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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Vueta 2017

Contador vence no adeus e Froome confirma triunfo final

 

Termina hoje a 72ª edição da Volta à Espanha em bicicleta, uma das três principais competições do ciclismo mundial, com a vitória de Froome, o terceiro ciclista a conseguir a rara proeza de ganhar a Vuelta e o Tour no mesmo ano. Até agora apenas os franceses Anquetil, em 1963, e Hinault, em 1978, o tinham conseguido.

Foi a primeira vitória do inglês em Espanha, depois cinco participações, com uma desistência, um quarto e três segundos lugares. Froome consegui-o porque é Froome, um extraordinário ciclista, porque dispõe daquela que é, a larga distância, a melhor equipa da actualidade - e dos últimos anos - e porque, além de tudo isso, dispôs da colaboração - forçada pelas incidências da competição - de outras equipas que, particularmente nesta última semana, se viram obrigadas a fazer o trabalho da Sky para defender as posições intermédias dos seus ciclistas, especialmente dos que estavam na esfera do pódio.

Mas a grande figura desta Vuelta foi, sem qualquer sombra de dúvida, Alberto Contador, que anunciara ser esta a última competição da sua brilhante carreira. O espanhol quis despedir-se em grande, como grande campeão que é, e consegui-o. Se, aos 34 anos, as suas últimas prestações apontavam para que estivesse a chegar a hora de encostar a bicilceta, esta sua despedida deixa já saudades.

A primeira semana, especialmente em Andorra, correu-lhe francamente mal e deixou-o desde logo sem hipóteses de, na despedida, ganhar a sua Volta. Só que, a partir daí, Alberto Contador foi ele próprio a Vuelta. Sempre ao ataque!

Atacou bem, atacou mal, mas atacou sempre. Deu tudo e deu espectáculo. É certo que a desvantagem que trazia lhe permitiu a liberdade que noutras circunstâncias, especialmente a Sky, lhe negaria. Mas não é menos certo que, pela capacidade que demonstrou, a equipa de Froome teria mais dificuldade em chegar para as encomendas.

Nesta última semana Contador atacou em todas as etapas, todos os dias, em todas as montanhas. Foi subindo na classificação, foi ganhando tempo a todos os adversários, o que obrigou as outras equipas a substituirem-se à Sky para defender os seus corredores que ainda estavam à sua frente. Foi assim que sucessivamente foram encurtando as vantagens que Contador ia conquistando com muito esforço, e muita categoria.

Na etapa de ontem, a mais difícil de todas, que terminava no cimo do mítico Angliru, Contador deu verdadeiro espectáculo na tentativa de chegar ainda pelo menos ao terceiro lugar, que o levaria ao pódio hoje, em Madrid. Desfrutou de vantagem suficiente para atingir esse objectivo, mas ... aí está. As três equipas dos ciclistas ameaçados (a Bahrain, do italiano Nibali, o segundo, a Katusha, do russo Zakarin, o terceiro, e a Sunweb, do polaco Kelderman, o quarto) deram tudo na frente da perseguição para reduzir a sua vantagem e, no fim, lá estava a Sky confortável para o ataque final que levaria Froome a voltar a ganhar mais uns segundos aos seus adversários mais próximos. Foi sempre assim, durante toda esta última semana.

No fim foram quatro equipas contra Contador. Ganhou no Angliru - é o primeiro ciclista a consegui-lo pela segunda vez - subiu ao quarto lugar da classificação geral, que conseguiu ainda roubar ao ciclista polaco (que, estranhamente, viria a recuperar hoje na etapa da consagração), e ficou a apenas 20 segundos do último lugar do pódio. Mas ninguém vai esquecer esta etapa, nem ninguém vai esquecer esta Vuelta de Contador. 

Não me admiraria que daqui por uns anos, quando se perguntar quem ganhou a Vuelta em 2017, haja muita gente a responder: Alberto Contador!

Dos portugueses quase não rezou a História. O Nelson Oliveira (47º) e o Rui Costa (42º, nesta que foi a sua estreia na Vuelta), os melhores, ainda chegaram integrar algumas fugas - nesta última, nas últimas voltas do circuito final de Madrid, Rui Costa voltou a tentar, e andou adiantado até à entrada para a última volta - mas nunca estiveram perto nem de uma vitória nem de lugares de relevo na classificação geral.

Tour de France VI

Por Eduardo Louro

 

Chris Froom venceu - vai ganhar amanhã - pela segunda vez o Tour de France. Venceu, mas desta vez não convenceu...

Não convenceu porque o jovem colombiano Nairo Quintana deixou a ideia que era mais forte. Porque lhe ganhou por duas vezes, e apenas perdeu para o britânico por uma vez, logo naquela primeira abordagem aos Pirinéus, que decidiu - como então aqui se prevera - o vencedor deste ano. Porque o minuto e doze segundos que no cimo do Alpe d´Huez lhe faltou anular é bem menos que os mais de dois minutos que perdeu na primeira semana, naqueles cortes que o vento sempre provoca. E porque, no fim, ficou a ideia que Quintana atacou tarde de mais. Que, para recuperar os quase quatro minutos de atraso que resultaram dos tais cortes provocados pelo vento e da única vez que foi, de facto, derrotado por Froom, naquela décima etapa, teria de atacar mais cedo. Mais cedo, mesmo que já nos Alpes. Ou, em última análise, mais cedo mesmo na etapa de ontem.

Ontem atacou - a sério - apenas quando faltavam cinco quilómetros. Hoje corrigiu, mas já era tarde. Atacou na nova subida de hoje ao Croix de Fer, a mais de quarenta quilómetros da meta, para abdicar pouco depois. E lançou o ataque definitivo à entrada da subida final para o Alpe d´Huez, com a mesma estratégia de sempre: ataque inicial de Valverde - que grande Tour, o do campeão espanhol! -  para depois sair que nem uma flecha para se lhe juntar. Ganhou perto de minuto e meio - numa dúzia de quilómetros - em cima do meio minuto de ontem, em cinco. Seria difícil ganhar muito mais do que isso em cada etapa a um ciclista como Froome, com uma equipa como a Sky, que tem sempre três ou quatro corredores disponíveis para ajudar. Como hoje voltou a acontecer, com Porte - que, de saída da equipa e a fazer um fraquíssimo Tour, já tinha sido decisivo na tal décima etapa - a levá-lo montanha acima. 

Claro que nunca se saberá se Quintana poderia fazer mais. Sabe-se é que Froome, não!

Lá no alto foi Pinault - também ele a fazer uma parte final da prova em crescendo - que ganhou, resistindo por 18 segundos à subida demolidora do colombiano, com Valverde, em quarto, a chegar com Froome. E a confirmar, com inteiro mérito, o seu lugar no pódio. Este foi o melhor Tour de sempre de Valverde, que foi dos maiores animadores da competição.

Os quatro candidatos que aqui se perfilaram acabam por ocupar as primeiras cinco posições da classificação. Valverde, e logo no terceiro lugar, foi o intruso. Froome ganhou, como se esperava se bem que talvez como não se esperasse. E ganhou ainda o prémio da montanha. Quintana foi segundo, mas bem podia ter sido primeiro. Que seguramente será, dentro em breve... Nibali - que hoje foi francamente azarado, quando teve uma avaria no início da última subida que o afastou do centro de decisão da etapa, mas não o impediu de mais uma clara demosntração de categoria - acabou em grande, a honrar o número 1 que ostentava nas costas. Pode dizer-se que corrigiu os Pirinéus com os Alpes. Onde esteve ao nível do melhor dos melhores: basta ver que ficou a 8 minutos de Froome, quando logo na primeira etapa dos Pirinéus já estava a 7!

Contador foi o quinto, mas sem grande honra e não mais glória. Pode ter alimentado a ideia de que estaria ao seu alcance a proeza de ganhar o Giro e o Tour. Mas ficou apenas a ideia que o Giro foi a sua única hipótese de este ano ganhar alguma coisa!

Tour 2014 III

Por Eduardo Louro

 Contador foi assistido e voltou à estrada, mas abandonou pouco depois (foto AP)

Photo By Christophe Ena/AP

 

 

Tínhamos deixado o Tour na quinta etapa, a do abandono de Froome. Regressamos hoje, com a décima, a do abandono de Contador (na foto). Estão fora as duas figuras maiores do Tour, de quem tudo se esperava!

A sexta e a sétima etapas não tiveram grande história. A sexta foi ganha ao sprint por outro alemão – Greipel, com o seu compatriota Kittel a passar por problemas e a ficar sem possibilidade de discutir o sprint final. E a sétima pelo italiano Matteo Trentin, de novo com Kittel eclipsado, a ter agora de esperar pela última etapa, em Paris.

No sábado correu-se a oitava etapa, que anunciava a chegada da montanha. Contador mostrou-se, e mostrou que era aquele o seu terreno. Atacou, mas a verdade é que os principais adversários responderam. Nibali e Richie Porte, agora no papel de Froome, não se deixarm ficar. O italiano reagiu mesmo em grande estilo…

Ganhou o francês Blel Kadri – primeira vitória francesa –, isolado, único sobrevivente na meta de um grupo que esteve em fuga durante muito tempo, com Contador em segundo logo seguido de toda a concorrência – Nibali, Porte, Pinault e Valverde, separados por pouquíssimos segundos uns dos outros. Rui Costa teve algum azar, saltou-lhe a corrente na altura decisiva e, mesmo que subindo ao oitavo lugar da classificação, perdeu algum tempo, passando a ficar a quase 3 minutos de Nibali. Que, ao contrário do que aqui cheguei a admitir, despiria a amarela na nona etapa, ontem, a cobrir os 170 quilómetros entre Gérardmer e Mulhouse, pela Alsácia, com seis montanhas para subir.

Foi uma corrida extraordinária de um corredor extraordinário, o crónico campeão do mundo de contra-relógio Tony Martin. Fez mais de 140 quilómetros em fuga, os últimos 70 sozinho, num contra-relógio individual só ao alcance dos sobredotados. Ganhou o que havia para ganhar, incluindo todas as contagens da montanha, e ganhou quase três minutos a um numeroso grupo perseguidor, que integrava os portugueses Sérgio Paulinho e Tiago Machado e o francês Toni Gallopin, e mais cinco ao pelotão. Com esta vantagem de 5 minutos o francês Gallopin tirou a amarela a Nibali – em boa verdade foi o italiano que preferiu entregar-lha – e, notável, o Tiago Machado subiu ao terceiro lugar. Rui Costa caiu de oitavo para décimo-primeiro!

Hoje, à décima etapa, no dia nacional de França – comemora-se a tomada da Bastilha - foi um francês a trazer vestido o maillot jaune. No dia da França, mas também numa das mais difíceis etapas desta edição do Tour. Que voltou também a ser a das quedas, quando se pensava que isso era coisa da primeira semana!

Muitas pequenas quedas e pequenos incidentes, que subir e descer com chuva e mau tempo dá nisso. Mas também quedas graves. Primeiro foi o Tiago Machado, que nem teve tempo de desfrutar do seu extraordinário terceiro lugar. Foi ainda dada a notícia da sua desistência, depois desmentida. Depois Contador, que ainda fez por regressar à corrida, mas acabou mesmo por desistir.

Não se ficou por aqui a história desta etapa. Que, claro, é feita pela vitória – categórica e já a segunda – de Nibaldi, que regressa à amarela, na afirmação clara de que é o grande favorito. Está num grande momento de forma, e será injusto lembrarmo-nos que já lá não estão Froome nem Contador.

É também feita do festival de Joaquim Rodriguez, a sprintar pelas montanhas fora para conquistar a camisola da montanha, a das bolinhas vermelhas. Que parecia estranha no corpo de Tony Martin, que mais parecia estar com varicela. Das sete, o espanhol, discutiu seis e ganhou cinco. Foi batido por Vockler – com batota – na primeira e já não teve força para discutir a última, e a etapa, com Nibali.

Mas foi, acima de tudo, feita de novo pelo alemão Tony Martin. Que, indiferente ao esforço de ontem, pegou no seu colega Kwiatkowski e levou-o por ali acima. Chegou a um grupo de 7 corredores já em fuga e rebocou aquilo tudo durante quilómetros e quilómetros e cinco montanhas. Encostou para o lado na penúltima subida, dizendo ao seu jovem colega de equipa que fosse e aproveitasse bem o que ele tinha feito. Não aproveitou, e acabou até por cair na classificação, mas nem por isso é menos épico. Mais que nova fantástica corrida, o alemão deu um fantástico exemplo: um campeão que faz isto é mais que um campeão!

Rui Costa esteve sempre onde devia estar. Cedeu ao ataque – fulminante – de Nibali, para quem perdeu perto de 2 minutos mais. Mas subiu dois lugares, para nono: os que Tiago Machado (terceiro) e Contador (nono) deixaram vagos.

Tour 2014 I

Por Eduardo Louro

 

Cá está de novo o Tour, na sua 101ª edição. Começou em Inglaterra, e por lá andou estes três primeiros dias.

Hoje chegou a Londres, e lá esteve José Mourinho a receber Rui Costa. Bonito de ver! É sempre bonito, portugueses a ver portugueses que o mundo admira...

E portugueses é coisa que não falta neste Tour. Em destaque em várias funções, mas também  no pelotão, em cima da bicicleta:o campeão do mundo não está só, está até muito bem acompanhado. Disso e doutras coisas falaremos aqui ao longo destas três semanas!

Com mais regularidade lá mais para a frente, quando as coisas aquecerem... Na linha dos anos anteriores!

Por agora ainda não há muito a dizer. A não ser que está a começar como acabou a última, com Marcel Kittel a ganhar. Das três etapas inglesas, ganhou duas... Nibali ganhou a segunda, ontem. Ou que Mark Cavendish, a quem Kittel inequivocamente sucede como rei dos sprinters, voltou a não ter sorte e abandonou, por queda, logo na primeira etapa. E que se espera um duelo entre Froome e Contador... E que estamos todos com uma expectativa enorme à volta do nosso campeão do mundo! 

100º Tour de France IV

Por Eduardo Louro

 

Aí está Tour a fechar a segunda semana. Falta uma!

E o Tour não é só Pirenéus e Alpes. E contra-relógios!

Comecemos por aí. Pelo contra-relógio de quarta-feira, o primeiro deste Tour, que permitiu a Froome reforçar a sua condição de grande candidato à coroa de louros em Paris, de hoje a uma semana. Foi ganho - por uma unha negra – pelo alemão Tony Martin, a unha negra que o separou de Froome. E que permitiu ainda a Rui Costa, apesar de um desempenho muito abaixo das expectativas – esperava-se um lugar entre os dez primeiros, mas ficou muito longe, perto do 30º posto – subir um lugar top tem que trazia dos Pirinéus. Nos dez primeiros do contra-relógio nem o seu chefe-de-fila - Valverde – coube!

É ainda a subida ao Mont Ventoux, na etapa de hoje - 14 de Julho, o dia nacional francês, o dia da tomada da Bastilha – a mais longa, mais difícil e talvez decisiva etapa deste Tour, a caminho daquela paisagem marciana, onde os ciclistas enfrentam a terrível subida e o não menos terrível vento que lhe dá o nome. E onde Froome chegou primeiro que todos os outros, a confirmar uma superioridade imensa. Que não, felizmente, incontestada!

Mas é – e eis a surpresa – também feito de etapas como a 13ª, 13 de azar, no dia 12 - que ligou Tours a Saint-Amand-Montrond. Uma etapa curta – 170 quilómetros -, de altos e baixos, mas sem montanha, para roladores, para ser discutida ao sprint e ganha por um dos sprinters glutões do pelotão. Como foi, ganha – mais uma – por Cavendish, caído em desgraça dois dias antes, quando – se não foi assim, foi essa a ideia que passou – derrubou em pleno sprint final um adversário que preparava a ponta final para um colega, o alemão Kittel, que viria a ganhar a etapa, maior rival do inglês e único ciclista com três vitórias até ao momento. Pois foi esta etapa, uma das que parecem destinadas a simplesmente não ter história, que se veio a revelar uma das mais decisivas e espectaculares deste Tour. Pelos sortilégios do ciclismo, mas também pelo vento, muitas vezes mais temido que as montanhas. Vale a pena contar: ia a etapa a menos de meio e já o pelotão estava partido em três grupos. No da frente seguiam as principais figuras, quando Valverde - segundo classificado, principal adversário de Froome e colega de equipa de Rui Costa – furou e perdeu o contacto. Toda a equipa (Movistar) ficou para trás para o levar de volta ao grupo da frente, à excepção dos outros dois ciclistas no top ten: Rui Costa e Quintana. Não tendo sido de imediato bem sucedidos, quando estavam apenas a doze segundos mas já com o segundo grupo do pelotão a chegar, a direcção desportiva da equipa deu ordens a Rui Costa para, também ele, esperar pelos seus companheiros, ficando lá na frente apenas o jovem colombiano Quintana. Foi então que o grupo da frente decidiu arrumar ali mesmo com toda a Movistar, que “apenas” liderava por equipas, tinha a vice liderança da prova, a liderança da juventude e três corredores nos dez primeiros. Olhando para a corrida, a equipa de Contador, toda ela no primeiro grupo, resolveu ainda atacar, deixando Froome angustiado, a olhar para o lado à procura da equipa que não tinha ali. Valeu então a Froome a sorte dos campeões - com a Team Saxo-Tinkoff de Contador tinham também seguido os sprinters – quando a BMC, de Cadel Evans, que já nada tinha a ganhar, e a Katusha, de Rodriguez, ainda com alguma coisa a defender, resolveram assumir a  perseguição e defender-lha a camisola amarela. Quem pagou tudo isto foi a Movistar, com Valverde e Rui Costa a perderem mais de uma dúzia de minutos que os atiraram bem para fora do top tem. Rui Costa caiu vinte lugares!

Claro que a espectacularidade desta etapa, e a volta que promoveu na classificação, nada retiram à etapa de hoje, com a subida ao Mont Ventoux. Mas não deixou de a influenciar, porque a Movistar, que perdera a cabeça e a corrida quando mandou Rui Costa esperar pelo grupo de Valverde, voltou a fazer hoje tudo errado. O português atacou quando faltavam onze quilómetros para a meta – que no Mont Ventoux são uma enormidade. No mesmo quilómetro, só para se ter uma ideia, foi absorvido e despejado. Quer dizer, em poucas centenas de metros, fugiu, foi apanhado e ficou para trás. Logo a seguir, também sem grande sentido por muito cedo, jogou o às de trunfo – o colombiano Quintana, um trepador que bem poderia ganhar ali.

Froome, que mais uma vez se despediu de Contador quando muito bem quis - em montanha tem sido sempre assim – viria a alcançá-lo, chegando a parecer que lhe agradaria a companhia até à meta. Mas não. Despediu-se também do colombiano e seguiu sozinho até lá cima. O holandês Bauke Mollema é – com alguma surpresa - o segundo classificado. E Contador, que pouco mais tem feito que aguentar-se. o terceiro, ambos a mais de quatro minutos.

Vem aí a última semana, a dos Alpes. E a do contra-relógio de montanha. Mas também de Paris, de hoje a oito dias!

100º Tour de France III

Por Eduardo Louro

 

O Tour entrou ontem e saiu hoje dos Pirinéus, onde, depois de uma entrada de leão, a Sky de Froome e Porte, teve uma saída de sendeiro.

Ontem a Sky assustara toda a gente: adversários e adeptos e amantes da modalidade, para quem seria de todo indesejável uma tão precoce definição da prova. Percebeu-se hoje que só os adeptos ficaram assustados!

Os adversários quiseram hoje, logo à partida, dizer que, impressionados sim, assustados é que não. E logo quiseram confirmar se aquela entrada da equipa de Froome não seria apenas bluf.  Se aquilo de ontem não teria sido para os intimidar logo à partida e levá-los à submissão.

Esta etapa, com cinco montanhas, teve um início de loucos, com toda a gente ao ataque. Em especial a Movistar de Rui Costa, Valverde … e Quintana. Ao fim dos primeiros 40 ou 50 quilómetros já a Sky estava despedaçada. Já Froome estava sozinho e, mais, já Froome tinha que, entregue a si próprio, entrar em despesas de recolagem. E já Porte, como todo o resto da equipa, desaparecera!

À entrada da segunda das cinco escaladas, a primeira das quatro de primeira categoria, já Froome integrava o grupo principal, de onde não mais sairia. De onde ninguém mais conseguiu tirá-lo, apesar dos sucessivos ataques da Movistar, a quem todos os terrenos serviam para atacar, montanha ou plano. Froome resistiu sempre, umas vezes no conforto do grupo, outras respondendo ele próprio aos ataques.

Quando, a mais de 90 quilómetros da meta e com quatro montanhas de primeira categoria para escalar, se viu Froome sozinho, sem apoio sequer para o abastecimento, ninguém acreditaria que o camisola amarela pudesse resistir. Não só resistiu como acabou a etapa em clara confirmação do seu favoritismo, não dando hipótese a qualquer adversário!

Porque parece não ter rivais. Nenhum dos supostos candidatos à vitória final demonstra ter condições para isso. Contador, já era (sempre que Froome respondeu a um ataque o espanhol ficou nas covas) e por isso a sua equipa – Team Saxo Tinkoff, uma das mais fortes - não mexeu uma palha; com Rodriguez a limitar-se a fazer de morto no grupo principal, a Katusha assobiou para o lado. Só a Movistar atacou até achar que já não caberia fazer mais – talvez nem pudesse – dando-se por satisfeita com a derrota de Porte, que lhe garantia o segundo lugar na classificação para Valverde. E ainda as lideranças da juventude (Quintana) e colectiva, e três corredores - Rui Costa era o terceiro - no top ten

Esta etapa de despedida dos Pirinéus prometeu, pois, muito. Não se pode dizer que tenha dado pouco, mas ficou bem aquém do prometido nos primeiros quilómetros, quando parecia mostrar que este seria o Tour mais aberto dos últimos vinte anos. Não o chegaria a confirmar, mas deu para muitas coisas. Deu para perceber que, ao contrário do que ontem deixara perceber, que não tem nada a ver com a do ano passado. Deu para perceber que, ao contrário do que ontem aqui dizia, Porte não é o Froome do ano passado, mesmo que este possa ser o Wiggins.

E deu para confirmar Rui Costa (na foto) na elite do ciclismo mundial: ontem ficara à porta do top tem, hoje entrou mesmo lá. E que Sérgio Paulinho continua por lá, sem que se saiba muito bem a fazer o quê. Que é um corredor de equipa, que tem um trabalho invisível, dizem os entendidos. Deve ser isso: trabalho invisível. Para ajudar o Contador é que não. Nem nunca lá está por perto nem o Contador lá vai de maneira nenhuma!

Segue-se o contra-relógio, já na quarta-feira, e no fim-de-semana regressa a montanha. Então nos Alpes, para fazer as contas finais...

ALPE D`HUEZ

Por Eduardo Louro

 

 

No Alpe d´Huez ganhou o jovem francês – primeira, e muito provavelmente única vitória francesa na prova – Pierre Rolland, líder e provável vencedor do prémio da juventude, mas o espectáculo foi de Alberto Contador, o derrotado de ontem. Contador atacou na penúltima subida – no Telegraph – e, com Andy Shleck – que não acusou o desgaste de ontem – na companhia do nosso Rui Costa, treparam ainda sozinhos o mesmo Galibier de ontem, hoje por outra vertente. Onde Thomas Voeckler foi novamente herói na defesa da sua camisola amarela e Cadel Evans parecia irremediavelmente derrotado.

Na longa descida que se seguiu tudo se reagrupou, iniciando-se a subida final com tudo a zeros. O primeiro a sair, logo no início, seria o jovem francês. Mas o ataque a sério partiria novamente de Contador que foi por ali acima e deixou tudo para trás: espectáculo Contador! Mas o espanhol Sanchez – que se viria a sagrar rei da montanha – fugiu dos manos Shleck e de Evans. Rapidamente alcançou o jovem Rolland que ainda por ali andava e, rebocando-o até lá acima, alcançou Contador e entregou-lhe a vitória.

E pronto: o Tour decide-se no contra-relógio de amanhã, entre Evans e Andy Scleck – agora de amarelo – separados por 57 segundos.

Thomas Voeckler – hoje a imagem do desespero - despiu finalmente o maillot jaune! Que, depois de tanto sangue, suor e lágrimas, já pouco tinha de amarelo!

Lealdade

O ciclismo atinge, nesta altura do ano, com a Volta a França – a maior prova do mundo, ao nível dos grandes acontecimentos noutras modalidades – o estatuto de rei das modalidades desportivas, concentrando a atenção mediática mundial.

Se há modalidade que se alimente dos seus ídolos, os heróis que arrastam multidões e que incendeiam paixões que explodem em rivalidades muitas vezes levadas aos extremos, essa é o ciclismo. Parece-me que apenas o automobilismo, e a fórmula 1 em particular, lhe poderá disputar essa condição.

O ciclismo vive, e é essa a sua história, de duelos. De duelos individuais onde se projectam as paixões que dividem os adeptos. Tudo é visto à luz desta tão simples realidade!

Depois de dois anos de afastamento, por decisão precipitada de pôr fim a uma carreira inigualável de sete vitórias consecutivas na Volta a França, o americano Lance Amstrong regressaria no ano passado. Marcado estava já o duelo com o espanhol Alberto Contador. A idade, também a interrupção da carreira e, por que não, os incidentes próprios da corrida, afastariam este enormíssimo campeão do duelo com o espanhol. Intrometer-se-ia um jovem luxemburguês que puxaria para si o papel de principal desafiador do espanhol: Andy Schleck.

A corrida deste ano transformou-se num extraordinário duelo entre Contador e Schleck que, entretanto, surgiria com alguns handicaps. O maior foi mesmo o abandono, por sucessão de quedas, do seu irmão Frank que, para além de excelente ciclista, seria o esteio do seu apoio de equipa.

Um duelo de gigantes que se vinha desenrolando diariamente, montanha atrás de montanha, com o jovem luxemburguês, apesar de um evidente menor apoio da sua equipa, a ganhar ligeira vantagem e a tomar a maior parte das iniciativas de ataque. Tinha a camisola amarela com uma ligeira vantagem de 31 segundos que, segundo os entendidos, era muito curta para o último assalto: o contra relógio de sábado, onde Contador será teoricamente mais forte.

Ontem, em plenos Pirinéus, Andy Schleck continuava a ser o dono da iniciativa. De repente desencadeia um ataque. Fortíssimo, ao que parecia. Contador não reagiu de imediato e parecia ficar para trás. Era um seu colega de equipa quem respondia quando se solta a corrente da bicicleta do luxemburguês. Não tem alternativa, tem que parar e tentar remediar a avaria. Enquanto isto Contador contra ataca, apoiado no seu colega de equipa e em mais dois interessados: o terceiro e o quarto da classificação geral.

Andy Schleck, apesar de uma corrida épica, em especial aquele resto da subida onde, completamente sozinho, ia passando por tudo e por todos, perde 39 segundos. Os 31 que tinha de vantagem passavam para 8 de desvantagem. A camisola amarela passa para Alberto Contador que, ao vesti-la, vê os aplausos substituírem-se por assobios e apupos.

A atitude de Contador, que não respondera ao ataque frontal e corajoso do seu o adversário mas que logo o soube atacar quando o viu impedido de reagir, recebia a reprovação do público. Perante esta reacção defendeu-se da pior forma: não tinha visto! Vendo que tinha escolhido a pior das formas de se defender, acabaria a pedir desculpa e a penalizar-se pela deslealdade.

Independentemente das opiniões de facção – claro que “Contadoristas” e “Schleckistas”têm opiniões contrárias – mais que a questão do desportivismo e do fair play, levanta-se claramente a questão da deslealdade. É que, ao contrário das respeitáveis opiniões de muitos especialistas, entre os quais Marco Chagas (não quero acusá-lo de “Contadorista” mas é estranho que ache que o público apupa Contador e aplaude Schleck só porque um é espanhol e outro luxemburguês), defender que há aqui um problema de deslealdade não significa dizer que Contador tinha alguma obrigação de parar e ficar à espera de Schleck. Não tinha nem me parece defensável que a tivesse. A alternativa não era essa. Seria sim a de manter as condições da corrida, ficando o adversário com a obrigação de recuperar de um incidente de corrida. O que Contador fez foi bem diferente: aproveitou-se da infelicidade do adversário e atacou. E fê-lo em condições de dinamizar e gerir apoios de que tirou vantagens!

E isto é desleal. Goste-se mais de Contador ou de Schleck! E é por isto que cada vez que o Contador vestir a camisola amarela o público há-de assobiar! Até Paris!

A lealdade é um dos mais rarefeitos valores das sociedades actuais. Os fins justificam os meios. Os interesses pessoais sobrepõem-se a tudo, já só resta a lealdade dos interesses: aquela deplorável lealdade canina (não confundir com a lealdade dos cães, a mais nobre das lealdades) e subserviente. A outra, a da honra e da coragem, essa desapareceu!

 

 

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