Começa hoje o julgamento do ataque à Academia do Sporting, em Alcochete. O circo está montado em Monsanto, e o espectáculo promete. Pela lista de testemunhas arroladas por Bruno de Carvalho, que inclui as duas mais altas figuras do Estado, que anunciara processar por o terem condenado na praça pública e, aos olhos da opinião pública, terem feito dele culpado. Pela reconstituição, que já solicitou, mas acima de tudo pelo seu próprio potencial de encenação.
Nestas coisas Bruno de Carvalho raramente falha. É espectáculo garantido... Começa hoje, e só se sabe que não irá acabar tão cedo...
O acto terrorista - bem sei que os puristas do Direito não gostam desta adjectivação - de Alcochete obrigou as principais figuras do Estado a deixar de fingir que não percepcionavam a violência instalada no futebol. Presidente da República, sentindo-se vexado, Presidente da Assembleia da República, com tão necessária veemência quanto tão desnecessária polémica e Primeiro-Ministro, anunciando mais um órgão na convicção que, assim, "protege o futebol de quem o quer o destruir", cumpriram os mínimos. Veremos se no domingo à tarde voltam a fingir tão completamente...
Agora falta o resto. Porque, do lado do futebol, se a nada for obrigado, nada fará. Percebe-se isso nas diferentes reacções dos principais clubes, e percebe-se isso no silêncio ensurdecedor do Presidente da Federação Portuguesa de Futebol!
O que hoje se passou na Academia do Sporting, em Alcochete, pode querer dizer que a loucura em que se transformou o futebol em Portugal bateu no fundo.
Espero que sim. E que sirva, desde logo e em primeira instância, para que o Sporting resolva os seus problemas, a começar por se livrar do clima insustentável que o seu presidente instalou. E inevitavelmente do próprio presidente. Depois, para que o poder político enfrente de vez as coisas do futebol, sancionando severamente todos os comportamentos socialmente inaceitáveis: impedindo o acesso aos estádios a todos os adeptos que façam da violência um modo de estar; não fechando os olhos nem os ouvidos às declarações de incitamento à violência dos dirigentes; deixando de ignorar a promiscuidade entre a política e o futebol e, finalmente, passando a actuar, através da regulação, sobre as televisões no que respeita à pouca vergonha dos programas de suposto debate do futebol, que transmitem a toda a hora, pondo em causa, se necessário for, as licenças que lhes estão atribuídas.
Se o que hoje se passou em Alcochete servir para isto, em vez do dia mais negro da história do Sporting, este poderá ser um dos dias mais importantes da história do futebol português. O desafio é grande. Haja coragem!
A notícia, mesmo que mal amanhada, enchia ontem a primeira página do Record. Mas é tal qual a ouvi num telejornal da hora de almoço que verdadeiramente ganha expressão: "O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras visitou os três grandes à procura de ilegais. Encontrou quatro em Alcochete e nenhum no Seixal. Do Olival nada se sabe"!
Significativo. Tanto como a capa do Record...
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