Pois... A mim é que não me interessa nada até onde pode chegar André Villas Boas. Parece-me que não chega longe, mas isso é problema dele... E para que não acabe num beco sem saída o melhor mesmo é ir gritando o seu portismo, mas sempre a negar o regresso... De sucesso profissional é que já começa a ficar pouco de mais para contar... E se calhar de profissionalismo também!
Esta é a centésima edição do Futebolês. É o número 99, mas como o primeiro foi o número zero… Não é razão para festejar, se o fosse comemorar-se-ia hoje o número 100, que só surgirá na próxima semana. Como se faz com as passagens de década, de século e de milénio. Em 1999, com a passagem para o ano 2000, festejou-se a passagem do milénio. Em 2009, a primeira década deste século. Indevidamente, porque não houve ano zero; o primeiro ano foi o ano 1, ao contrário do que se passa aqui no Futebolês.
Talvez porque estes números mais redondos nos levam sempre a olhar para trás, hoje regresso a uma certa dimensão erótica da bola que por aqui passou, em particular no número 1 (Beijar), que foi justamente o segundo, mas também noutros dos primeiros números. É aquela ideia da bola transformada na mais apetecida das beldades, que 22 rapazes disputam até ao limite das suas forças (o futebol feminino começa a dar cabo desta narrativa idílica, mas deixem passar). Numa beldade rebelde e insinuante que tão depressa se entrega, dócil e meiga, apaixonada, como, de repente, ultrapassa todos os limites da irreverência, salta de uns braços (leia-se pés) para outros sem que ninguém a segure, ninguém a domine e ninguém lhe possa chamar sua.
Evidentemente que, num campo cheio de rapazolas na flor da idade, não faltaria quem lhe quisesse oferecer o corpo. Uma beldade destas - insinuante, rebelde, muito dada a uma certa vadiagem e pouco a fidelidades - tem muito por onde escolher. Atrevida, manda-se a eles!
E é este manda-se a eles que reverte a situação, acabando por transformar a oferta do corpo – bem diferente de venda do corpo, como se percebe, e que estabelece as fronteiras desta dimensão erótica, fechadas à pornografia – numa missão de sacrifício. Oferecer o corpo à bola não é, assim, uma simples oferta que se aceita ou rejeita. Nem junta o prazer da oferta – oferecer é normalmente um acto de prazer – aos prazeres do corpo.
Oferecer o corpo à bola é sempre um acto deliberado. O corpo entrega-se – dir-se-ia de corpo e alma - à bola, ao contrário do que acontece noutros encontros de ocasião. Que os há, e bem suspeitos!
E não pensem que tenho apenas em mente aqueles encontros de particular abuso, em que a bola ultrapassa os limites da rebeldia e do atrevimento e atinge o puro descaramento, atirando-se directamente às chamadas partes baixas dos rapazes. Não, estou também a pensar em fugazes e escondidos jogos de mãos, de carícia aqui e afago ali, sempre que a ocasião o permita.
Não tem, claro, o arrebatamento da grandeza destemida de oferecer o corpo à bola, às claras e à vista de todos. Dê no que der. Nem a exuberância de movimentos contorcionistas de uma bolada nas ditas partes baixas. Mas tem a adrenalina do flirt, a sensação única da transgressão e aquele prazer indescritível da cumplicidade escondida ou mesmo secreta. Como sempre acontece nestas circunstâncias, toda a gente está a ver. Eles é que, como os jovens de antigamente, tão enamorados quanto ingénuos, pensam que ninguém vê. Acontecem no recato e no aconchego da grande área, precisamente para onde toda a gente tem os olhos virados, tão expostos quanto num banco de jardim numa tarde de sábado cheia de sol. O Rolando, por exemplo, é um dos maiores especialistas desta marmelada. É useiro e vezeiro em passar a mão pelo pêlo da bola em plena grande área, pensando que, lá porque conta com a cumplicidade do árbitro, ninguém mais vê. Mas lá está, toda a gente vê. Menos quem deveria!
Não digo que não seja rapaz de dar o corpo à bola – embora tenha por lá colegas bem mais dados à tarefa - mas do que ele gosta mesmo é destes encontros de ocasião. Que, como se vai vendo - especialmente em ambientes a que está menos habituado, na selecção ou mesmo nos jogos europeus do seu clube – lhe começam a criar algumas dificuldades. Logo a ele que foi o primeiro a falar em dar o salto, contando até que o André Vilas Boas não perdesse o seu número de telefone.
E, já que isto foi desaguar ao novo Dragão de Ouro, cá estamos já todos à espera – 30 anos passam num instante - das suas memórias, com prefácio de Pinto da Costa. Prefácio e título: A Cadeira de Sonho!
Um verdadeiro especialista em dar o corpo à bola, este Pinto da Costa!
Diz-se que o Chelsea de Abramovich convenceu o André Villas-Boas a seguir as pisadas de Mourinho. Parece que terá bastado oferecer-lhe um salário anual de 5 milhões de euros para ele se dispusesse a levar a cadeira de sonho do Dragão para Stamford Bridge. Sem dela se levantar...
Pinto da Costa é que garante que a cadeira vale 15 milhões: em euros, bem menos em libras!
O Porto de Pinto da Costa agora até já em cadeiras faz milhões.
Mas nem sempre tudo lhe corre bem: agora tem 15 milhões mas não tem treinador.
Desta vez errou quando não acreditou suficientemente em Domingos! Houve ali um tempito, quando o calendário vira e se começa a ser tempo de mexer nas pedras que vão fazer a nova época, em que as coisas não lhe estavam a correr muito bem. Pinto da Costa deixou-o então cair – o Braga até desinvestiu na sua equipa cedendo um conjunto de jogadores – e convenceu o seu amigo Salvador que o Leonardo Jardim é que era.
“No final da passada semana começaram a surgir notícias que davam conta do envolvimento do FC Porto. Que Pinto da Costa, bem à sua maneira, classificava de imbecilidades.
Dizia-se que, também bem à sua maneira, o teria contratado já para a eventualidade do André Vilas Boas sair. Para a hipótese de chegar uma proposta do estrangeiro que o levasse da sua tal cadeira de sonho. Com um plano B, bem à Pinto da Costa: se o rapaz não fosse levado a deixar a sua cadeira de sonho, o destino temporário do madeirense seria Braga.
Uma viagem de Aveiro ao Porto com escala em Braga!”
Agora Pinto da Costa vai ter que chatear o António Salvador, sem que se livre de lhe ter de entregar umas migalhitas do que vai receber do Chelsea. A contragosto, porque não era isso que estava no guião! No guião, o madeirense faria o tirocínio em Braga e chegaria ao Dragão já sem cueiros, porque a massa não é a mesma do Villas-Boas!
Aqui há uns cinco anos aconteceu qualquer coisa de semelhante com o Boavista e um tal de Jesualdo Ferreira, que este mesmo António Salvador tinha despachado de Braga. No meio de tudo isto quem tem mesmo azar é Domingos. Ai se ele pudesse voltar atrás…
O futebol tem, como se sabe, muito de religião. São muitos os pontos de contacto entre a religião e o futebol, muito para além do factor alienante que é frequentemente invocado! Estranhamente o futebolês não recorre muito a esses pontos de contacto: ao contrário do que poderia parecer esta crença não tem nada a ver com a fé religiosa ou com a crendice básica que tantas e tantas vezes sustenta as religiões. E a ignorância!
A crença, em futebolês, corresponde a um estado de espírito colectivo que se traduz num forte acreditar. Em acreditar em si, nos seus pares e nos seus líderes! Nada que seja exclusivo do futebol: é antes um dos alicerces de qualquer teoria de motivação. É qualquer coisa de fundamental sempre que se trate de gerir recursos humanos. E, como sabemos, tudo o que seja desporto colectivo de alto rendimento transformou-se no mais exigente laboratório de manipulação de variáveis de comportamentos físico e emocional de pessoas com vista à optimização de desempenhos.
Manuel Sérgio, o professor que tenho por grande filósofo do futebol, e que frequentemente aqui cito, usa esta expressão emblemática: “uma grande equipa vive de uma grande crença”!
É de facto assim: uma grande equipa de futebol é constituída, indubitavelmente, por grandes jogadores, por jogadores de grande capacidade técnica em boa condição física. Mas se lhes faltar a crença – uma grande capacidade psicológica capaz de os fazer ultrapassar os obstáculos, as dificuldades e as contrariedades – falta-lhe aquele plus, aquela mola que é capaz de transformar o azar em sorte, a tristeza em alegria e, no que finalmente mais importa, de virar a derrota para a vitória.
Incutir essa crença na equipa é seguramente a mais exigente das tarefas do líder, do treinador. Não havendo quem a não saiba cumprir de todo, raros, raríssimos, são os que permanentemente a conseguem desempenhar. Qualquer treinador consegue num determinado período, nem que seja num único jogo, transportar para a equipa toda a carga motivacional que a faça transcender-se. De forma idêntica qualquer jogador consegue reagir positivamente a esses estímulos. Já é bem mais difícil encontrar um treinador que consiga manter os índices psicológicos da equipa no topo, se não na totalidade, na maior parte e nos mais decisivos momentos da época. Precisamente porque essa é a sua mais exigente competência, porque é a cereja no topo do bolo, porque só resulta depois de exercidas todas as restantes competências: táctica, técnica, planeamento, comportamento e comunicação.
Exigem-se hoje muito mais qualificações aos treinadores. Percebe-se que hoje, como também diz o Prof. Manuel Sérgio,” um treinador que saiba muito de futebol, se só sabe de futebol, nem de futebol sabe”!
Esta equipa do Porto está realmente uma grande equipa porque vive de uma grande crença. De uma grande crença incutida por um treinador que, mesmo muito novo, sabe muito de futebol. Mas que não sabe só de futebol!
Por isso vai igualar o recorde do Benfica e ganhar o campeonato sem derrotas – arrisco mesmo que com apenas dois empates. Por isso chegou à Luz com dois golos de desvantagem e, acreditando, em 12 minutos em que tudo saiu bem, eliminou o Benfica. Por isso ainda agora frente aos espanhóis do Villareal – uma equipa de topo do futebol espanhol – depois de uma primeira parte (recorde-se igualmente a primeira parte do jogo da Luz) em que o adversário lhe foi claramente superior (com muitas ocasiões e com o único golo), acabou por marcar 5 golos, arrumar a questão do apuramento para a final, e atingir o terceiro jogo consecutivo na Europa com chapa 5. E por isso ninguém se lembra nem discute que, por exemplo, o decisivo segundo golo na Luz foi irregular (fora de jogo) e que o terceiro resultou da sorte de um desvio da bola num adversário. Ou que o decisivo primeiro dos 5 golos aos espanhóis surgiu logo no início da segunda parte, mas, mesmo assim, já depois de o adversário ter falhado a oportunidade de fazer o dois a zero, e através de um penalti inexistente! E que logo a seguir veio o 2-1, que levou os espanhóis a partir para a frente com pouca cabeça…
Mais um anglicismo do futebolês, a emprestar-lhe um ar cosmopolita: blackout!
Devo dizer que, em jeito de declaração de interesses, que o Quinta Emenda – cujo essência, como se vê aí em cima, assenta na rejeição do direito de ficar calado – não nutre grande simpatia pelo blackout. Recusar ou negar voz não é muito bem visto por aqui!
O blackout, e não é por obstinada perseguição que o afirmo, deve estar entre as mais estúpidas, contraproducentes, parolas e reaccionárias atitudes do dirigismo do futebol. Num mundo de comunicação, em que quem não aparece não só esquece – quem não aparece desaparece, deixa de existir – impedir os intervenientes no jogo de o promover e alimentar mediaticamente, é parvo, para utilizar um termo em moda.
Há uma tentação ao blackout a que ninguém tem escapado. Não há aqui quem possa atirar a primeira pedra! Entendendo, como é óbvio, que só quem tem voz pode recusar-se a usá-la. E, no futebol, quem tem voz são os ditos três grandes…
O Porto tem sido useiro e vezeiro a deitar mão ao blackout. Ora em blackout absoluto ora em blackout selectivo! Que é como quem diz, ora de bico calado e não há nada para ninguém, ora quando, como nos porcos de Orwell, uns jornais ou umas televisões são mais iguais que outros.
O Porto, acho que deveria dizer Pinto da Costa, usa este recurso na maioria das vezes por birra. Mas também o usa como arma de mobilização e como instrumento de revolta, como diria agora André Vilas Boas, o novo mestre do boné lá da casa e grande partenaire de Pinto da Costa nesta arte de criar inimigos para manter as hostes fiéis e mobilizadas.
Mas Pinto da Costa não usa o blackout de uma forma assim tão parva quanto possa parecer. Por uma razão simples: é que, também aqui, põe e dispõe conforme muito bem entende! “Agora ninguém fala” – e deixa jornalistas e repórteres pendurados. “Agora quero dizer o que me apetece” – e lá vão todos a correr! O blackout segue dentro de momentos…
Consegue assim como que a quadratura do círculo. Não desaparece!
Aparece e desaparece como que por magia! Ou pela parva figura a que a comunicação social se presta.
De resto a comunicação social, quando se trata de Porto (ou de Pinto da Costa, já não sei bem) presta-se a muitas figuras parvas. Como ainda no passado domingo, logo no fim do jogo com o Braga, quando o Vilas Boas encomendou uma pergunta para poder aproveitar o curto período do flash interview a falar do Benfica. A pergunta lá saiu, mas tão atabalhoada, tão sem jeito que até parecia que o repórter cantarolava os Deolinda: “Que parvo que sou”…
Não admira: a comunicação do Porto esgota-se no Benfica. O Pinto da Costa não consegue construir uma frase que não meta o Benfica. Nem a declamar! O Vilas Boas está igualzinho!
O Sporting também já ensaiou o blackout. Mas nem isso lhe sai bem. Desistiu disso como desistiu de tudo o resto…
O Benfica também não foi nisso muito bem sucedido – nem na iniciativa gémea de convidar os adeptos à abstinência nos jogos fora de casa (fora de casa, mais uma expressão do futebolês que por aqui ainda haverá de passar, que não quer dizer na rua - quer dizer, no caso, fora da Luz) – mas tem a vantagem de ter uma televisão própria. Pode dar-se ao luxo de falar só para a sua TV!
Confesso, aqui que ninguém nos ouve, que o Benfica não faria nada mal se declarasse o balckout do Jesus. Então o homem vem dizer que os alemães estavam a tremer de medo? Depois foi o que se viu – uma primeira parte em que eles, com tanto medo, nem deixaram o Benfica respirar. Agora até já é o Javi Garcia a pôr também o Sporting a tremer…
Tenho uma ideia que, essa sim, justificava os exclusivos da Benfica TV: faziam a dobragem do Jorge Jesus com … sei lá … o José Nuno Martins. Não, o João Gabriel também não!
Ah! E aí está o derbi: sem medo, Javi! Estás cá há muito pouco tempo para saberes o que é um Sporting – Benfica… Ninguém tem medo de ninguém e, por regra, ganha quem está pior!
Claro que é regra haver excepção à regra. É o que vai acontecer!
Para o futebolês o jogo aéreo é mesmo o que se joga pelo ar. Não é que se jogue no ar, como poderia parecer!
Daí que equipas fortes no jogo aéreo não sejam as que jogam nas nuvens e muito menos as que andem nas nuvens. Por paradoxal que pareça uma equipa forte no jogo aéreo tem que ter os pés bem assentes no chão. Não pode andar nas nuvens…
O Sporting, por exemplo, queixa-se das suas debilidades no jogo aéreo. Não tem defesas altos e, por isso, sofre muitos golos de cabeça. Também não tem avançados altos e, por isso, marca poucos golos de cabeça: parece que marcou apenas um no campeonato, precisamente no último jogo, pelo seu novo goleador: um tal Zapater. Daí que o seu treinador – Paulo Sérgio – mais pareça um agricultor florestal e ande há meses a reclamar um pinheiro. O que ele tem chorado por um pinheiro!
E depois confunde tudo e acaba por achar mesmo que, andando nas nuvens, resolve o problema do jogo aéreo. Toda a gente sabe que o Levezinho, mesmo que não fosse um pinheiro – era mais uma árvore de Natal – jogava bem de cabeça. E, antes dessa obsessão pelo pinheiro, marcava muitos golos de cabeça. Pelo poder de impulsão, pela movimentação na escolha da melhor de posição, pela agilidade e, até, porque metia a cabeça onde, muitas vezes os outros nem os pés arriscavam a pôr. Além disso era um excelente mergulhador – um verdadeiro especialista a mergulhar para a piscina – coisa que também dá muito jeito para marcar golos de cabeça. Pois aquela gente, cuja cabeça não serve para marcar golos nem para outra coisa, decidiu pôr o Levezinho a andar e devolvê-lo á procedência, dizendo que afinal ele não era nada Levezinho. Que era bem pesadinho … de salário!
Vá lá, desta vez não venderam ao Porto… Parece que a lesão do Falcao é coisa também leve, nada que tivesse obrigado o Porto a acautelar-se. Não fosse isso e logo veríamos o que seria o jogo aéreo do Liedson de novo ao lado do Moutinho…
Mas o negócio é óptimo para os cofres de Alvalade! O que não admira, pois, como sabemos, aquilo é um clube de alta gestão e com incomparável experiência e conhecimento acumulado nas altas esferas da engenharia financeira. Por isso é que somam o valor que recebem pela venda dos direitos de utilização do jogador com o valor que deixam de lhe pagar em salários! Se fosse necessária mais alguma prova da alta competência do Sporting nestas artes da engenharia financeira, ela aí estaria. O ministro das finanças não faria melhor… E aprendeu mais uma para resolver definitivamente o problema do défice: bastar-lhe-ia arranjar uma forma de exterminar os funcionários públicos … Depois era só contabilizar os vencimentos que deixaria de pagar e aí teríamos o país com o maior super havit do mundo!
Os lamentos sportinguistas pelo seu fraco jogo aéreo talvez tenham muito a ver com a eficácia dos adversários nesta vertente do jogo. Ou do adversário: claro que o adversário do Sporting é só um – o Benfica, e mais nenhum! Que não tem os pinheiros do Paulo Sérgio mas tem as suas torres: à frente e atrás. Ainda agora saiu uma – e que torre – logo o David Luiz que, como aqui afirmara no último número, saiu e saiu mesmo para o Chelsea, ao contrário do que então se dizia – mas já lá estava outra para repor o nível. De altura, evidentemente, Porque o outro é mais difícil!
O Porto também está com sérios problemas no jogo aéreo. Mantém, sem surpresas, um alto nível de desempenho no jogo aéreo mas das pedras, em especial no jogo das pedras contra o autocarro do Benfica. São rotinas há muito instituídas e muito bem treinadas e ensaiadas nos vidros das casas do Benfica das redondezas.
No resto tiveram que bater a bola baixa e a tentar explorar o jogo rasteiro. Com tanta convicção que passaram o tempo a mandar-se para o chão. A ver se pegava…Também o treinador – o grande André Vilas Boas – que já andava em bicos de pés e de nariz no ar, foi obrigado a baixar a bola. Agora já o vemos de bolinha baixa, junto à relva! Mas garanto-vos que será por pouco tempo…
Desposicionar tem obviamente a ver com posição. Se a palavra existisse na língua portuguesa – se assim fosse o futebolês não teria sentido a necessidade de a criar e, evidentemente, não estaríamos agora aqui a falar dela – estaria certamente agora a ser objecto de tratamento nessa coisa fantástica, de que ouvi falar esta semana pela primeira vez, chamada de português claro.
Pois é, agora surgiu para aí uma empresa – não é uma Fundação nem uma Associação das tais 14 mil já identificadas e que ninguém consegue exterminar – a pugnar pela utilização de uma linguagem clara e acessível. Claro que é uma ideia vinda do exterior (plain language, certificada por uma Plain Language Comission) e, por isso, já com um fortíssimo lobby. O Diário da República, que bem precisava, já vem com as leis traduzidas para português claro! O que não deixará de desposicionar o sistema judicial…
A tradução de desposicionar de futebolês para português claro diria que se trata de tirar da posição, ou mesmo mudar de posição que, por sua vez, corresponde a deslocação!
Ora aqui está a prova provada da falta que nos fazia este português claro…
O futebol é um jogo de posições e de espaços, de encontros e desencontros. Os jogadores têm posições e espaços a ocupar e, a partir delas, funções a desempenhar. Há o chamado jogador posicional, aquele limita as suas funções a uma determinada zona do campo. Dali não sai. Dali ninguém o tira!
Mas também há a equipa posicional, a que obedece a uma rígida disciplina posicional, onde os jogadores sabem com rigor os espaços que devem pisar. Os que têm de ocupar para os roubar ao adversário e lhe tapar os caminhos que os possam conduzir à sua baliza. Ao adversário cabe-lhe desposicioná-los, arrancá-los das suas posições e espaços para, ao invés, romper acessos em direcção à baliza protegida. Como facilmente se percebe ganha quem, neste jogo do gato e do rato, conseguir enganar o adversário. Quem se não deixar enganar resiste. Quem não conseguir resistir desposiciona-se, perde as suas posições estratégicas e, como em qualquer batalha, é o descalabro.
Tirar da posição e mudar de posição, como tantas outras expressões já aqui trazidas, não é coisa que se limite ao que se passa dentro do campo de jogo. Fora de campo são muitas as mudanças de posição. E muitas as questões de postura. Ou de compostura. De dirigentes a adeptos.
Paulo Bento, com postura e compostura bem diferentes do seu antecessor – o malfadado Queiroz – colocou os jogadores nas suas posições e voltou a posicionar a selecção na rota do europeu da Polónia e da Ucrânia. O que levou Gilberto Madaíl,a mudar de posição e, agora já numa postura de recandidatura, a reivindicar os méritos da escolha do seleccionador.
Vilas-Boas também mudou de posição sobre a arbitragem do jogo de Guimarães: afinal o penalti que tinha visto não passara de “ilusão de óptica”. Quis fazer passar uma postura de elevação de conduta para, na realidade, marcar posição na inesgotável fórmula da pressão alta sobre a arbitragem. A estratégia é clara: inventa-se um prejuízo da arbitragem sem pés nem cabeça para depois reconhecer o engano; capitaliza-se esta posição de humildade para sustentar outras reclamações sem sentido e desvalorizar, colocando-as ao mesmo nível, as que os adversários legitima e justamente reclamam.
Quem não muda de posição é Luís Filipe Vieira, que continua a defender que os adeptos benfiquistas não devem ocupar qualquer espaço nos campos dos adversários. Mal: porque não faz sentido e porque dificilmente será obedecido.
Duríssima terá que ser a posição da UEFA perante os graves incidentes dos hooligans sérvios em Génova, na Itália. O jogo que não chegou a ser, entre a Itália e a Sérvia, de apuramento para o euro 2012, serviu para uma manifestação de hooliganismo a lembrar que o futebol e o crime não podem continuar a conviver. Há uns anos atrás soube tratar-se do problema inglês; agora terá que ser dada uma resposta exemplar que resolva este e evite outros.
E, já agora, seria bom se alguma coisa se aprendesse para tratar do que aqui se passa. Fora e dentro dos estádios … e em todo o território nacional!
É mais um anglicismo! Daqueles que pouco dão nas vistas mas que não deixam de o ser. Não se trata, como toda a gente sabe, de um complemento de identificação. Até porque esse é universalmente apresentado pela abreviatura mr, comum ao mister e ao monsieur, para cobrir toda a cultura europeia dominante dos séculos XIX e XX.
O mister é o treinador, admito que por força da ascendência inglesa no futebol. Com a influência do Brasil o treinador também já é professor.
Em Portugal, com o peso dos jogadores brasileiros – maioritários nas duas ligas profissionais – o treinador já é professor para mais jogadores do que mister.
É também a variante dos títulos a chegar ao futebol português. Se em toda a Europa um advogado ou um economista (ou um engenheiro ou um arquitecto) é Mr (mister ou monsieur) e em Portugal é doutor (ou engenheiro ou arquitecto) porque é que um treinador há-de ser mister?
Enquanto os treinadores foram feitos a partir do futebol, especialmente antigos jogadores, ou mesmo antigos jogadores frustrados, mister ia bem com a coisa. Que muda quando os treinadores começam a sair das academias: primeiro do ISEF, depois Faculdade de Motricidade Humana e posteriormente das inúmeras escolas de desporto espalhadas pelos Institutos Politécnicos. Aí surgem os professores. Mas também a guerra entre velhos e novos, entre misteres e professores!
No primeiro plano do futebol nacional os misteres ganham aos professores. Se bem que em problemas estejam todos muito equilibrados.
No Benfica, Jesus é claramente um mister. Não um gentleman, mas um mister à antiga. Um clássico! E em dificuldades!
As coisas este ano parecem não estar a correr bem. Muito por culpa própria… E não vale a pena falar de arbitragens, e de penaltis por assinalar porque, quando as coisas correm como devem correr, como foi o caso na última época, não é preciso fazer essas contas. Na época passada também ficaram penaltis por assinalar, e não era por isso que o Benfica deixava de ganhar. E de golear!
No Braga, Domingos Paciência é também um mister. Que continua a dar cartas – acaba de deixar o poderoso Sevilha com o credo na boca – e a afirmar-se como um grande treinador, por muito que em certas circunstâncias se distraia. Pode ser que, agora que lá pelo Dragão anda um tipo novo e com alguns anos pela frente, passe a andar menos distraído. Só lhe fará bem!
O jovem que está à frente do Porto não é professor, excepto para os muitos brasileiros que lá estão, porque não teve tempo de ir à escola. Parece que aos quinze anos já andaria a aprender estatística mas por conta própria. Como autodidacta! Mas também não é um mister. Se calhar é simplesmente o André!
Para o caso pouco importa. É um treinador à Porto e o resto não interessa nada! É do Porto desde pequenino, fala e provoca à Pinto da Costa, tem estrelinha e todos os méritos normalmente atribuídos aos treinadores do Dragão, em particular as simpatias das arbitragens. Quando os jogos estão complicados arranja-se sempre um penalti para os desbloquear. Daqueles que, depois, se diz que levantam polémica. Mas pouca, passa logo! E não é só por cá, ainda ontem na Bélgica foi assim! E, claro, quando há daqueles que toda a gente vê dentro da sua área, o árbitro, sempre simpático, é o único que não vê.
Com um treinador destes pouco importa se é mister ou professor!
Novo e mister – o que parecia começar a ser uma raridade – é também Paulo Sérgio, treinador do Sporting. Também ele a braços com sérios problemas – agravados com a derrota de ontem, que afasta a equipa da Europa mesmo antes de lá entrar – entre eles alguns no aparelho auditivo. Aqueles assobios vão deixar mossas. Ai vão…vão!
Mas também no aparelho respiratório, tão entalado está entre o Costinha e o Maniche!
Professor, sem sombra de dúvidas, é Carlos Queiroz, o ainda seleccionador nacional. Ou melhor, o suspenso seleccionador nacional. Uma suspensão de um mês ontem confirmada pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), depois de anunciada na véspera, ainda antes da reunião do Conselho de Disciplina da FPF que tomou a decisão! Uma suspensão por causa de uns palavrões impróprios para um professor. E que vão muito para além do vernáculo que Pinto da Costa (olha quem!) declara socialmente aceitável.
Como é a própria FPF a impedir o seleccionador de dirigir a selecção nos dois primeiros jogos de apuramento para o próximo campeonato da Europa – o que é inédito e verdadeiramente surrealista – pode concluir-se que entende que Queiroz não faz falta nenhuma.
Há muito boa gente a pensar o mesmo! Mas então por que o contratou? E por que o contratou por tanto dinheiro? E por tanto tempo?
E, com mais um processo disciplinar – agora pela cabeça do polvo – que condições restam ao professor para continuar mister da selecção nacional?
E à direcção da FPF, onde segundo o professor, está mesmo a cabeça do polvo?
Aproveitem todos para ir embora. Depressa!
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