LIXO
Por Eduardo Louro
Foram as mais diversas, dos mais variados sentidos e orientações e até, muitas das vezes, dos mais variados disparates, as reacções que atravessaram o país na sequência do downgrading da notação da Moody`s à dívida portuguesa.
Há pouco mais de um ano pouca gente em Portugal sabia o que era o rating. Poucos tinham ouvido falar em agências de rating e começavam então a aprender a soletrar nomes: Fitch, Standard & Poor´s e Moody`s!
Foi há pouco mais de um ano que estes nomes entraram pela porta dos portugueses para passarem a fazer parte do seu quotidiano. Raros foram os dias em que delas não vieram notícias, e os portugueses – todos – passaram a ter acesso a formação acelerada na matéria. Não admira pois que a drástica decisão da semana passada tenha sido objecto de ampla cobertura e discussão por este país fora, às mãos dos melhores especialistas da matéria: invariavelmente sempre cada um de nós próprios.
Das mais diversas e desencontradas reacções há uma que me impressionou particularmente e que apontava para a desresponsabilização do governo anterior. De apagador na mão, logo houve quem corresse a gritar: “Vêm como isto nada tinha a ver com Sócrates?”
Impressionou-me a rapidez com que as forças arregimentadas à volta de Sócrates correram a agarrar esta oportunidade. E não posso deixar de repetir que a governação de Sócrates tem tudo a ver com isto, que foi ela – a pior do regime democrático - que, não sendo a única responsável pelo estado a que chegamos, trouxe o país para a banca rota. Como não posso deixar de entender a expressão de Pedro Passos Coelho quando diz que recebeu a notícia com um murro no estômago! Todos a percebemos!
Mas confesso que não me impressionou menos a forma como, agora na esfera do apoio ao governo, saltaram vozes a acusar de dedo em riste as agências de rating, em colisão frontal com o que, em idênticas circunstâncias, diziam poucos meses antes. Se isto não credível nem sério, e legitima as atitudes que pretendem apagar as responsabilidades de José Sócrates, passa a intolerável quando entre essas vozes se identifica a de Manuela Ferreira Leite e, muito especialmente, a do Presidente da República. Deplorável: isto também é lixo!