Passos não apregoa apenas o empreendedorismo prá-frentex, é ele próprio um empreendedor de última geração que vê em cada ameaça uma oportunidade. E um visionário…
Fala-se muito de ameaças e de oportunidades mas nem sempre se sabe muito bem do que é que se está a falar. São dois conceitos que andam de braço dado, inseparáveis mesmo.
Se tratamos de planeamento estratégico, lá partimos nós das ameaças e oportunidades da análise swot (para quem possa não saber, e de forma muito ligeira, é isso mesmo: um técnica de diagnóstico onde, de um lado, inventariamos as ameaças, os perigos, ou os pontos fracos e, do outro, as oportunidades ou os pontos fortes). O planeamento estratégico passa por aí: avaliar bem o ponto onde estamos e definir bem para onde queremos ir. E, claro, avaliar bem o nosso ponto de partida obriga-nos a perceber o que fazemos bem, onde é que dispomos de facto das chamadas vantagens comparativas: as nossas oportunidades. Mas também a conhecer os nossos pontos fracos, porque é aí que temos de investir. Para melhorar e fazer o caminho que há a percorrer até ao objectivo estratégico. Para implementar processos de melhoria que façam dos pontos fracos alavancas de progresso ou, e aí está o jargão, transformar ameaças em oportunidades.
Mas também quando, como é a nossa eterna sina, estamos mergulhados nas crises é vulgar ouvirmos alguns gurus falar em copo meio cheio ou meio vazio. Querem dizer-nos que podemos olhar deprimidos para as crises e ver bem os perigos e as ameaças que lá estão: o copo meio vazio que, acrescentam eles, não leva a lado nenhum, e não resolve coisa nenhuma. Coisa de vencidos da vida, sentenciam! Ou que podemos olhá-las de frente, como quem parte para os cornos do toiro, decidido a encontrar as oportunidades que, qual copo meio cheio, garantem existir em todas as crises. Querem então dizer-nos que não podemos perder nunca a coragem e o ânimo porque as oportunidades estão lá, bem no meio de todas aquelas dificuldades. Há apenas que saber transformar todas essas ameaças em oportunidades!
É neste “apenas” que está o busílis da questão. Nós até percebemos que haja muitos gurus a afirmar isso: é que eles ganham mesmo a vida a dizer essas coisas. Essas são as coisas que se vendem bem em tempos de crise - é aliás por isso que eles se dão tão bem em Portugal – e, por isso, para eles é fácil. Para os restantes é realmente difícil!
É precisamente por isso que vale a pena trazer aqui o melhor exemplo – pelo menos o melhor que eu conheço – do que é esse milagre de transformar ameaças em oportunidades. Uma coisa são as tretas dos gurus. Outra é a coisa em si, em carne e osso, o clique, o yes we can!
Falo de Paulo Futre, como já terão percebido. Lembremo-nos daquela conferência de imprensa, da cara do Dias Ferreira, dos charters de chineses a deixarem no Sporting comissões dos restaurantes e dos museus. Das voltas que aquilo deu no youtube, da chacota nos cafés e nas tertúlias, das anedotas e das T shirts. Alguém é capaz de imaginar maior desgraça? Ainda por cima, e como era evidente, perdeu e fez perder as eleições no Sporting. Querem maior ameaça?
Não havia quem não ficasse de rastos, escondido nos buracos todos que encontrasse, sem sair à rua. Paulo Futre fez tudo ao contrário: respirou fundo, levantou-se e a primeira coisa que fez foi arranjar um chinês para ir à televisão. Começou pela TVI, a brincar, também ele, com ele próprio. Seguiu-se, de imediato, a campanha do Licor Beirão. E mais entrevistas nas televisões, e nos jornais. E na imprensa cor-de-rosa. Tinha um livro planeado mas antecipou-o, era preciso aproveitar a onda. E lançou o livro. E voltou às televisões: a todas, num corrupio de promoção do livro, com mais entrevistas, com globos de ouro… Sempre concentrado. Concentradíssimo, sócio!
Vai vir charters de oportunidades. Acreditem!
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