Apesar da sua provecta idade Joe Biden vem dando mostras que não chegou à presidência da América para passar uma velhice tranquila (nunca o seria), mas para exercer o poder no ainda mais poderoso país do globo, afirmando-lhe essa condição.
Chamar Putin de assassino é provavelmente a mais veemente afirmação do poder da América que Biden está a recuperar. Podem colocar-se reservas do ponto de vista diplomático, e podem até levantar-se questões de substância jurídica. Mas, do ponto de vista político, esta acusação estrondosa não é só inatacável como é a todos os títulos saudável.
É preciso que alguém diga a Putin que é um assassino. Que tem matado na Rússia, na Bielorrúsia, ou na Ucrânia. Que matou barbaramente na Síria. E que tudo faz para sabotar as democracias por todo o mundo, procurando sistematicamente minar e manipular os mais decisivos processos eleitorais do ocidente. É preciso alguém que diga que não tem medo de Putin. E é preciso alguém que lhe diga sem meias palavras que está de olho nele.
E só Biden disse isso. "Make America great again" é isto. Não é uma mera expressão panfletária estampada nos bonés com que Trump cobria a cabeça curvada e reconhecida a Putin.
Até há bem pouco tempo, há apenas alguns anos, uma revelação como a que fez o New Yok Times - Trump não pagou impostos em dez dos últimos quinze anos antes de chegar à Casa Branca, e no ano em que foi eleito, bem como no do primeiro ano ano de mandato, pagou 750 dólares - em tempo de contenda eleitoral na América, era fatal.
Nenhum candidato resistiria a uma revelação destas. Em sociedades desenvolvidas não é muito apreciado que um homem de negócios de sucesso não pague impostos. Na América é ainda menos apreciado que um tipo que se anuncia homem de negócios de sucesso seja um charlatão. Não o rei Midas que se anunciava, mas simplesmente um empresário de projectos falidos, com centenas de milhões de dólares de prejuízos acumulados financiados por dívidas impagáveis.
Já não é assim. Quatro anos da realidade virtual de Trump alteraram isso. O presidente americano não se preocupou rigorosamente nada com a divulgação. E despachou o assunto com resposta chave: fake news!
Aí está. Com fake news constrói a sua realidade virtual, mentira em cima de mentira. Com fake news, com "é mentira", institucionaliza a mentira. Porque, como dizia Dan Coates, um dos vários responsáveis pelos serviços de informação da Casa Branca que Trump despachou ao longo do mandato, “para ele, uma mentira não é uma mentira. É simplesmente o que ele pensa. Não consegue distinguir entre a verdade e a mentira”.
Trump tem estado a tentar construir uma América à sua imagem, que não consiga ela própria distinguir a verdade da mentira. As eleições que aí estão a um mês de distância ditarão a medida do sucesso desse seu modelo.
Em Orlando, na Florida, Donald Trump acabou de arrancar com a campanha da recandidatura. A tentar convencer que voltou a fazer grande a América ("make America great again"), como se a América alguma vez tivesse deixado de ser grande, a proposta de Trump é, agora, a de a manter grande. E o lema "keep America great".
Estranha noção de grandeza é a de Trump. Bastou que ontem, em Sintra, Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu, tenha dito que poderia regressar ao programa de compra de dívida (e com isso ter animado os mercados financeiros), para Trump vir a correr para o Twitter mostrar a pequenez da sua grandeza. Escreveu o presidente americano que garante ter tornado a América grande, e que promete continuar a mantê-la grande: “Mario Draghi acaba de anunciar mais estímulos, o que imediatamente desvalorizou o euro em relação ao dólar, tornando injustamente mais fácil para eles concorrerem contra os EUA. Fazem-no de forma impune há anos, juntamente com a China e outros."
Mais um tiroteio nos Estados Unidos. Do nada, só porque sim. Um participante num torneio de videojogos, em Jacksonville, na Florida, desatou aos tiros, matou dois colegas e feriu onze, antes de se matar a si próprio.
Porque sim. Porque tinha mau perder. E porque ... sim, isto é a América. A América dos lobies, onde o das armas é o maior de todos. Onde é demasiado fácil ter acesso a armas...
E onde se prepara o funeral do senador John McCain, a reserva moral do Partido Republicano, e da América. Sem Trump, conforme expressa e publicamente manifestou em vida.
Espera-se agora que o inquilino da Casa Branca, que nunca o respeitou em vida, o respeite na morte. E que se abstenha de aparecer... É o mínimo que se lhe exige!
A semana que está a terminar marca o regresso dos bombardeamentos americanos ao Iraque. Hoje mesmo, logo depois da meia-noite, os caças-bombardeiros norte-americanos lançaram o maior dos ataques até ao momento contra posições dos jihadistas do Estado Islâmico (EI), depois de umas primeiras notícias que davam conta da estratégia americana de armar os curdos, para lhes entregar as tarefas de combate ao fundamentalismo islâmico a quem os deslumbrados, ignorantes e irresponsáveis Bush, Blair, Asnar e Barroso entregaram o Iraque.
É difícil remediar o irremediável, e na política externa americana tem sido frequente que a emenda saia pior que o soneto. O próprio Iraque, e Sadam, foram exemplo disso, e da última vez que decidiram armar uns para combater outros deu no que deu no Afeganistão…
Já nada consegue remediar os disparates aventureiros de Bush, o Iraque jamais voltará a ser o tampão que era ao crescimento do jihadismo e o mundo nunca mais será tão seguro como era até 2003, mas seria talvez tempo de aprender alguma coisa com a História.
Por isso, e porque não é bonito mandar limpar aos outros a porcaria que fizemos – mas esse é o lado para os americanos dormem melhor –, é bom que, se forem capazes, resolvam agora o problema, sem voltar a mexer em mais um enxame…
Ontem, numa prisão do estado americano da Georgia, foi executado o cidadão norte-americano Troy Davis que, durante os mais de vinte anos que passou no corredor da morte, jurou a sua inocência na morte de um polícia à paisana, em 1989, de que era acusado. Sucederam-se os recursos, os apelos e as petições, e as provas irrefutáveis nunca apareceram – arma do crime, que nunca foi encontrada, impressões digitais, etc. –; mas a sentença permaneceu, implacável, até à sua execução. Ontem!
É chocante. Porque a pena de morte choca e porque choca ainda mais numa sociedade como a americana, esse farol da liberdade e da democracia apontado ao mundo e paradigma de civilização e do desenvolvimento. Mas também pela frieza de uma pena de morte aplicada numa condenação sem objectivas e irrefutáveis provas de culpa.
Várias foram as personalidades que pediram clemência e reclamaram o indulto desta pena: actores e actrizes de HollWood, o ex-presidente Jimmy Carter e até o papa Bento XVI. O presidente Obama, chamado a intervir, fez como Pilatos. Que não tinham nada a ver com aquilo, que era assunto do Estado da Georgia e não da competência do seu poder federal!
Não sei quantas pessoas terão sido executadas durante o mandato de Obama, mas sei que a esperança que o mundo depositou em Obama não encaixa nesta indiferença. Sei que o Obama que lava as mãos desta maneira nãos a pode voltar a mostrar ao mundo. Porque estão sujas!
Hoje, na assembleia-geral da ONU, a Palestina pede o reconhecimento do seu Estado como o 194º membro da Organização. É minha convicção que, no actual momento histórico e sem me deter em argumentações que seriam fáceis de encontrar, porque esse não é agora o objectivo, seria fácil votar este pedido de adesão, um dos maiores, se não os maior, contributos para a solução do eterno problema do médio oriente que, como todos já percebemos, há muito que deixou de se limitar àquela zona do globo.
Mas os EUA não o permitem e Obama veio explicar que é preciso negociar primeiro. Não diz é o que é há a negociar quando, como todos sabemos, o que está em causa são os colonatos que Israel instalou e que continua a instalar. E que, enquanto contar, como conta, com a protecção americana, continuará a expandir sem nada negociar.
Quando Obama anuncia o veto e diz que preciso, primeiro, negociar, está a lavar as mãos, exactamente como fez perante a execução de Troy Davis! E, como aí, a trair a esperança dos que vibraram com a sua vitória eleitoral há apenas três anos!
Há três anos o mundo elegeu Obama. Pode ser que daqui por pouco mais de um ano os americanos o reelejam!
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