A redução dos impostos em Portugal ganhou novo fôlego e entrou decididamente na agenda política. O governo já tinha aberto o caminho, e o PSD, naturalmente, cavalgou-o.
É clara a oportunidade. Já o seria pelo calendário eleitoral, e sabe-se como as eleições são sempre a oportunidade para falar de redução de impostos. É a poção mágica que logo se desfaz depois do papelinho depositado na urna. Todos a prometem. Os que sabem que nunca terão oportunidade de a concretizar, e por isso a podem elevar à máxima exponência, e os que sabem que, depois, encontrarão sempre argumentos para a remeter para o baú das memórias, ou dos tesourinhos mais deprimentes. Mas é-o, também e a gora, pela conjuntura das finanças públicas, que não exactamente pela situação económica do país. Quando a carga fiscal atinge máximos históricos, muito à boleia da inflação, batendo mesmo os recordes de 2013, e superando a dos dinamarqueses ou suecos que, como se sabe, dela têm as contrapartidas que cada vez mais falham aos portugueses.
Ninguém fala claramente de uma reforma fiscal, nem da alteração do paradigma fiscal português. Esse decorrerá sempre do paradigma económico, que não se prevê de alteração fácil. Esse, que deixa mais de metade dos contribuintes sem rendimentos para pagar impostos, não entra na agenda política.
Dois temas dominaram este período de férias de Verão que está a terminar, ou já terá mesmo terminado, para a maioria dos portugueses: o drama num lar de idosos em Reguengos de Monsaraz, e a Festa do Avante.
Ambos tinham supostamente a covid como traço comum, muito embora não seja difícil concluir que esse elo que as liga é mais instrumental que verdadeiro. Quem tenha estado atento ao que se disse e escreveu, e não esteja prisioneiro de preconceitos, ou mentalmente condicionado por fés ideológicas, percebeu que se tratou de duas ondas surfadas a preceito durante várias semanas, sempre ao serviço de uma agenda precisa e bem identificada, em que a pandemia não foi mais que a prancha.
Não quero com isto – nem de perto, nem de longe – desvalorizar o que se passou em Reguengos de Monsaraz, as 18 vidas que se perderam e, em particular e pelas informações que vieram a público, as condições em que aconteceram essas mortes. Nem as redes clientelares e as teias de poder reveladas nessas notícias. Nem quero deixar de dizer que sou de opinião que a Festa do Avante, que hoje se inicia, enquanto tal, poderia passar para o próximo ano, como aconteceu com todos os festivais de Verão. Que o PCP andou mal ao insistir teimosamente na sua realização. E que até o governo não conseguiu evitar que passasse para a opinião pública a ideia que, acima de tudo, pretendia evitar conflitos que pudessem tornar mais difíceis as circunstâncias do próximo orçamento.
Mas bastaram 16 mortes numa residência privada para idosos de classes mais abastadas para percebermos que assim foi. Nesta residência do Porto morreram de covid 16 pessoas (55%), mais de metade dos 29 utentes. Os responsáveis da empresa esconderam a ocorrência durante dias a fio, para preservar imagem e o negócio.
Mas nem se viram os artigos lancinantes que se escreveram sobre as 18 mortes de Reguengos de Monsaraz que, num universo de 80 idosos, representam 23% de mortes, bem menos de metade dos 55% do Porto. Nem debates televisivos a apontar culpas, nem sequer ninguém a exigir inquéritos e investigações.
É sempre assim. Os tempos de maior crise são sempre tempos de manipulação. E de pesos e medidas à medida das conveniências…
Estive fora do país por uns dias, e sem condições de acompanhar o que por cá se passava. Quando regressei percebi que não perdi muito: Francisco Assis, mesmo a dizer sempre a mesma coisa, ocupa o espaço mediático com se fizesse revelações de grande novidade; os colégios privados com interesses nos contratos de associação continuam de vento em popa na sua grande marcha da manipulação - nunca tão poucos manipularam tanto(s) -, com todos os media a seus pés, e o Expresso não tem mesmo mais nada para dizer sobre os Panama papers.
Que tenha sido resolvido o conflto no porto de Lisboa é que parece que nem aconteceu...
Mais um jogo fora, mais uma vez a confirmação de um Benfica de duas caras: uma para dentro, para apresentar na Luz, digna mais bela princesa das histórias de encantar, e outra para fora, a lembrar as bruxas más. Feias, assustadoras…
Hoje não chegou a tanto, mas durante uma hora pairou no Restelo, cheio de colinho, o fantasma da bruxa má... de Vila do Conde. Não foi tudo igual, valha a verdade, mas houve algumas semelhanças, a começar pelo golo madrugador, que até já parece mau presságio. Foi diferente – tinha mesmo de ser diferente – a atitude dos jogadores do Benfica. É verdade que não foi o caso de Olá John – estamos sempre a dizer que terá desperdiçado a última oportunidade, mas nunca é a última – mas uma andorinha não faz a Primavera. E foi muito diferente a eficácia: no primeiro remate à baliza (enquadrado com a baliza), logo no início do jogo, surgiu o primeiro golo; o segundo, já com uma hora de jogo, deu no segundo golo. Ambos de Jonas, ambos excelentes…
O segundo golo sim, desbloqueou o jogo. Não acabou com o jogo, mas levou-o para outro registo, bem mais favorável ao Benfica. É que não foi só o golo, foi também a hora de jogo que ficara para trás a deixar mossa na equipa de Belém, e a diminuir-lhe a resistência. A partir daí , na última meia hora, o resultado deixou claramente de estar em risco. Em risco só mesmo Samaris, que Jesus tardou em poupar. Por boa causa, deve dizer-se. Porque quis dar prioridade à substituição do Olá John, mesmo que lhe não sirva de lição…
Falar deste jogo é falar de tudo isto. É dizer que o Belenenses foi um adversário muito complicado, que se bateu sempre muito bem, mesmo quando as forças começaram a faltar e com boa organização táctica. Mas é também dizer que, quando durante toda a semana os media quiseram dizer que o Belenenses estaria impedido de apresentar sete ou oito jogadores com ligação ao Benfica afinal, só Rui Fonte não jogou. Dos sete ou oito apenas um - um único -, e por razões bem explicadas pelo seu treinador, não jogou!
Não houve nenhuma gastroenterite, nem ninguém se lesionou a subir para o autocarro. Não deixa de ser curioso que quem se não incomoda nada com esses desarranjos intestinais e essas lesões à entrada do autocarro tenha alimentado a novela toda a semana. Não deixa de ser notável que o anterior Presidente do Belenenses, que não tem vergonha de ter deixado o clube no estado em que deixou, nem de entregar a SAD a uma figura como Rui Pedro Soares, tenha a esse propósito vindo reclamar vergonha aos benfquistas. Nem deixa de ser confrangedor que tema dos jogadores emprestados só entre na agenda mediática quando o Benfica joga com o Belenenses. E depois… oops… Só um, apenas um não jogou. E… oops… por opção do treinador. E muito bem explicada…
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