Aqueles a quem chamam activistas do clima, ou são imbecis; ou são agentes de provocação recrutados cirurgicamente para fins eleitorais. Podem ser uma coisa ou outra. Ou até ambas. O que não são, de certeza, é defensores de coisa nenhuma. Menos ainda da causa climática!
No inverno chove. Às vezes chove muito. Quando chove muito, há cheias em Lisboa. Às vezes morre muita gente, tanta que nem nunca se chega a saber quanta. Às vezes dá jeito que não se saiba. Em 1967 foi assim.
Esta noite choveu muito em todo o lado. E choveu muito em Lisboa. Houve cheias e morreu uma pessoa. Sabe-se que morreu uma pessoa.
Os túneis de escoamento que Lisboa aguarda há décadas que sejam construídos no subsolo, podem esperar. Têm podido esperar. Afinal as alterações climáticas só dão seca e Lisboa é só para estrangeiros. E, ao contrário das gravuras, sabem nadar. Yo!
Hoje, no último dia do prazo, o Banco de Portugal entrega finalmente na Assembleia da República a lista dos grandes devedores da banca, depois de, em Janeiro passado, ter sido aprovada a lei que obriga as instituições de crédito a divulgar informação sobre os créditos que provocaram as perdas que as conduziram ao pedido de auxílio do Estado.
Depois de tanta resistência em fornecer esta informação, levantando sempre os maiores problemas, sempre perdidos nos excessos das tecnicalidades apenas acessíveis aos seus altos quadros, o Banco de Portugal acabou por fazer chegar ao Parlamento não uma, mas duas listas: uma para os deputados, e outra para divulgação pública.
É sempre assim, cada vez que falamos de transparência...
Amanhã, os alunos das escolas portuguesas, depois de em Março terem aderido ao grande protesto mundial dos estudantes ("não há planeta B"), vão participar numa greve climática para desenvolver acções de protesto pelas agressões ambientais em 34 cidades.
Mas há testes marcados para esse dia. E os alunos vão ter falta injustificada, justificada por todos os directores escolares, mesmo pelos que saúdam o seu abraço à causa, e juram encontrar toda a justificação para o protesto.
Hoje é dia de protesto dos jovens. Hoje é dia de greve às aulas... pelo clima. Não é contra os professores, nem contra o ministro. É contra todos nós. É um protesto pelo estado em que lhes estamos a entregar o planeta. Pela indiferença com que temos encarado e continuamos a encarar as alterações climáticas que dramaticamente lhes acabam com o futuro. Que é deles, mas cada vez menos lhes pertence.
Tudo começou há pouco mais de seis meses, com uma miúda sueca de 16 anos, Greta Thunberg e com a mais inquietante das suas interrogações: “porque hei de preparar-me para um futuro que pode não existir?”
A partir daí não parou de inquietar o mundo, e é hoje uma das mais fortes candidatas ao Prémio Nobel da Paz (sim, Mr Donald Trump). Que o seu exemplo seja hoje replicado. Em Portugal e por todo o mundo!
Trump aproveitou as terríveis temperaturas que estão a atingir o Midwest americano - ontem, -28º em Chicago, e diz-se que hoje será ainda pior -, capazes de, em apenas cinco minutos de exposição ao ar livre, congelar e a seguir queimar todas as extremidades do corpo, para, mais que voltar a negar o aquecimento global, ridicularizar a ciência que o demonstra.
Trump nunca é mais que um ignorante quando nega as alterações climáticas, mas transforma-se num perigoso demagogo quando ridiculariza a verdade. Como só ele sabe fazer. No twitter, evidentemente ...
Não foi um fim-de-semana sem História, este que acabamos de largar. Mesmo que o calendário lhe tenha roubado um dia com muita História, ao encavalitar o 1º de Dezembro no sábado...
Em Buenos Aires, sem condições de segurança para organizar um jogo de futebol, teve condições para reunir o G20. Onde Trump não pôde dar muita confiança a Putin, que acabou por ter que se entreter com o jovem Mohammed bin Salman, mas pôde fazer um intervalo no braço de ferro com Xi Jinping, já a caminho deste nosso cantinho, onde coisa que não tem é problemas de comércio. Cá já manda ele...
Para que Putin não ficasse chateado, Trump não se podia esticar com o chinês. E aproveitou a morte de George H W Bush para dar a conversa por acabada. Não dá para continuar, tenho que ir tratar do funeral ...
Também Macron teve que se despachar porque Paris já estava a arder. Nada escapou aos protestos dos gilets jaunes, infiltrados de activistas do terror e do vandalismo... Nem mesmo o sagrado Arco do Triunfo, lá no alto dos Campos Elísios.
Em Bruxelas marchou-se pelo clima, como que a fazer a ponte de Buenos Aires para Katowice, onde o palco já está montado para a 24.ª Conferência da Partes (COP24), da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, às voltas com as metas para a limitação do aumento da temperatura.
Por cá? Bom, por cá foi fim-de-semana gordo para os supermercados. E para o Estado...
Os incêndios trouxeram o Apocalipse à Califórnia. Só neste que desde 8 de Novembro lavra a norte, que já devorou a cidade de Paradise, e que não será possível de controlar antes do final do mês, os números são verdadeiramente apocalípticos: 76 mortos, à espera da actualização pelos mais de 1300 desaparecidos; 12 mil edifícios destruídos; e 60 mil desalojados.
À voracidade das chamas acresce a voracidade do fumo, que transformou já o norte da Califórnia na região com piores níveis de poluição no mundo, acima de muitas das mais sobre-poluídas cidades da China ou da Índia.
Há muito que os especialistas dizem que as alterações climáticas fizeram aumentar a temperatura média, aumentando os riscos de incêndio, e secaram os solos, agravando-lhe as consequências. E os Estado Unidos são, depois da China, quem mais contribui para o aquecimento global.
Já depois de ter admitido que o aquecimento global “pode ter contribuído um pouco” para a progressão fulgurante das chamas, interrogado por um jornalista se mantinha as suas convicções sobre as alterações climáticas, Trump garantiu que sim, que eram bem firmes e que ... traria de volta o bom clima à América.
Perante a tragédia dos incêndios na Grécia é impossível não lembrar o que se passou em Portugal no ano passado, que nunca seremos capazes de esquecer.
Portugal e Grécia têm muita coisa em comum. A maior delas é a geografia, por muito que muitos, alguns de forma miserável, queiram encontrar outras. E, logo a seguir, o nível de desenvolvimento que, se calhar, empurra o mais miseráveis para as mais miseráveis comparações.
Em Portugal os incêndios queimaram e mataram no interior desertificado e pobre, e a responsabilidade foi atribuída à macrocefalia do país, de um país virado para o litoral, de costas para o interior. Na Grécia ardeu o litoral, arderam as praias e os resorts, apinhados de gente, e a responsabilidade foi atribuída à especulação imobiliária.
O norte da Europa, atingido pelas altas temperaturas do sul, também está a arder. Noruega, Finlândia e especialmente a Suécia, estão, como nunca, a ser devastadas por fogos. E no entanto pouco - ou mesmo nada - têm em comum com a Grécia e Portugal.
Por todo o mundo os incêndios estão a tomar proporções nunca vistas, mesmo naquelas zonas mais habituadas a estas catástrofes, como aconteceu há semanas na Nova Zelândia, e na semana passada na Califórnia.
No Japão, mesmo sem incêndios, morre-se por estes dias ... de calor. E noutras regiões com inundações...
Não vale a pena ignorar. Há 30 ou 40 anos que andamos a ser avisados disto pela comunidade científica. Nunca foi dada importância nenhuma a esses avisos, havia sempre coisas mais importantes a tratar. Trump ainda hoje nega isso tudo, e continua a ter coisas mais importantes para fazer...
Estamos já a viver aquilo que muitos de nós, sempre centrados no nosso umbigo e incapazes de ver um bocadinho mais além, julgávamos não acontecer no nosso tempo. Aquilo que sempre pensamos que seria problema dos outros, e muito particularmente dos que cá chegassem depois de nós.
Claro que não sentimos, todos, os efeitos da mesma maneira. Os mais desenvolvidos terão sempre mais condições para os minorar. Por isso os incêndios matam mais na Grécia e em Portugal que na Suécia ou na Noruega!
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.