A esta hora continua reunida a CPI à TAP, com a pouco ex-CEO - tão pouco que continua em funções, mas no meio de tanta confusão esta é apenas mais uma - Christine Ourmières-Widener, ainda a responder ás questões dos deputados. O que já se ouviu que disse só nos pode deixar perplexos, mesmo que não exactamente surpreendidos. Surpresa é um dos sinónimos da perplexidade, mas não é o único.
Não surpreende pela simples razão que este governo está cheio de gente que já não nos consegue surpreender. De muitos destes governantes já nada nos surpreende. Mesmo quando tomamos conhecimento de coisas inacreditáveis, de comportamentos verdadeiramente surreais.
Ficamos a saber que toda a gente tem mentido. Mas também já desconfiávamos disso. Ficamos a saber que, antes da sua primeira audição no Parlamento, a ex-ainda-CEO foi "briefada" por membros do governo e deputados do PS, para alinharem posições. É chocante, mas também já sabíamos que eram capazes de coisas dessas.
Até aqui, não há, pois grandes surpresas.
Não seria ainda motivo de grande surpresa ficarmos a saber que o Secretário de Estado - Hugo Mendes - a pressionou a mudar um voo de Moçambique, atrasando-o por um dia, por dar jeito ao Presidente da República, de regresso da sua viagem àquele país. Um membro do governo pedir a alteração de um voo, "nas tintas" para os prejuízos decorrentes para a Companhia, e para os restantes passageiros, infelizmente também já não surpreende.
A perplexidade surge, por mais alertados que estivéssemos para o amadorismo, e para a informalidade "whatsapista" da tal gente que enche este governo, quando ficamos a saber que um Secretário de Estado do governo deste país se dirige à chefe de uma empresa, por escrito - de o dizer já seria insólito, de o escrever é a incompetência elevada ao expoente máximo -, a justificar "o incómodo" pelo imperativo de não criar atritos com o Presidente da República, que "é o nosso maior aliado mas pode tornar-se no nosso maior pesadelo"!
Conhecido o Relatório da Inspecção Geral de Finanças, que concluiu pela nulidade da indemnização que a TAP pagara à antiga administradora, depois Presidente da NAVE e, depois ainda Secretária de Estado do Tesouro relâmpago, Alexandra Reis, o governo "decapitou" o topo da administração da transportadora aérea nacional para, assim, dar por encerrado o caso.
Sabemos que Fernando Medina não tinha outra alternativa que não fosse entregar, na bandeja que o Presidente Marcelo lhe estendera, a cabeça da CEO, a francesa Christine Ourmières-Widener e do "Chairman", Manuel Beja. Mas, também sabemos, todos, que não está encerrado. Virou-se apenas uma página das muitas que ainda estão por folhear, e ninguém pode ainda dormir descansado.
Fernando Medina tem tudo para continuar com insónias e pesadelos. O pior, é que nós também!
Assunto resolvido! Diz o Presidente, já a chamar pelo freguês que segue, até porque dia 30 (vai para o Brasil) é já depois de amanhã, e ele tem que se despachar ...
O assunto era político, não tinha mais nenhum problema. Não havia qualquer problema de legalidade, como logo de início havia proclamado, ou não tivesse esse ficado desde logo resolvido pelo mano. Só falta mesmo dar posse à/ao senhora/senhor que segue. E por isso despachem-se, se não ainda perde o avião.
Se, com a pressa, alguém tropeçar numa pedra donde saia já mais outra coisa qualquer do género, logo se vê... Convém é não estragar os sapatos. Esses é que nunca escapam...
E se Fernando Medina, conhecedor de toda a história da senhora Alexandra Reis através da sua própria mulher - directora jurídica da TAP até Março, donde saiu no mês que seguiu ao da senhora de lá ter saído com meio milhão de euros no bolso, por quem todo o processo naturalmente teria de passar -, a tivesse nomeado apenas para que viesse a ser conhecido um caso que, de outra forma, nunca chegaria ao conhecimento público?
E se Fernando Medina tivesse escolhido Alexandra Reis para sua Secretária de Estado para liquidar de vez Pedro Nuno Santos?
Não. Isto não cabe no domínio das teorias da conspiração. É apenas ficção mal amanhada de quem já viu um porco a andar de bicicleta na política portuguesa...
Nas vésperas do Natal ficamos a saber o que há muito sabemos - que, faça o que fizer e diga o que disser, o Presidente Marcelo, tem a aprovação da grande maioria dos portugueses. Tão grande como a que o elegeu e reelegeu.
A sondagem do ICS/ISCTE para o Expresso e para a SIC, dada a conhecer no final da semana passada, mostra como uma larga maioria dos inquiridos (71%) dá suporte à criticada - e criticável - "incontinência verbal" de Marcelo. Àquilo que, há anos, Passos Coelho não queria na Presidência da República e designava de"catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político". Sufrágio que, de resto, Marcelo exibia triunfalmente na sua expressão facial nos banhos de multidão com que antecedeu a noite da consoada, no Barreiro, para a ginginha, ou em Odemira, para os imigrantes.
Num e noutro lado, sem dizer, Marcelo dizia: " estão a ver? Critiquem-me à vontade, digam que estou xé-xé, que não digo coisa com coisa, que falo de mais, que deveria falar menos e pensar mais..."
Se o outro diz "habituem-se", Marcelo diz "já estão habituados"...