer tudo!
Mais um jogo de grande qualidade de um Benfica afirmativo e dominador. De um Benfica campeão, e à campeão!
Esperavam-se dificuldades da parte da Académica de José Viterbo, hiper motivada, que ainda não perdera e que era apenas a segunda defesa menos batida da segunda volta. Mas cedo, bem cedo, se viu que o Benfica não estava ali para outra coisa que não para ganhar depressa o jogo. Para não dar qualquer hipótese… E que a Académica já entrava derrotada… Porque smplesmente não encontrou espaço para estacionar o autocarro que decidira trazer para a Luz. A Académica foi isso: um autocarro à procura de estacionamento!
Ainda se não tinham atingido os 20 minutos de jogo e já o Benfica ganhava por três, fruto de uma exibição que, sem ter atingido o brilhantismo de há uma semana, era uma exibição cheia. E em cheio. Mas também fruto de um coeficiente de aproveitamento inédito: 100%.
Depois o Benfica levantou o pé. Não desligou, como tinha chegado a fazer contra o Nacional, mas deixou correr… Deixou correr o jogo, deixou correr a bola e deixou correr os jogadores da Académica atrás dela. De tal forma que estava-se já em cima do intervalo quando o Benfica perde, por Maxi, assistido de forma brilhante por Gaitan, a primeira oportunidade de golo.
A segunda parte começou como a primeira, com o golo a chegar até pela mesma altura, pelos sete ou oito minutos. O Benfica jogava ainda mais bonito, mas sem o mesmo índice de eficácia. Agora eram as oportunidades de golo que se sucediam… Sucessivamente, sem cessar. Mas sem golo…
Golo que - ameaça a tornar-se lei - acabou por sofrer no primeiro remate do adversário. Um golo festejado em lágrimas pelo seu marcador, Rafael Lopes. Não foi esse o primeiro momento de emoção. A emoção tinha já entrado em campo com Fejsa, num regresso - um ano e duas operações depois - naturalmente muito festejado. Mas, emoção e festa a sério, foi quando o mesmo Fejsa fez o quinto. O último e o mais bonito do jogo!
Foram cinco. Mas cinco golos legais. Todos dentro de toda a legalidade!
E no meio de tanta emoção até a estreia de Jonathan Rodriguez passou despercebida. Mas aconteceu!
O Benfica teve hoje, em Coimbra, o jogo mais tranquilo do campeonato, e porventura o mais fácil, contrariamente, depois do afastamento das competições europeias, ao que se poderia esperar. Ganhou tranquilamente, criou inúmeras oportunidades para golo e não consentiu uma única à Académica. E no entanto terá sido este jogo de Coimbra o que mais clara deixou a enorme diferença de qualidade entre esta equipa e a da época passada!
Passo a explicar. Na primeira metade – agora deu nisto, só dá para meias partes – da primeira parte, ou mesmo até perto da meia hora de jogo, o Benfica jogou bem. A equipa esteve a bom nível, criou imensas oportunidades de golo, mas fez apenas um, logo aos 8 minutos, fruto da qualidade extra de dois jogadores excepcionais: Enzo, na assistência – um passe longo de grande exigência técnica – e Gaitan, soberbo na recepção, no domínio com a coxa, a passar pelo guarda-redes e a colocar a bola na baliza!
Depois, esgotada essa primeira meia hora, foi ver a equipa senhora do jogo, a querer jogar como na época passada, com tudo para ser igual mas sem que nada saísse igual. Porque falhava um passe, e depois outro e outro… Porque falhava uma recepção e a partir daí já não era a mesma coisa… Porque a bola ia lá parar, ao sítio certo. Só que ninguém lá estava, no sítio certo…
E isso foi sempre tão flagrante que nunca outro jogo evidenciara com tanta clareza a diferença entre os que partiram (e os que continuam indisponíveis, por lesões ou por outras insondáveis razões) e os que chegaram. Ou alguns dos que ficaram… Coisa que o sumiço que Talisca levou, o erro de casting de Samaris, a vulnerabilidade mental de Jardel (é hoje claro que não consegue manter os níveis de concentração exigidos durante muito tempo, numa, pequena que seja, sequência de jogos) ou o fim do prazo das promessas de Ola John ajudam, evidentemente, a explicar!
Um pouco por memória passada e outro pouco por pressão de quem, apesar da distância de sete pontos, ainda gostaria de contar com uma ou outra escorregadela, os jogos do Benfica, estão todos, uns atrás dos outros, rodeados de grande expectativa.
Na última jornada é que era. Porque era na Madeira, onde o Benfica tinha perdido o único jogo deste campeonato, porque era o Nacional, que jogava muito bem e até tinha empatado no Dragão e em Alvalade… Não foi. Categoricamente!
Não foi na passada segunda-feira, seria hoje. Porque foi em casa, no ano passado, depois da vitória na Madeira, que as coisas começaram a correr mal. Porque a Académica também tinha ganho ao Porto e empatado em Alvalade…. Porque o Sérgio Conceição não fazia a coisa por menos: tinha a equipa preparada para ganhar…
Também não foi. Vitória categórica e indiscutível, com o Sérgio Conceição a meter a viola no saco e a dizer que a culpa foi dos jogadores. Que, coitados, correram como se não houvesse amanhã. E como raramente se vê correr. Três a zero, mais três nos ferros, mais três tirados pelo excelente guarda-redes da Académica, e um penalti por marcar, num jogo onde já se não viu aquela opção por gerir jogo antes de o matar!
Esta foi, curiosamente, a mais robusta vitória do Benfica em casa. Como já fora em Coimbra, por igual registo, a mais gorda fora de portas. Quer isto dizer que a equipa com o melhor ataque do campeonato – e já agora, também com a melhor defesa – tem em dois resultados de três a zero as suas mais desniveladas vitórias. E apenas por uma vez marcou quatro golos, justamente na vitória por 4-2 no jogo anterior, com o Nacional… Marca é em todos jogos, marca sempre, seja contra quem for!
Também por isso o melhor é esperar pelo próximo jogo. É em Braga, e vem a seguir ao jogo da próxima quarta-feira, das meias-finais da Taça de Portugal, no Dragão. E antes do jogo, também das meias-finais mas agora da Liga Europa, com os holandeses.
O Benfica ganhou um daqueles jogos que se complicam, já quando poucos acreditavam que fosse possível: no último minuto, de penalti. Penalti mesmo, Gaitan foi agarrado quando ia rematar para a baliza!
A Académica trouxe, não um, mas dois ou três autocarros, que plantou à frente da sua baliza. Nada de anormal, isso já sucedeu e voltará a acontecer. Sabe-se que equipas não têm as mesmas armas … Anti-jogo é outra coisa, e a Académica não só o praticou como abusou dele. Sempre com a permissividade do árbitro que, no fim, entendeu dar cinco minutos de compensação. Menos do que o tempo que a Académica queimou nas três substituições que fez. O que não fez foi sequer um remate à baliza do Benfica, que teve ainda duas bolas nos ferros.
Isto para dizer que a justiça da vitória do Benfica não pode ser posta em causa. Mas…que fique por lição!
O Benfica jogou francamente mal. Sem velocidade, sem ritmo e com todos os jogadores desinspirados. Não é drama nenhum, porque os jogadores não são máquinas, nem sempre tudo corre como se deseja. O que, mesmo sem que seja dramático - porque não pode haver dramas no futebol, isso está reservado a outras esferas da vida -, não pode repetir-se é a incapacidade para mudar o chip da equipa. Se não há inspiração tem que haver vontade, se não se pode jogar bonito tem que se jogar com eficácia, se não há espaços remata-se de longe. Se não se conseguem jogadas de penetração tem que colocar a bola para área, com cruzamentos sucessivos, uns atrás dos outros. Repare-se que a equipa apenas por uma vez, por Enzo Perez, na primeira parte, fez um remate de fora da área. Entrou o Carlos Martins, dado como especialista na matéria, e nada… Nem um!
Os últimos jogos do Benfica em Coimbra tinham sido bem complicados.
Basta lembrar que o da época passada marcou a viragem do campeonato, quando lá ficaram dois dos cinco pontos de avanço que num ápice desapareceram que nem fumo e que no último, há três ou quatro meses, o Benfica lá deixaria dois dos poucos pontos perdidos no actual campeonato. Sempre com arbitragens mais do que simplesmente manhosas por árbitros cirurgicamente escolhidos!
Era isto mesmo que vinha à memória quando se soube da nomeação do antigo companheiro de André Vilas Boas nos Super Dragões. Como à memória veio a história dos inúmeros golos desperdiçados nesses jogos quando, logo no primeiro minuto, Cardozo pica a bola sobre o guarda redes da Académica e surge, não se sabe de onde, um defesa em cima da linha de golo a tirar a bola.
Mas cedo se percebeu que desta vez seria diferente, mesmo que aqui e ali tenha ainda esboçado o que o super dragão Jorge de Sousa gostaria de fazer. Ainda o ponteiro não tinha chegado aos 10 minutos e já o Benfica, com dois golos marcados, tinha escancarado as portas das meias-finais da Taça de Portugal. E rapidamente o jogo deixou de ter história para além da história dos golos. Dos quatro marcados e dos outros tantos feitos, mas falhados… Escandalosamente falhados!
E pronto. Com mais uma exibição na linha do que vem sendo a prestação da equipa, o Benfica está nas meias-finais. O apuramento para a final do Jamor será agora disputado - com o Paços de Ferreira – em duas mãos: a primeira a jogar daqui a duas semanas e a segunda lá para finais de Abril. Três meses depois! Faz sentido…
“Dar os parabéns à Académica, que criou as melhores oportunidades e foi um justo vencedor”!
Estas palavras não são minhas, são de Sá Pinto, na conferência de imprensa no fim do jogo. Que me levam a dar-lhe os parabéns, pelo desportivismo que até há pouco tempo ninguém julgaria possível numa personagem que seria exemplo de muito coisa menos de fair play!
Sá Pinto tem revelado, na hora da derrota, uma lucidez e uma dignidade que infelizmente não é comum. Vindo de quem vem, de quem era tido quase como um arruaceiro, só tem de ser ainda mais valorizado e só pode funcionar como um exemplo que gostaria de ver fazer escola. A Académica ganhou a sua segunda Taça de Portugal, 73 anos depois da primeira, que foi mesmo a primeira de todas. E ganhou bem, como refere o treinador do Sporting!
Que me perdoem todos os conimbricenses em festa mas, para mim, o mais importante foi mesmo a atitude do Sá Pinto. Só por isso diria que ainda bem que foi o Sporting a estar hoje no Jamor, e não o Nacional, não fosse o árbitro da final da Champions de ontem ...
A linha de água do futebolês não tem nada a ver com a linha de água de um curso da dita. Não é novidade, acontece em muitos outros casos!
Mas tem algumas semelhanças. Por exemplo, como há cursos de água inquinada, poluída e muito mal cheirosa, também a linha de água está muitas vezes inquinada. E com muito mau cheiro!
Mau cheiro, nauseabundo mesmo, que se agrava à medida que o campeonato se aproxima do fim. Nesta altura, à entrada da penúltima jornada, é já insuportável. Abaixo dela morre-se asfixiado, em vez de afogado.
A União de Leiria passou praticamente toda a época abaixo da linha de água, sem poder respirar e fazendo aí tudo o que havia a fazer. Talvez seja por isso que é hoje apontada como responsável maior pelo mau cheiro que de lá vem. Foram muitos meses lá debaixo, e sabe-se como são as necessidades… Mesmo que, com os jogadores sem receberem salários, os estômagos nunca se tenham dado a grandes exageros e tenha havido grande contenção digestiva. O pior era mesmo o presidente, que sozinho e pela boca, poluía mais aquilo que os jogadores todos pelas vias normais. Quanto menos eram os jogadores a esbracejar e a fazer pela vida lá debaixo, à medida que iam partindo à procura de um bocadinho de ar e de uma bucha para matar a fome, mais porcaria o presidente mandava boca fora…
A União de Leiria já não está abaixo da linha de água. Está um bocado mais fundo, já debaixo da linha da merda. Que, como se sabe, acaba sempre por acamar lá mais para o fundo, à espera que ninguém chafurde. Quem a deixem em paz e esquecida!
Assim andou durante muitos anos. Ou assim permitiram que andasse muitos e muitos anos…
E quem sabe se assim não irão continuar a permitir durante mais alguns? Os alargamentos andam para aí…
Quem lá foi também parar, surpreendentemente ou talvez não, foi a Académica, com um presidente que também mostra particular tentação pela chafurdice. Depois de ser considerada a equipa sensação da primeira fase da época, com um treinador também sensação – que até parece que esteve com meio rabo na cadeira de sonho – deixou de ganhar jogos, mesmo aquele, há pouco mais de dois meses - na altura certa - que um senhor tudo fez para que ganhasse. Mas não era isso o mais importante, o mais importante mesmo era que não fosse o adversário a ganhá-lo. Já lá vão uns dezasseis jogos a marcar passo e, claro, por muito que se queixem daquela vergonha de onze contra oito do passado domingo na Marinha Grande, não há milagres!
Abaixo da linha de água, de outra mas também com grande falta de ar, está Jorge Jesus. A falta de ar notou-se na entrevista (cuidada e, finalmente, com ares de orientação da parte da estrutura de comunicação da Luz) que deu a A Bola esta semana, quando, a propósito da paródia de ir para o Porto, respondeu: “FC Porto? Quem chega ao topo não quer andar para trás!”
Bem dito! Mas nunca, sem falta de ar, diria coisa semelhante… Pode ser que lhe faça bem!
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